Psicologia do Ego Como muitos outros europeus Perseguidos durante a segunda grande guerra, também o austríaco Heinz Hartman migrou para os Estados Unidos, onde juntamente com Rudolph Loewenstein, Ernest Kris, Erik Erickson e David Rapaport fundou a Psicologia do Ego. Ao lado do Neofreudismo, do Culturalismo, do Annafreudismo, da Escola de Chicago e da Psicologia do Self, a Psicologia do Ego, é uma das grandes correntes da história do freudismo norte americano e a principal corrente da Escola de Nova York. Seus autores fundamentaram-se nos últimos trabalhos de Freud, particularmente a partir da estrutura tripartite da mente – Id, Ego e Superego – e também se alicerçaram nos trabalhos de Anna Freud referente às funções do Ego. A Psicologia do Ego tem em comum com todas as outras correntes psicanalíticas norte americanas, o fato de ter sido fundamentada na ideia de uma possível integração do homem numa sociedade ou numa comunidade. Ela não é uma imitação do “American way of life”, mas visa à adaptação de qualquer sujeito na sociedade. De maneira geral o freudismo norte-americano privilegia o Ego, o self ou o indivíduo em detrimento do Id e do inconsciente, fundamentada na noção de profilaxia social ou de higiene mental. Enquanto Freud afirmou a primazia do inconsciente sobre o consciente e provocou uma reviravolta no campo de estudo das pulsões com a introdução da pulsão de morte, os partidários da Psicologia do Ego sustentam uma postura que vai a sentido contrário a esse descentramento. Segundo essa teoria, o Ego se torna autônomo ao controlar suas pulsões primitivas, o que lhe permite controlar a sua independência frente à realidade externa. Em boa parte devido ao espírito americano, os postulados desta escola germinaram com muito vigor, como os de Edith Jacobson com os seus trabalhos que descrevem a existência de um self psicofisiológico, além de uma abordagem das primitivas relações objetais que estabeleceram uma significativa aproximação com os teóricos das relações objetais. Baseados nas ideias dessa autora, os psicólogos do Ego deram um decisivo o na estruturação da ideologia dessa escola a partir dos trabalhos mais recentes de pesquisa de Margareth Mahler e colaboradores. Essa autora estabeleceu os sucessivos os na evolução neurofisiológica da criança acompanhada das respectivas etapas de crescimento mental e emocional. Assim, ela descreveu as seguintes fases, com as respectivas subfases: autismo normal, seguido da simbiose normal, ando pela progressiva saída da indiferenciação com a mãe através da etapa de individuação e separação (com as subetapas de diferenciação, treinamento relativo à exploração do mundo externo e a de afastamento e reaproximação), até chegar à quarta etapa, que consiste na obtenção de uma constância objetal emocional com uma consolidação do self e da individuação.
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Também é justo destacar na psicanálise norte-americana o nome de Otto Kernberg, cujo pensamento psicanalítico representa ser uma verdadeira ponte entre os psicólogos do Ego e os teóricos das relações objetais, sendo que esse autor vem se notabilizando por importantes trabalhos, sobre as organizações narcisistas da personalidade, mais particularmente os estados borderline. Assim a Psicologia do Ego contorna a pulsão de morte, ao mesmo tempo em que torna a centrar o inconsciente no pré-consciente. Quanto ao conceito de transferência, também ele sofre modificações, já que na análise, o terapeuta do Ego deve ocupar o lugar do Ego for-te com o qual o paciente quer se parecer a fim de conquistar sua autonomia egóica. No plano técnico, traduz-se no privilégio feito pela análise das resistências, em detrimento da interpretação dos conteúdos. De uma forma muito simplificada, cabe assinalar as seguintes contribuições provindas desta escola: Valorização do estudo das funções mentais processadas pelo Ego, como afetos, memória, percepção, conhecimento, pensamento, ação motora, etc. Uma aproximação com outras disciplinas como a medicina, biologia, educação, antropologia e psicologia em geral.
Ênfase nos processos defensivos do Ego, em particular aqueles que se referem à neutralização das energias pulsionais sexuais agressivas, assim valorizando um enfoque econômico da psicanálise. Até Hartman, as noções de Ego e self estavam muito confusas entre si; devemos a esse autor uma mais clara diferença conceitual entre o Ego como instância psíquica encarregada de funções, e self como um conjunto de representações que determinam o sentimento de si mesmo. A principal tarefa do Ego é a de uma adequada adaptação (não confundir com conformismo ou submissão), promovendo soluções adaptativas entre as demandas pulsionais e as imposições da realidade, muito particularmente com uma boa utilização da capacidade de síntese e de integração por parte do Ego. Os conceitos de autonomia primária e secundária do Ego, os quais aludem a uma área livre de conflitos e uma livre utilização das energias que estão à disposição do Ego para fazer frente às exigências do Id e do Superego. Assim, o Ego é concebido como uma estrutura que, por sua vez, contém certo número de subestruturas, sendo que nem toda a energia do Ego provém do Id como afirmava Freud, mas sim, que parte dela é primária e autônoma.
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O conceito de regressão a serviço do Ego é original de Kris, possibilita o atendimento da criatividade artística, assim como também dos estados mentais do analisando. Mais diretamente em relação à técnica e a prática da psicanálise, no mínimo devem ser mencionadas as seguintes contribuições por parte de diversos representantes dessa escola:
A noção de R. Sterba a respeito da dissociação do Ego como um processo terapêutico; Um importante interesse pelas defesas e pelos fenômenos que se am no préconsciente; A observação direta de bebês e de criancinhas, pelos estudos de R. Spitz e M. Mahler; As reconhecidas postulações de E. Zetzel acerca dos critérios de analisabilidade e, principalmente, do estabelecimento de uma aliança terapêutica.
Bibliografia: Dicionário de psicanálise – Elizabeth Roudinesco e Michel Plon – Rio de Janeiro, RJ – Jorge Zahar Editor, 1998. Fundamentos Psicanalíticos – David E. Zimerman – Porto Alegre, RS – Artmed, 1999.
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