Psicologia do Trânsito
O trânsito, enquanto deslocamento de pessoas e veículos nas vias (ROZESTRATEN, 1988), surgiu em função da necessidade do ser humano se locomover, trocar mercadorias, comercializar produtos, intercambiar conhecimentos, tecnologias e cultura, aspectos essenciais que possibilitam nossa sobrevivência e favorecem o desenvolvimento em sociedade. Todavia, esse deslocamento de pessoas e veículos também trouxe sérias conseqüências negativas, sendo a mais séria delas os acidentes de trânsito. Começa-se, então, a cogitar a possibilidade de utilização de vários conhecimentos científicos, e dentre eles a psicologia, para minimizar essas trágicas ocorrências. A denominada psicologia do trânsito nasce, então, da necessidade de tornar o trânsito mais seguro, contribuindo para o bem estar das pessoas em seus deslocamentos (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2000; ROZESTRATEN, 1981, 1988). Este tipo de Psicologia estuda, portanto, o comportamento dos pedestres - de todas as idades, do motorista amador e profissional, do motoqueiro, do ciclista, dos ageiros e do motorista de coletivos, e num sentido mais largo ainda, de todos os participantes do tráfego aéreo, marítimo, fluvial e ferroviário. De modo geral, no entanto, a Psicologia do Trânsito se restringe ao comportamento dos usuários das rodovias e das redes viárias urbanas. Este comportamento, aparentemente simples, é na realidade bastante complexo. Ele pode incluir processo de atenção, de diferenciação e de percepção, o processamento de informações, a memória a curto e em longo prazo, a aprendizagem e o conhecimento de normas e de símbolos, a motivação, a tomada de decisões, de manobras rápidas e uma capacidade de reagir prontamente, a previsão de situações em curvas, em cruzamentos e em lombadas, e também, uma série de atitudes em relação aos outros usuários, aos inspetores, às normas de segurança, ao limite de velocidade, etc. Uma análise detalhada da tarefa do condutor de veículos revela uma infinidade de fatores, cada um dos quais pode ser importante para evitar um acidente, merecendo, portanto, ser assunto de um estudo aprofundado. A resposta à pergunta "para que serve" é um pouco mais complexa: •
Em primeiro lugar, serve para conhecer toda a gama de comportamentos neste tipo de
situações, comportamentos individuais e sociais, contribuindo para um melhor conhecimento do homem.
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Em segundo lugar, o estudo dos diversos fatores perceptivos, cognitivos e de reação
podem contribuir para melhorar por um lado a situação da estrada e da sinalização rodoviária e urbana, e por outro lado pode aperfeiçoar os veículos, permitindo maior visibilidade, melhor e colocação mais eficiente dos comandos, gerando como consequência, a diminuiçao da enorme quantidade de acidentes nas estradas. •
Em terceiro lugar, ela pode dar as diretrizes educacionais, sugerindo recursos mais
eficientes para o ensino. A metodologia não difere essencialmente daquela usada nas outras áreas de Psicologia, ou seja, ao lado de muitos estudos experimentais, realizados em laboratórios, tem sido desenvolvidos numerosos estudos observacionais feitos nas rodovias e nos cruzamentos urbanos, além de análises pormenorizadas dos casos de acidentes, uso de simuladores e de veículos de pesquisa equipados com todos os registradores possíveis de movimentos e modificações fisiológicas durante a direção do mesmo. Inicialmente, o papel do psicólogo do trânsito foi pautado unicamente na utilização da avaliação psicológica para candidatos à Carteira Nacional de Habilitação, a partir das décadas de 1980 e 1990, essa função começa a ar por processos de revisões e atualizações. Nessa nova concepção, o psicólogo do trânsito é visto como um profissional polivalente, capaz de atuar nas áreas de educação, engenharia e fiscalização, intervindo no sistema do trânsito de forma eficiente (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2000). Em conseqüência disso, o trabalho deste profissional tem sido direcionado a uma atuação ampla, conectada a outros campos do saber, com incremento de ações nas áreas da educação no trânsito, na prevenção de acidentes, na capacitação da equipe técnica e mesmo no atendimento a usuários. A avaliação psicológica a então a ser uma das possibilidades de atuação do psicólogo do trânsito, e com isso abrem-se novos espaços para a realização de outras atividades, como, por exemplo, a elaboração de pesquisas no campo dos processos psicológicos/psicossociais/psicofísicos; colaboração na elaboração/implantação de ações de engenharia e operação de tráfego, etc. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2000; ROZESTRATEN, 1988; SILVA; HOFFMANN; CRUZ, 2003). BIBLIOGRAFIA PSICOLOGIA: CIÊNCIA E PROFISSÃO = VOL. 1 No 1 - JANEIRO 1981
PSICOLOGIA DO TRÂNSITO; O QUE É E PARA QUE SERVE w.w.w. pol.org.br(Psicologia on line) Artigo: Psicologia e Trânsito: compromisso social com a mobilidade humana Ricardo Figueiredo Moretzsohn, psicólogo, ex-presidente do Conselho Federal de Psicologia, membro titular da Câmara Temática de Saúde e Meio Ambiente do Conselho Nacional de Trânsito. e Gislene Maia Macedo, psicóloga, coordenadora da Divisão de Educação para o Trânsito da cidade de Fortaleza/CE. membro titular da Câmara Temática de Educação e Cidadania do Contran