Pedro Costa Santos www.pedrosantos.eu
[email protected] 23 de Fevereiro de 2010
SEMINÁRIO “CINEMATOGRAFIA” COM FRANCISCO VIDINHA Seminário decorrido nos dias 22 e 23 de Janeiro de 2010 no estúdio da ESAP, inserido na cadeira de Processo Criativo no Meio Audiovisual, leccionada pelo Prof. M. F. Costa e Silva.
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CREDIBILIDADE.
A fotografia cinematográfica resume‐se a isto: à credibilidade. A preocupação de um Director de Fotografia ou de um Cinematografer é dar ao espectador a sensação de que todo o ambiente narrativo em que se encontra é real, ou pelo menos, credível, ível de ser real. Essa magia é conseguida através da iluminação, a não iluminação (sombra), filtros, reflexos, entre outros. Apesar de semelhantes, estes dois cargos têm uma pequena diferença que se resume à fase de entrada no projecto cinematográfico. O Cinematografer insere‐se na fase de pré‐produção pois envolve‐se em diferentes áreas de actuação como o guarda‐ roupa, maquilhagem, cenários, etc. para que tudo funcione como um todo. Já o Director de Fotografia não tem de se preocupar com todos estes assuntos, sendo deixada essa responsabilidade para o Realizador que negociará com os respectivos departamentos. Devido às próprias diferenças inerentes entre cinema e televisão, trabalhar para cada um destes formatos é bastante diferente na óptica do Director de Fotografia. É mais difícil trabalhar para cinema pois, por norma, utiliza apenas uma câmara (a não ser em situações especiais como cenas de alta densidade dramática ou com bastantes efeitos especiais), obrigando a que a iluminação seja criada cena a cena. Já na televisão, é possível criar uma dada iluminação para cada um dos quadros e controlar através de uma mesa a iluminação a utilizar no momento. Uma outra temática abordada foi a de filmagem a Preto e Branco (P&B). Neste tipo de rodagem, é necessário que o Director de Fotografia tenha em atenção nas cores a utilizar, usando um elevado contraste para que as cores não se fundam umas com as outras. Ao nível do guarda‐roupa, por exemplo, apesar de as cores serem diferentes, se o nível de intensidade de uma determinada cor for igual a outra, visto estar a filmar a P&B, as cores têm tendência para se fundirem, correndo o risco de uma personagem se unir a outro ou até mesmo se unir ao cenário. A vida quotidiana está povoada de novos tecnologias e de Gadgets às quais nem o cinema escapa. Francisco Vidinha mostrou‐ nos que o seu iPhone é uma ferramenta indispensável de trabalho devido às aplicações que adquiriu para poder controlar a luz solar: a possibilidade de poder saber a que horas é que o sol se encontra numa determinada posição ou vice‐ versa e a sua inclinação face ao solo. Os dois programas demonstrados, um deles o “Helios Sun Calculator”, funcionam em pleno devido às próprias características técnicas do iPhone, ou seja, a leitura do seu campo gravítico. De uma forma mais “tradicional” também é possível antever tudo isto através de uma página de Internet (www.suntools.com), onde se fornecermos a posição onde queremos filmar nos dará todas estas informações.
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Nem só de iluminação vive o director de fotografia. Se existe luz, tem de haver sombra. Tal como foi dito no início deste relatório, a fotografia de um filme vive de mãos dadas com a credibilidade e assim sendo, as sombras são um ponto importante. A posição do ponto de luz determina não só a direcção da sombra mas também a sua forma, mais concretamente, se a luz for proveniente do sol, devido à sua distância da Terra, a sombra torna‐se mais esbatida e menos marcada (em degradé). Se a luz for artificial, a sua proximidade com a personagem é menor, tornando assim a sombra recta e praticamente sem inclinação (sombra riscada). Este ponto é importante visto que é a sombra que dá ao espectador a noção de volumetria. Para melhor compreender o seu trabalho, Francisco Vidinha utilizou alguns filmes para fazer uma análise do trabalho de Fotografia, nomeadamente: • “Dogville” (2003) – direcção de fotografia: Anthony Dod Mantle Este exemplo foi dado sobretudo por causa da iluminação utilizada. Difere dos outros filmes apresentados pois utiliza uma iluminação típica teatral. As fontes de luz são totalmente assumidas perante elementos do cenário como por exemplo a lua. Com este tipo de iluminação, o director de fotografia conseguiu que tudo fosse controlado através de uma mesa de mistura, estilo semelhante ao utilizado no formato televisivo, como foi referido anteriormente. • “Dodeskaden” (1970) – direcção de fotografia: Takao Saitô Nas suas cenas de interiores, este filme é importante para as questões relacionadas com o posicionamento da câmara e dos elementos de iluminação. O director de fotografia teve de lidar com espaços pequenos, tornando‐se um problema sobretudo para o posicionamento do corpo da câmara. A nível da colocação de elementos de iluminação, estes tiveram de ser colocados por detrás da câmara por não existir mais espaço disponível. • “Jimmy Dean” (1982) – direcção de fotografia: Pierre Mignot Este filme é interessante ao nível da realização e possivelmente mais interessante ao nível da direcção de fotografia. Existem, na verdade, duas lojas e a acção vai‐se desenrolando nos dois espaços, sendo que no fim os dois espaços são utilizados em simultâneo. O uso da segunda loja tem como objectivo o recurso a um flashback, situação essa que é compreendida através da utilização de temperaturas de cor diferentes: a loja espelhada – ado – tem uma temperatura de cor mais fria e é representada com chuva, ao o que na loja da vida real – presente – as temperaturas de cor são mais elevadas e o dia é solarengo. Outro aspecto importante ao nível da iluminação é o recurso a uma luz justificada que faz com que a sombra seja mais recta, tal como acontece quando nos encontramos no interior de uma habitação. • “Whatever Works” (2009) – direcção de fotografia: Harris Savides O ponto forte deste filme de Woody Allen é a presença de cenas que decorrem durante o dia e outras durante a noite. No entanto, estas variações são feitas de forma subtil, mais concretamente através do uso de mais luz para as cenas de
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noite, fechando o diafragma da câmara e utilizando filtros de densidade neutra na mesma. Outro dos pontos importantes é a filmagem no exterior em que Savides utiliza uma butterfly, uma frame para tapar o sol que permite que a zona de filmagem não fique com uma elevada quantidade de iluminação solar. O ponto alto deste seminário foi atingido quando Francisco Vidinha propôs a execução de um exercício prático. Este exercício consistiu em simular a filmagem de um plano em que a personagem se encontrava sentada à janela, com o sol a entrar pela janela indirectamente. Tudo isto foi possível devido ao uso de um filtro alaranjado colocado na janela, um ponto de luz que não se encontrava apontado directamente à personagem e ao uso de uma butterfly para tapar a iluminação solar que incidia por cima da personagem. Em jeito de conclusão, este seminário foi uma experiência enriquecedora para mim pois nunca tive o com um ambiente de rodagem. Também permitiu que ganhasse noção do papel do director de fotografia bem como de todos os materiais utilizados para que se atinja um mais nível de credibilidade.