O Jogo infantil segundo Piaget
Muito embora a importância dos jogos e brincadeiras tenha hoje em dia o seu valor pedagógico, os estudos sobre o tema foram em sua grande parte influenciados por Piaget e sua obra nos anos 70. As etapas de desenvolvimento das crianças dentro da concepção de Piaget são de extrema valia para o entendimento da atividade lúdica e seus efeitos na infância. Os períodos de desenvolvimento são: • Período sensório-motor (0 a 2 anos): o desenvolvimento ocorre a partir da atividade reflexa para a representação e soluções sensóriomotoras dos problemas • Período Pré-Operacional (2 a 7 anos): aqui o desenvolvimento ocorre a partir da representação sensório-motora para as soluções de problemas e segue para o pensamento pré-lógico • Período Operacional Concreto (7 a 11 anos): O desenvolvimento vai do pensamento pré-lógico para as soluções lógicas de problemas concretos • Período de Operações Formais (11 a 15 anos): A partir de soluções lógicas de problemas concretos para asa soluções lógicas. Desta maneira, podemos observar que o desenvolvimento é contínuo, pois cada desenvolvimento subseqüente baseia-se no desenvolvimento anterior incorporando-o e transformando-o (WADSWORTH, 1984). Neste artigo, vamos nos deter ao período pré-operacional, pois é o que engloba as crianças que se situam na etapa pré-escolar, alvo do tema. Neste período, Piaget o divide em Estágio Egocêntrico (2 a 4 anos) e em Estágio Intuitivo (5 a 7 anos). Neste período, ocorre um rápido desenvolvimento da linguagem falada, o pensamento é dominado pela percepção, é pré-lógico, o egocentrismo é muito forte até os 4 anos, para as crianças não existe outro ponto de vista que não o seu, é difícil para as crianças desta idade aceitarem outros argumentos. Após a compreensão dos períodos de desenvolvimento, voltemos aos jogos e brincadeiras. Para Piaget (1978), o jogo infantil é dividido em três fases distintas: jogos de exercício, simbólico e com regras. O jogo com exercício ocorre na primeira infância, surge por volta dos 18 meses de vida e são manifestações de repetições motoras que oferecem um certo prazer para os bebês, são resultados de suas ativas movimentações e resume quase que exclusivamente a manipulações, oferecidas pela descoberta do potencial das mãos. Depois de um ano de vida estas movimentações perdem seu valor e através de combinações das ações dos membros
superiores am a se transformar em uma nova etapa dos jogos de exercício, a construção. Após este período, aproximadamente entre 2 a 4 anos, surgem os jogos simbólicos, ou faz-de-conta, são exercícios onde a criança utiliza sua imaginação, primeiramente de forma individual, para representar papéis, situações, comportamentos, realizações, utilizar objetos substitutos (por exemplo, uma espiga de milho pode se transformar em uma boneca). A última fase em que Piaget classifica os jogos, são os jogos com regras (a partir de 5 anos). Aqui as crianças am do individual e vão para o social, os jogos possuem regras básicas e necessitam de interação entre as crianças, são resultados deste tipo de jogo a aprendizagem de regras de comportamento, respeito às idéias e argumentos contraditórios e a construção de relacionamentos afetivos. O jogo e a formação da moral na criança Através dos jogos com regras, citados no tópico anterior, segundo Piaget (1978), as atividades lúdicas atingem um caráter educativo, tanto na formação psicomotora, como também na formação da personalidade das crianças. Assim, valores morais como honestidade, fidelidade, perseverança, hombridade, respeito ao social e aos outros são adquiridos. Os jogos com regras são considerados por Piaget (1978) como uma ferramenta indispensável para este processo. Através do contato com o outro a criança vai internalizar conceitos básicos de convivência. A brincadeira e os jogos permitem uma flexibilidade de conduta e conduz a um comportamento exploratório até a consecução do modelo ideal de se portar com o próximo, resultado de experiências, conflitos e resoluções destes (Bruner, 1968). Para Vygotski (1989), há dois elementos importantes na atividade lúdica das crianças no que se refere aos jogos com regras: o jogo com regra explícita e o jogo com regras implícitas. O primeiro destes fatores são as regras préestabelecidas pelas crianças e que a sua não realização é considerada uma falta grave, por exemplo, em um jogo de pega pega quem for tocado pelo pegador a a ser o perseguidor, isto direciona a criança a seguir regras sociais já estabelecidas pelo mundo dos adultos. O outro segmento são regras que não estão propriamente ditadas, mas entende-se que são necessárias para o seguimento do jogo, no exemplo citado acima, não se coloca que as crianças não podem sair do local da brincadeira (como exemplo, uma quadra), portanto as regras implícitas oferecem a criança uma noção de entendimento às regras ocultas, mas necessárias. O papel da ética nos jogos e brincadeiras A palavra ética significa a busca de uma boa "maneira de ser". Segundo Badiou (1995), para os modernos, ética é como um sinônimo de moralidade, já Hegel, demonstra uma diferença entre ética e moralidade, ao princípio ético ele reserva a ação imediata, enquanto a moralidade se refere à ação refletida. Ainda se referindo a Badiou (1995), a ética consiste em preocupar-se com os direitos do homem, os direitos do ser vivo, fazer com que eles sejam respeitados. Ou ainda, "a ética é o reconhecimento do outro" (Badiou, 1995, p. 15), portanto, nas brincadeiras com regras, as crianças começam a exercer esta ética, pois precisam reconhecer o outro para poderem participar, devem respeitar noções básicas de convivência para o bom andamento da atividade
lúdica. A respeito do conceito de ética, Oliveira (1997) se posiciona: (...) ética diz respeito a consensos possíveis e temporários entre diferentes agrupamentos sociais, que, embora possuam hábitos, costume e moral diferente, e mesmo divergindo na compreensão de mundo e nas perspectivas de futuro, às vezes conseguem estabelecer normas de convivência social relativamente harmoniosa em algumas questões. Estes consensos e ligações com outras crianças de outros grupos sociais são o que vai produzir na criança, durante os jogos e as brincadeiras o saber conviver com as diferenças, com outras formas de cultura, hábitos, costumes e crenças. Mas afinal, qual seria a distinção entre ética e moral? De acordo com Segre (Ética, ciência e saúde, vários autores, 2001), "a ética é o que vem de dentro, enquanto que a moral é algo cultural, que vem de fora, que é muito mais resultado da influência de uma sociedade do que do pensar individual". Mas, é correto afirmar que a ética está sempre interagindo com a moral. Assim, chegamos a conclusão que a criança possui sua ética, sua bagagem sócio-cultural, sua história como pessoa, mas, a sua moral é adquirida; e, a brincadeira e os jogos infantis, exercem um importante fator de influência para esta aquisição moral, haja vista que, atividade lúdica é a mais prazerosa pra os pequenos, é a principal atividade da criança (não aquela em que dedica mais tempo, mas sim, aquela em que mais se desenvolve). Desta maneira, podemos fazer uma integração entre a ética, o brincar e o jogar, pois se a ética é o cumprimento dos direitos das pessoas, e o brincar é um direito infantil assegurado na Declaração dos Direitos da Criança e na Constituição Federal, então a afirmação: brincar e jogar são éticos, está correta.
AFETIVIDADE NA TEORIA DE JEAN PIAGET 2005 RESUMO A afetividade exerce um papel fundamental nas correlações psicossomáticas básicas, além de influenciar decisivamente a percepção, a memória, o pensamento, à vontade e suas ações, e ser um componente essencial da harmonia e do equilíbrio da personalidade humana. Nas relações interpessoais, o aspecto afetivo refere-se aos diversos afetos interindividuais e o elemento intelectual ou estrutural ressalta da tomada de consciência das relações interindividuais e resulta na constituição de estruturas de valor. Palavras-chave: afetividade; inteligência, moral, aprendizagem
1. INTRODUÇÂO Piaget estabelece uma importante visão nas dimensões afetivas e cognitivas no campo da ação moral. Segundo o teórico, toda a ação remete a um "fazer", a um "saber fazer" e a dimensão afetiva que corresponde ao "querer fazer", sendo assim, as dimensões cognitiva e afetiva, aparecem em seus postulados teóricos como indissociáveis. Piaget inicia a apresentação dos seus estudos sobre as relações entre afetividade e inteligência, integra os aspectos afetivos à formação e estruturação da inteligência na criança, revelando a dupla face, (cognitiva e afetiva) no desenvolvimento psicológico. Para compreender o papel das emoções na teoria psicogenética de Piaget, faz-se necessário considerar e refletir sobre a associação que Piaget estabelece entre gênese da moral na formação da personalidade. É bom lembrar que para o teórico, a afetividade, não se restringe somente às emoções aos conhecimentos, mas engloba também as tendências e a vontade. Contudo, o conceito de juízo moral na teoria de Piaget, assume o papel relevante nos estudos pretendidos neste trabalho, visto que, encontramos em sua teoria menção às tendências que motivaram a criança na aquisição do juízo moral. Percebe-se a importância atribuída à afetividade no desenvolvimento da inteligência dentro dos postulados Piagetianos. 2. BIOGRAFIA - JEAN PIAGET – 1896 -1980 2.1 UM PIONEIRO NO ESTUDO NA INTELIGÊNCIA INFANTIL Jean Piaget, foi um renomado psicólogo e filósofo suíço, conhecido por seu trabalho, pioneiro no campo da inteligência infantil. Piaget ou grande parte de sua carreira profissional interagindo com crianças e estudando seu processo de raciocínio. Seus estudos tiveram grande impacto sobre os campos da psicologia e da pedagogia. 2.2 SUA VIDA Jean Piaget nasceu no dia 09 de agosto de 1896, em Neuchâtel, na Suíça. Seu pai, um calvinista convicto, era professor universitário de literatura medieval. Piaget foi um menino prodígio. Interessou-se por história natural ainda em sua infância. Aos 11 anos de idade, publicou seu primeiro trabalho sobre a observação de um pardal albino. Esse breve estudo é considerado o início de sua brilhante carreira cientifica. Aos sábados. Piaget trabalhava gratuitamente no Museu de História Natural. Piaget freqüentou a Universidade de Neuchâtel, onde estudou biologia e filosofia. E recebeu seu doutorado em biologia em 1918, aos 22 anos de idade. Após formar-se, Piaget foi para Zurich, onde trabalhou como psicólogo experimental. Lá ele freqüentou aulas lecionadas por Jung e trabalhou como psiquiatra em uma clinica. Essas experiências influenciaram-no em seu trabalho. Ele ou a combinar a psicologia experimental – que é um estudo formal e sistemático - com métodos informais de psicologia: entrevistas, conversas e análises de pacientes. Em 1919, Piaget mudou-se para a França onde foi convidado a trabalhar no laboratório de
Alfred Binet, um famoso psicólogo infantil que desenvolveu testes de inteligência padronizados para crianças. Piaget notou que crianças sas da mesma faixa etária cometiam erros, semelhantes nestes testes e concluiu que o pensamento se desenvolve gradualmente. O ano de 1919 foi o marco de sua vida. Piaget iniciou seus estudos experimentais sobre a mente humana e começou a pesquisar também sobre o desenvolvimento das habilidades cognitivas. Seu conhecimento de biologia levou-o a enxergar a desenvolvimento cognitivo de uma criança como sendo uma evolução gradativa. Em 1921, Piaget voltou a Suíça e tornou –se diretor de estudos do Instituto J.J. Rousseau da Universidade de Genebra. Lá ele iniciou o maior trabalho de sua vida, ao observar crianças brincando e registrar meticulosamente as palavras, ações e processos de raciocínio delas. Em 1923, Piaget casou-se com Valentine Châtenay com quem teve 3 filhos. As teorias de Piaget foram, em grande parte, baseadas em estudos e observações de seus filhos que ele realizou ao lado de sua esposa. Enquanto prosseguia com suas pesquisas e publicações de trabalhos, Piaget lecionou em diversas universidades européias. Registros revelam que ele foi o único suíço a ser convidado a lecionar na Universidade de Sorbonne (Paris,França), onde permaneceu de 1952 e 1963. Até a data de seu falecimento, Piaget fundou e dirigiu o Centro Internacional de Epistemologia Genética. Ao longo de sua brilhante carreira., Piaget escreveu mais de 75 livros e centenas de trabalhos científicos. Piaget morreu em Genebra, em 17 de setembro de 1980. 2.3 TEORIA – BREVE HISTÓRICO – JEAN PIAGET 2.3.1 Pressupostos Básicos de sua Teoria: O Interacionismo, a Idéia de Construtivismo Seqüencial e os Fatores que interferem no Desenvolvimento A criança é concebida como um ser dinâmico, que a todo momento interage com a realidade, operando ativamente com objetos e pessoas. Essa interação com o ambiente faz com que construa estruturas mentais e adquira maneiras de fazê-las funcionar. O eixo central, portanto, é a interação organismo-meio e essa interação acontece através de dois processos simultâneos: a organização interna e a adaptação ao meio, funções exercidas pelo organismo ao longo da vida. A adaptação definida por Piaget, como próprio desenvolvimento da inteligência, ocorre através da assimilação e da acomodação. Os esquemas de assimilação vão se modificando, configurando, os estágios de desenvolvimento. Considera-se, ainda, que o processo de desenvolvimento influenciado por fatores como: maturação (crescimento biológico dos órgãos), exercitação (funcionamento dos esquemas e órgãos que implicam na formação dos hábitos), aprendizagem social (aquisição de valores, linguagem, costumes e padrões culturais e sociais) e equilibração (processo de auto-regulação interna do organismo, que se constitui na busca sucessiva de reequilibrio após cada desequilíbrio sofrido).
3. O DESENVOLVIMENTO AFETIVO SEGUNDO PIAGET A busca e descrição das estruturas ou formas de organização da inteligência são o núcleo da teoria de Piaget, a epistemologia genética e o método clínicocrítico de investigação. Piaget pouco escreveu sobre a afetividade, não que não tenha considerado essa dimensão como importante para o estudo da inteligência e do desenvolvimento psicológico. Este trabalho pretende apresentar as considerações de Piaget sobre o tema do desenvolvimento afetivo, em suas relações com o desenvolvimento da inteligência, a importância atribuída à afetividade para o desenvolvimento psicológico. A psicologia do desenvolvimento tem como base a epistemologia genética. O autor defende a tese da correspondência entre as construções afetivas e cognitivas, ao longo da vida do indivíduo, e parte para as relações entre a afetividade, inteligência e a vida social para explicar a gênese da moral. Em sua obra, também se refere sobre sexualidade infantil, o auto-erotismo, o narcisismo e as relações entre consciente e inconsciente. Discorre sobre o papel dos pais para o desenvolvimento da sexualidade. Demonstrou afinidade com as teorias de Adler sobre a vontade de crescer como impulsionadora do desenvolvimento. Sobre isso, articula os aspectos afetivos e intelectuais da criança ao julgamento moral, às relações de rebeldia ou obediência e aos sentimentos de ternura e temor. Sua tese sobre as relações entre afetividade e inteligência, é de que ambos estão indissociáveis e integradas ao desenvolvimento psicológico, não sendo possível ter-se duas psicologias, uma da afetividade e outra da inteligência, para explicar os comportamentos. O autor apresenta a questão da gênese da moral, como a criança constrói sua escala de valores, ideais e sentimentos morais. A inteligência e a afetividade são diferentes em natureza, mas indissociáveis em sua conduta concreta, não há conduta unicamente afetiva, assim como não existe uma conduta unicamente cognitiva. A afetividade interfere constantemente acelerando ou retardando esse processo.
na
inteligência,
estimulando,
A afetividade não se restringe às emoções e aos sentimentos, mas engloba também as tendências e a vontade. O termo funções afetivas, lembra sua natureza seletiva em virtude da afetividade. Sobre as emoções primárias, refere-se a Wallon e seu estudo sobre o medo do recém-nascido, ligada a uma sensação proprioceptiva: a perda do equilíbrio. Quanto aos sentimentos mais evoluídos, eles seriam mais ligados a elementos cognitivos. Piaget retorna a idéia de que toda conduta visa a adaptação, sendo que o desequilíbrio trraduz uma impressão afetiva particular. Para ele, as formas só
podem ser concebidas em seu dinamismo de maneira relacional e genética. As operações intelectuais tendem a formas de equilíbrio das quais a mais importante é a reversibilidade. Piaget diz que a inteligência e afetividade são de natureza diferentes, a energética da conduta vem da afetividade e as estruturas vêm das funções cognitivas, engloba ao mesmo tempo, o sujeito, os objetos e as relações entre o sujeito e o objeto. Apresenta um paralelo entre o desenvolvimento afetivo e o desenvolvimento da inteligência, tendo como referência a sua teoria genética da inteligência e colocando de lado as construções cognitivas e afetivas. 4. A CONSTRUÇÃO DA AFETIVIDADE EM CADA UMA DAS FASES De acordo com a teoria de Piaget o desenvolvimento intelectual é considerado como tendo dois componentes: o cognitivo e o afetivo. Embora nem sempre seja focalizado por psicólogos e educadores, o desenvolvimento afetivo se dá paralelamente ao cognitivo e tem uma profunda influência sobre o desenvolvimento intelectual. Segundo Piaget o aspecto afetivo por si só não pode modificar as estruturas cognitivas, mas pode influenciar que estruturas modificar. Se o desenvolvimento afetivo se dá paralelamente ao desenvolvimento cognitivo, as características mentais de cada uma das fases do desenvolvimento serão determinadas para a construção da afetividade. Quando examinamos o raciocínio das crianças sobre questões morais, um dos aspectos da vida afetiva, percebemos que os conceitos morais são construídos da mesma forma que os conceitos cognitivos. Os mecanismos de construção são os mesmos. As crianças assimilam as experiências aos esquemas afetivos do mesmo modo que assimilam as experiências às estruturas cognitivas. No período Sensório-Motor, de impulsos e reflexos instintivos, o recém nascido busca a alimentação e libertação de desconfortos, Piaget diz ser uma fase egocêntrica. Até mais ou menos um ano e meio, não há sentimento de respeito pelo adulto. É fase do desenvolvimento moral denominada anomia. Nesta fase, o sentimento forte começa as se desenvolver no relacionamento entre a criança e os seus tutores é o afeto. Este sentimento é fundamental para a formação futura do respeito. Após o 4º mês a criança começa a representar um comportamento dirigido a um fim (intencional), que evolui de uma repetição de eventos incomuns e interessantes (reações circulares), na qual as intenções só se estabelecem durante as repetições do comportamento para uma intencionalidade presente no início da ação. Durante o segundo ano de vida os sentimentos começam a ter um papel na determinação dos meios usados para alcançar os fins tanto quanto na determinação dos fins. As crianças começam a experimentar o "sucesso" e o "fracasso" do ponto de vista afetivo e a transferir afetividade para outras pessoas. Com a diferenciação cognitiva que ela faz de si em relação aos objetos, sentimentos com gostar e não-gostar podem começar a ser dirigido para os outros, constituindo-se assim uma porta para o intercâmbio social. A criança de dois anos (no final do período sensório motor) é afetiva e cognitivamente muito diferente do recém-nascido.
Os primeiros sentimentos sociais surgem durante o estágio Pré-Operacional, representados pela falta e pela representação de imagens das experiências vividas, como as afetivas. Durante este estágio, tendo a capacidade de reconstruir o ado cognitivo e afetivo, o comportamento e os sentimentos da criança se tornam mais conscientes na medida em que o desenvolvimento avança. Junto com os conceitos cognitivos e afetivos, a criança desenvolve a compreensão infantil das regras e dos conceitos morais. Para Piaget, o desenvolvimento do raciocínio moral é uma conseqüência do desenvolvimento cognitivo e afetivo e, durante o estágio pré-operacional, o raciocínio moral é visto como respeito mútuo. A criança é incapaz de reverter às operações e não consegue acompanhar as transformações, a percepção tende a ser centrada e a criança é egocêntrica, ou seja, não pode assumir o papel ou o ponto de vista do outro, acredita que todos pensam como ela. Conseqüentemente o conceito de intencionalidade ainda não foi construído e a criança não consegue compreender comportamentos acidentais de outras crianças. Acreditam firmemente na moral "olho por olho, dente por dente" e em sua aplicação em todos os casos. No estágio operacional concreto, o raciocínio e o pensamento adquirem maior estabilidade. A capacidade para raciocinar torna-se gradativamente lógica e menos sujeita às influências das contradições perceptuais aparentes. Os afetos adquirem uma medida de estabilidade e consistência que não apresentavam antes. Com a aquisição da reversibilidade a criança torna-se capaz de coordenar seus pensamentos afetivos de um evento para outro. Se no estágio pré-operacional o afeto não reúne qualquer dos três critérios para ser normativo, durante o estágio operacional concreto estes critérios am a ser encontrados a medida em que as capacidades de julgamento infantis tornam-se "operacionais". Piaget destaca dois elementos fundamentais no desenvolvimento do estágio operacional concreto: à vontade e a autonomia. A vontade é considerado como uma escala permanente de valores construída pelos indivíduos e a qual sente obrigado a aderir. A presença da vontade indica que a pessoa já tem capacidade de raciocinar sobre problemas afetivos sob uma perspectiva coordenada reversível. A autonomia de raciocínio consiste em raciocinar de acordo com um conjunto próprio de normas. Durante o estágio pré-operacional as crianças percebem as regras como provenientes de uma autoridade. É a moralidade da obediência ou respeito unilateral. À medida que as crianças vão se tornando capazes de se colocar no ponto de vista do outro começam a ser capazes de fazer suas próprias avaliações morais. Começam a fazer as avaliações a respeito do que é justo e do que não é justo, o que não significa que as avaliações sejam corretas. O estágio operacional concreto é o período chave para o desenvolvimento contínuo da autonomia afetiva, quando as crianças mudam de uma perspectiva moral baseada no respeito unilateral para uma perspectiva baseada no respeito mútuo. Durante o estágio das operações formais que em média começa em torno dos onze ou doze anos, uma criança desenvolve o raciocínio e a lógica necessária à
solução de todas as classes de problemas. Após o desenvolvimento das operações formais, as mudanças nas capacidades mentais, no que se refere às estruturas e operações lógicas, am a ser quantitativas e não mais qualitativas. A qualidade do raciocínio que uma pessoa é capaz de realizar não progride após este estágio, mas o conteúdo e a função da inteligência podem progredir. O desenvolvimento afetivo durante o estágio das operações formais é caracterizado por dois fatores principais: o desenvolvimento dos sentimentos idealistas e a continuação da formação da personalidade. Durante a formação das operações formais as crianças começam a ter seus próprios sentimentos ou pontos de vista sobre as pessoas. Estes sentimentos autônomos cujas raízes se encontram no desenvolvimento da autonomia durante o estágio operacional concreto. De acordo com Piaget os aspectos finais da formação da personalidade não começa a se desenvolver antes da transição para a vida adulta. A medida em que o adolescente inconscientemente procura se adaptar à sociedade e ao mundo do trabalho a formação da personalidade vai se consolidando. A personalidade é resultado dos esforços individuais autônomos para se adaptar ao mundo social adulto. Segundo Piaget "uma das principais diferenças afetivas entre o pensamento do adolescente e do adulto reside no fato de que inicialmente (...) , o adolescente aplica o critério da pura lógica nos julgamentos dos eventos humanos". E aí que começa a aparecer à capacidade de raciocinar sobre, de refletir sobre o próprio pensamento. E, se motivadas, as crianças, com raciocínio formal, podem pensar tão logicamente quanto os adultos. O importante é entender que no decorrer de todo processo de desenvolvimento a afetividade é como uma "energia" que impulsiona as ações, ficando claro, no caso da escola, a importância da relação entre professor e aluno, de modo que ambos convivam em um ambiente de harmonia, e que a aprendizagem, assim, possa fluir com mais facilidade, havendo maior entendimento e maior interação entre ambos. 5. A AFETIVIDADE NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO Segundo Piaget, o processo de desenvolvimento a pela dimensão do social, e envolve cognição, afeto e moral. O elemento poderoso que é a afetividade, influencia nossas atividades intelectuais, e a esta seleção de atividades, Piaget chama de "interesse", que são desenvolvidas não pelo cognitivo, mas pelo afetivo. Pesquisando o comportamento infantil, o que para Piaget é de suma importância, amos a conhecer as fases pelas quais a a criança, para entender o desenvolvimento afetivo, e ajudar na compreensão da relação conflitante entre professor – aluno. Neste processo, ambos precisam conviver em harmonia, para que a aprendizagem possa fluir com mais facilidade, gerando maior rendimento e interação. "A afetividade é a mola propulsora das ações, e a razão está a seu serviço" (LA TAILLE). O relacionamento entre professor e aluno precisa ser de amizade, de respeito
mútuo, não se concebe mais a idéia de ensinar em um ambiente hostil. O respeito que a criança desenvolve pelo adulto dá origem a dois sentimentos distintos: afeto e o medo. Para Piaget, uma criança não irá obedecer a um adulto que tenha medo, se por ele não houver afeto, da mesma maneira não irá desobedecer outro que sinta estima, se por ele também não tiver um pouco de medo. Por isso Piaget entende que se houver afeto, há a capacidade de desenvolver o respeito mútuo, tão necessário e que através dele a aprendizagem flua com mais facilidade. Chega-se a um ponto importante, em que toda intervenção de um professor em uma relação entre as crianças, precisa ser permeada de afeto e segurança, para que elas tenham capacidade de chegar a um acordo, pois esta capacidade é que vai dar a elas a confiança de enfrentar suas dificuldades. Assim como uma relação com muitos elogios vai gerar uma falsa confiança, gerando ainda mais insegurança na criança, tornando a aprendizagem superficial, o aluno pode ar então a realizar suas atividades somente em função de recompensas. Aprender também é saber lidar com as frustrações do não-saber. Para isso é preciso que o educador encoraje, seja atencioso quando solicitado, promova desafios possíveis ajudando-a a lidar com estas situações. A prática educativa deve ser permeada por solidariedade, em situações diárias de prazer na construção do conhecimento, pois não há mais espaço para o individualismo, nem por parte do aluno e muito menos por parte do professor. Todas estas atitudes são tomadas através do afeto que inclui os sentimentos, interesses, impulsos ou tendências que vão constituir os padrões de comportamento. O educador precisa ter consciência dos interesses que contribuam para o desenvolvimento intelectual, e segundo Piaget, "o professor deve ser colaborador e não um mestre autoritário". Através deste professor colaborador, desta reciprocidade há a descentração afetiva que leva aos sentimentos e a vida moral. Mas o afeto só é mútuo e sólido quando esta reciprocidade ocorre com uma outra pessoa, quando estas tem os mesmos interesses e valores. Levando estes termos para o dia - a – dia escolar, é preciso que haja entre professor e aluno interesses comuns, só assim haverá um bom rendimento na aprendizagem. Deve existir por parte do professor respeito aos valores sociais dos alunos que são diferentes de um para o outro, assim criando um ambiente de respeito, compreensão, amizade e muitas outras relações que contribuam para o desenvolvimento da aprendizagem do aluno, que deve ser um dos maiores objetivos da escola, dando a ela a importante missão de gerar a interação social, o desenvolvimento moral – afetivo, como elementos fundamentais no processo de construção de pensamento, durante o processo de ensino – aprendizagem. Para Piaget, o grande desafio da educação seria favorecer o desenvolvimento intelectual em harmonia com o desenvolvimento afetivo- moral, para que o sujeito possa conquistar sua autonomia intelectual, afetiva e moral, tendo como base as leis de reciprocidade construídas em suas interações com o meio físico-social e histórico-cultural. O professor não deve ser comprometido só com a construção do conhecimento do aluno, mas deste conhecimento como um todo, um profissional envolvido com o desenvolvimento da autonomia
cognitiva, moral, social e afetiva. Todas as reflexões na importante relação entre professor-aluno, mostra que o afeto também é muito importante no dia-a-dia do ser humano, enfatizando o respeito unilateral da criança pelo adulto. Esse respeito deve ser trabalhado em exercício de cooperação, na convivência em grupo, a partir da experiência histórica de cada um e de seu nível de desenvolvimento. São os esquemas afetivos da criança com o seu meio, que irão formar o caráter da criança, e o sentimento de respeito que a criança nutre em relação a outras pessoas. Fica evidente a importância que tem para nós, educadores, o conhecimento da afetividade, para o melhor desenvolvimento da aprendizagem do aluno e, consequentemente para uma melhor relação entre este e o professor. A escola, deve voltar-se para a qualidade das suas relações, valorizando o desenvolvimento da criança como um todo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este resgate da teoria piagetiana, faz-se pelo esforço em deixar evidente o lugar ocupado pela afetividade no desenvolvimento humano, em caracterizá-lo como instrumento propulsor das ações, estando a razão a seu serviço. A afetividade seria a energia, o que move a ação, enquanto a razão seria o que possibilitaria ao sujeito identificar desejos, sentimentos variados, e obter êxito mas ações. Pensar a razão contra a afetividade é problemático porque deveria, de alguma forma, dotar a razão de algum poder semelhante ao da afetividade, reconhecer nela a característica de móvel, de energia. Evidencia-se, em Piaget a importância que tem para nós, educadores, o conhecimento da afetividade, quer que seja através das emoções, da força motora das ações ou do desejo, para o melhor desenvolvimento da aprendizagem do aluno e uma melhor relação entre o aluno e o professor.