SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ALTAMIRA FACULDADE DE ENGENHARIA FLORESTAL CURSO DE BACHARELADO DE ENGENHARIA FLORESTAL
RELÁTÓRIO DE ESTÁGIO
PAULO RICARDO RODRIGUES PIOVESAN Acadêmico do 5º Período do Curso de Engenharia Florestal
Altamira-PA, 1º Semestre/2011
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PAULO RICARDO RODRIGUES PIOVESAN
RELATÓRIO DE ESTÁGIO
Relatório apresentado à disciplina de Estágio Supervisionado II, do Curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Pará, sob a orientação das Professoras Alessandra Doce e Gisele Pompeu, como requisito para obtenção de conceito.
Altamira – PA, 1º Semestre de 2011
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APRESENTAÇÃO Este relatório apresenta as atividades desenvolvidas durante o Estágio Supervisionado II, no período de 07 a 18 de fevereiro de 2011, na Xiloteca Walter A. Engler e no Laboratório de Anatomia da Madeira do Campus de Pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), na Cidade de Belém/PA, onde está depositado um acervo de amostras de madeiras que servem de base para estudos de caracterização macroscópica e microscópica de espécies exploradas comercialmente na Amazônia. As Atividades foram desenvolvidas pelos alunos Denise da Silva Graça, Onassis de Pablo S. de Souza e Paulo Ricardo R. Piovesan, acadêmicos do 5º semestre do Curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Pará, sob a orientação do Dr. Pedro Lisboa, e acompanhados pelo Prof. MS.c. Alisson Rodrigo de Sousa Reis (UFPA) e pela Engenheira Florestal Juliana Livian de Abreu. As madeiras estudas no período do estágio são provenientes da indústria madeireira do Município de Uruará, oeste do Estado do Pará, sendo desenvolvidas atividades relacionadas à caracterização anatômica e histológica destas madeiras. O desenvolvimento de atividades relacionadas à tecnologia e a anatomia da madeira visam estabelecer parâmetros para a identificação correta de madeiras de espécies comerciais distinguindo as madeiras aparentemente iguais, visando um emprego correto, de acordo com as características anatômicas.
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RESUMO
A explosão da atividade madeireira na Amazônia teve início com a vinda de madeireiros de outras partes do Brasil, em busca da nova fronteira madeireira. Nesse contexto, o Estado do Pará se destaca como um dos principais produtores de madeira em tora da Amazônia. Entretanto, a multiplicidade das espécies existentes e comercializadas faz da identificação anatômica das madeiras uma tarefa relativamente complicada, e devem ser levadas em consideração as características organolépticas e anatômicas macroscópicas. No entanto, ainda temos poucas informações e registros das características anatômicas das madeiras tropicais. Nesse sentido, as atividades desenvolvidas em Laboratórios de anatomia e histologia de madeiras são tidas como essenciais para o desenvolvimento dessa atividade comercial, buscando a identificação correta das espécies, o que proporciona a melhor aplicação desse recurso e seu melhor aproveitamento. Durante este estágio, foram desenvolvidas atividades relacionadas ao trabalho do profissional em laboratório, buscando a caracterização macroscópica e microscópica e a identificação correta das amostras das espécies madeireiras do comercializadas município de Uruará/PA, sendo trabalhados procedimentos de montagem de lâminas temporárias e permanentes, descrição macroscópica, medição de vasos e fibras, sendo desenvolvidas competências para trabalho em equipe e organização de coleções de madeiras (Xiloteca). Nesse sentido, a estádia em um local de referencia nesse seguimento da engenharia florestal permitiu um enriquecimento do conhecimento e a identificação de afinidades com o ramo estudado.
PALAVRAS-CHAVE: Anatomia da madeira; Identificação de espécies; Exploração madeireira; Espécies tropicais, Uruará.
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SUMÁRIO
1 CONTEXTUALIZAÇÃO .................................................................................................................. 6 1.1 EXPLORAÇÃO MADEIREIRA NA AMAZÔNIA ................................................................................... 6 1.2 EXPLORAÇÃO MADEIREIRA NO PARÁ ............................................................................................ 7 1.3 EXPLORAÇÃO MADEIREIRA EM URUARÁ ...................................................................................... 8 1.4 IMPORTÂNCIA DA ANATOMIA NA IDENTIFICAÇÃO DE MADEIRAS ............................................... 10 1.5 OBJETIVOS DO ESTÁGIO ............................................................................................................... 11 2 DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES ............................................................................... 12 2.1 COLETA DE AMOSTRAS ................................................................................................................ 12 2.2 METODOLOGIA UTILIZADA PARA CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA DA MADEIRA ....................... 12 2.2.1. Corpos de prova .................................................................................................................. 13 2.2.2. Caracterização macroscópica............................................................................................. 13 2.2.3. Análise Microscópica .......................................................................................................... 14 2.2.3.1 Montagem de Lâminas Permanentes ............................................................................................ 14 2.2.3.2 Preparo do Material Macerado .................................................................................................. 16 2.2.3.3 Contagens e Mensurações ............................................................................................................ 17
2.2.4 Digitalização das imagens ................................................................................................... 18 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................... 19 4 AGRADECIMENTOS ..................................................................................................................... 20 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 21
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1 CONTEXTUALIZAÇÃO
1.1 Exploração madeireira na Amazônia A Amazônia Legal possui uma extensão aproximada de 5 milhões de quilômetros quadrados (59 % do território brasileiro) (TOLLEDO et al., 2006), abrigando vastos estoques de madeira comercial e de carbono. Possui uma grande variedade de produtos florestais não madeireiros, que sustenta diversas comunidades locais. A explosão da atividade madeireira na Amazônia teve início com a vinda de madeireiros de outras partes do Brasil, em busca da nova fronteira madeireira. Essa migração ocorreu devido à abertura de estradas pelo governo, a partir da década de 60, e à exaustão dos recursos madeireiros das regiões Sul e Sudeste do País (BARROS; VERÌSSIMO, 2002,). Segundo Alencar e Hayashi (2003) a extração seletiva de madeira é uma das principais atividades econômicas da Amazônia e tem crescido principalmente devido à construção e melhoria da infra-estrutura viária, a inclusão de novas tecnologias no processo de extração de madeira. No entanto, Barbosa et al. (2001) afirmam que o setor produtivo de madeira e derivados na Amazônia em geral enfrenta enormes dificuldades para tornar seus produtos competitivos no mercado, que está cada vez mais globalizado. Problemas como parque tecnológico defasado, seletividade de espécies florestais, mão-de-obra desqualificada e empresas em sua maioria descapitalizadas são recorrentes, e novos desafios são gerados à medida que o setor produtivo é mais exigido pelo mercado. Apesar disso, o setor florestal brasileiro contribui com uma parcela importante para a economia brasileira, gerando produtos para consumo direto ou para exportação, impostos e emprego para a população (LADEIRA, 2002, apud TOLLEDO et al., 2006). Contudo, as estimativas sobre o consumo interno de madeira no Brasil revelam o caráter predominantemente imediatista da exploração florestal: 300 milhões de m3 de madeira são consumidos anualmente no país (SBS, 2003 apud TOLLEDO et al., 2006), dos quais 110 milhões provêm de florestas plantadas e 190 milhões, de florestas nativas (TOLLEDO et al., 2006).
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1.2 Exploração madeireira no Pará Sobressaem como maiores produtores de madeira do segmento extrativista em 2009 o Estado do Pará, com uma produção de 5.975.969 m³, correspondendo a 39,2% dos 15.248.187 m³ coletados no País (IBGE, 2009). Segundo Pereira et al. (2010), em 2009 existiam no estado do Pará 1.067 empreses madeireiras que consumiram cerca de 6,6 milhões de metros cúbicos de tora, gerando uma renda bruta de 2,1 bilhões de dólares e aproximadamente 92.500 empregos diretos e indiretos. Segundo Veríssimo et. al. (2002), em 1998 eram extraidos 11,3 milhões de metros cúbicos de madeira em tora no estado, sendo o pólo madeireiro de Uruará1 responsável por 110 mil metros cúbicos. Segundo Pereira et al. (2010), os 14,2 milhões de metros cúbicos de toras extraídos em 2009 na Amazônia Legal resultaram em uma produção de 5,8 milhões de metros cúbicos de madeira processada (serrada, laminados, compensados e produtos beneficiados). A maioria (72%) dessa produção processada foi de madeira serrada; 15% foram de madeira beneficiada na forma de portas, janelas, pisos, forros etc.; e apenas 13% foram de painéis laminados e compensados. O rendimento médio do processamento foi de 41%. (PEREIRA et al., 2010). No Pará, a atividade madeireira em larga escala, segundo Veríssimo et al. (2002) é um fenômeno recente, sendo a metade das madeireiras foi instalada na década de 90, enquanto 39% das indústrias foram estabelecidas nos anos 80 e o restante (11%) nas décadas anteriores, especialmente nos anos 70. Veríssimo et al. (2002) estabelecem cinco zonas madeireiras no Pará (Figura 1), de acordo com as tipologias florestais, a idade da fronteira madeireira, as condições de o e o tipo de transporte, sendo Estuário, Sul, Oeste, Leste e Central, sendo que este último corresponde aos pólos madeireiros de Altamira, Santarém e Uruará - os quais extraem e processam apenas 7% da madeira em tora do Estado - e caracterizado pelas florestas densas de terra firme entremeadas com bosques abertos, onde a atividade madeireira é mais recente – final da década de 80.
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Veríssimo et. al. (2002) consideraram o pólo madeireiro de Uruará os municípios de Uruará e Medicilândia.
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Figura 1 – Localização do Município de Uruará e dos Pólos Madeireiros do Estado do Pará Fonte: VERÍSSIMO et. al., 2002, adaptado.
No Estado do Pará, as espécies madeireiras mais exploradas são ipê (Tabebuia sp.), cedro (Cedrela odorata), freijó (Cordia sp.), maçaranduba (Manilkara sp.), angelim pedra (Hymenolobium sp.), angelim vermelho (Dinizia excelsa), jatobá (Hymenaea sp.), louro (Nectandra sp.), muiracatiara (Astronium sp.), tauari (Couratari sp.), faveira (Pterodon sp.), cumaru (Dipteryx sp.), piquiá (Caryocar sp.), tatajuba (Bagassa guianensis), e marupá (Simaruba amara) (VERÍSSIMO et al., 2002).
1.3 Exploração madeireira em Uruará
Segundo a SFB e IMAZON (2010) e Pereira et al. (2010), o pólo madeireiro de Uruará, que abrange os municípios de Uruará e Placas, compreende 25 serrarias, que realizam extração anual de 125 mil metros cúbicos de madeira em tora, tendo a produção estimada em 52 mil metros cúbicos de madeira, gera 2.843 empregos diretos e indiretos, produzindo uma
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receita de US$ 21,4 milhões. Segundo o IBGE (2009), o Estado do Pará produziu em 2009 5.975.969 m³ madeira em tora. Dessa forma, a produção de Uruará corresponde a 2,1% desse segmento no estado e 0,95% na Amazônia Legal. Para Murara Jr. (2005 apud BIASI, 2005), os principais fatores que afetam o rendimento da madeira serrada são a qualidade da tora, as técnicas de desdobro utilizadas, a operação dos equipamentos e os diâmetros das toras. A produção do município é destinada principalmente para exportação, sendo os principais compradores os Estados Unidos, Europa e China. No mercado nacional, os principais consumidores são as regiões nordeste e sudeste, principalmente os estados de São Paulo, Pernambuco, Ceará e Bahia (PIOVESAN et al., 2011), contrariamente a tendência da Amazônia como um todo, que segundo o SFB e IMAZON (2010), abastece principalmente o mercado interno (79% da produção) . Sobre essa diferenciação do mercado consumidor, Santana (2003) sugere que produto atende a dois diferentes padrões de qualidade. Para o mercado externo, a matéria-prima constitui-se apenas de madeira nobre, porque se exige elevado padrão de qualidade, e o rendimento chega a ser de apenas 25 a 30%, ou seja, madeira serrada, aplainada e cortada nas bitolas especificadas e sem defeitos. Para atender a tais requisitos de qualidade, após a serragem, a madeira é seca em estufas. As estufas fazem a diferença na qualidade do produto final, porque permitem a fabricação de produtos em menor tempo e conferem maior flexibilidade ao processo produtivo. As industrias instaladas no município de Uruará não possuem estufas para a secagem da madeira, sendo esse processo realizado principalmente em Belém, por empresas exportadoras (PIOVESAN et al., 2011). No produto destinado ao mercado interno, considerando-se o mesmo tipo de madeira, o nível de acabamento não atinge a qualidade total, dado que o mercado aceita pequenos defeitos no produto final. Com isso, o rendimento médio gira ao redor dos 40%. Nos mercados nacional e regional também há aproveitamento de outras madeiras nobres de menor valor comercial, em razão da abundância, que ainda é grande. O mercado é embrionário no que diz respeito à produção de alto valor agregado, pois a oferta local volta-se para atender ao consumidor de baixa renda. Os segmentos de renda média e alta adquirem produtos finais importados das regiões Sul e Sudeste, fabricados com madeira da Amazônia e comercializados nas lojas de mobiliário ou de representações comerciais do Sul e do Sudeste do País (SANTANA, 2003). Os principais produtos gerados a partir do desdobramento da tora pelo setor madeireiro do município são caibro, ripas, pranchas, tábuas, vigamento, forros, portais, deques, pisos e assoalhos (PIOVESAN et al., 2011), produtos que são principalmente direcionados a construção civil e decoração interna e externa. Percebe-se que os produtos
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gerados são de baixa agregação de valor, sendo vendidos na maioria apenas com processamento simples (serragem e plaina). Nesse sentido, Biasi (2005) relata que a madeira processada basicamente em nível primário resulta em um produto de baixo valor agregado, reduzindo as possibilidades de maiores receitas e o total de investimento. Sobre às espécies utilizadas, Piovesan et al., (2011) relatam a utilização preferencialmente de maçaranduba (Manilkara sp), ipê (Tabebuia sp) e jatobá (Hymenaea sp), principalmente pela alta durabilidade e trabalhabilidade, e aceitação no mercado consumidor. Segundo Biasi (2005), o número reduzido de espécies que são comercializadas, como é o caso do município de Uruará, é um fator que limita o suprimento da matéria-prima, inviabilizando a exploração econômica da floresta pela industria. Outro problema é a distancia cada vez maior entre a floresta e as industrias e destas para o mercado consumidor. A crescente alta do preço do transporte tem inviabilizando ou desestimulando a atividade florestal-industrial na região da Amazônia Legal. Nesse sentido, a falta de apoio tecnológico para que a atividade madeireira obtenha melhor aproveitamento da matéria-prima, especialmente no sistema avançado de utilização da madeira. Assim, a eficiência técnica e econômica dos processos de transformação desse recurso florestal em produtos pela industria madeireira é fator básico para sua sobrevivência. A indústria de transformação da madeira que não estiver preocupada em melhorar seus rendimentos e consequentemente, reduzir os custos de produção dando uma utilização total aos resíduos gerados no processo, assume um sério risco de perder em competitividade e paralisar as suas atividades (BIASI, 2005). Segundo Santana (2003), não existe na indústria madeireira do Estado do Pará uma cultura estabelecida para a troca de experiências tecnológicas de produto e processo. Em razão disso, o diferencial tecnológico se dá pela própria capacidade de gestão das empresas e pela versatilidade de ação. Todavia, é evidenciado que os empresários, além das demandas dos clientes, realizam viagens técnicas pelos principais centros de produção e de consumo para, então, ajustar a produção à dinâmica do consumo.
1.4 Importância da anatomia na identificação de madeiras O estudo da anatomia do lenho, sem dúvida alguma, tem por principal finalidade o reconhecimento microscópico da madeira. As vantagens resultantes dessa verificação de identidade são de real alcance para o comércio e a indústria madeireira. Assim, dentre as numerosas madeiras semelhantes pelo aspecto, somente uma ou duas se prestam, freqüentemente, à determinada aplicação. O seu exame anatômico representa o único meio
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seguro para identificá-las, fornecendo, aos vendedores e compradores, a necessária garantia de que carecem, quanto à lisura da transação. Segundo Zenid e Ceccantini (2007), a multiplicidade das espécies existentes faz da identificação anatômica uma tarefa relativamente complicada, e devem ser levadas em consideração as características organolépticas e anatômicas macroscópicas. Dentre as centenas de espécies madeireiras que ocorrem na região, mas que ainda são desconhecidas ou pouco conhecidas, certamente existem várias com propriedades similares àquelas já tradicionais e de grande aceitação para comercialização (BARBOSA et. al., 2001). O exame anatômico macroscópico pela comparação com amostras de coleções científicas (xilotecas) e comerciais é um meio seguro para a identificação de madeiras, fornecendo aos vendedores e compradores a garantia necessária do que precisam para assegurar a lisura no processo de comercialização de madeira (GOMES et. al., 2009). O conhecimento das características tecnológicas de uma determinada espécie madeireira permite o seu beneficiamento com o máximo de rendimento possível, pois o uso adequado de suas propriedades resulta em produtos com padrão de qualidade para competir no mercado nacional e internacional. Para tal, a determinação das propriedades e do uso final das espécies regionais permitira superar barreiras sociais e técnicas que tem impedido o completo estabelecimento da industria madeireira na Amazônia, o que propiciaria a geração de novos empregos e de riqueza para a região (INPA/PF, 1993).
1.5 Objetivos do estágio
Acompanhar as atividades desenvolvidas no Laboratório de Anatomia e Histologia e na Xiloteca do Museu Paraense Emilio Goeldi, relacionadas ao trabalho do profissional em laboratório, buscando a caracterização macroscópica e microscópica e a identificação correta das amostras das espécies madeireiras do comercializadas município de Uruará/PA, sendo trabalhados procedimentos de montagem de lâminas temporárias e permanentes, descrição macroscópica, medição de vasos e fibras, desenvolvendo competências para trabalho em equipe e organização de coleções de madeiras (Xiloteca).
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2 DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES
2.1 Coleta de amostras As amostras utilizadas (Figura 2) durante o estágio foram coletadas em 14 Madeireiras e Serrarias do Município de Uruará (Anexo B), região Oeste do estado do Pará, à 180 km do Município de Altamira. Essas amostras foram coletadas em Janeiro de 2011, e identificadas com o nome comum informado pela madeireira (Amarelão, Amarelinho, Angelim Pedra, Angelim Vermelho, Cedro, Cumarú, Freijó, Ipê Amarelo, Ipê Dente-de-leão, Ipê Roxo, Itaúba, Jarana, Jatobá, Maçaranduba, Mandioqueira, Muiracatiara, Pequi, Quaruba, Sucupira).
Figura 2 - Amostras coletadas nas Industrias Madeireiras do Município de Uruará/PA. Indicação da marcação para retirada de corpos de prova.
2.2 Metodologia utilizada para caracterização anatômica da madeira
Para a descrição da estrutura macroscópica da madeira foram utilizadas as normas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis/IBAMA (1992). O trabalho foi desenvolvido no laboratório de Anatomia da Madeira do Museu Paraense Emílio Goeldi.
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2.2.1. Corpos de prova Os corpos de prova foram obtidos das amostras de madeira coletadas nas serrarias e madeireiras do município de Uruará, com tamanho aproximado de 2 x 2 x 2 cm nos planos, transversal, longitudinal tangencial e longitudinal tangencial (Figura 3). Foram utilizadas 59 amostras de 19 espécies (segundo informação por nome comum obtida nas serrarias).
Figura 3 - Corpos de prova obtidos das amostras de madeira estudadas.
2.2.2. Caracterização macroscópica Os aspectos anatômicos da madeira podem ser constatados macroscopicamente. No entanto, para melhorar a visualização dessas características, a superfície de observação foi cortada com o auxilio de estilete e do micrótomo de deslize Reichit, nos quais os planos transversal, longitudinal tangencial e longitudinal radial (Figura 4) foram aplainados, para melhor visualização das estruturas anatômicas e eventualmente umedecidos, sendo observados através de uma lupa conta – fios de 10x de aumento. Nesta fase, além da análise macroscópica, foram caracterizadas as propriedades organolépticas, como: cor, textura, grã, desenho, dureza e etc.
Figura 4 - Corpo de prova: planos de visualização (Costa, 2001).
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2.2.3. Análise Microscópica Para a descrição da estrutura anatômica da madeira a nível microscópico, são utilizados os métodos tradicionais, seguindo as recomendações da INTERNATIONAL ASSOCIATION OF WOOD ANATOMISTS / IAWA (1989).
2.2.3.1. Montagem de Lâminas Permanentes Para a montagem de lâminas permanentes, foram obtidos cortes histológicos nos planos tangencial, radial e axial do corpo de prova. Os corpos de prova foram fervidos em água e glicerina (1:4), por várias horas, para amolecimento e aparos (Figura 5.A). Os cortes histológicos foram retirados com o auxilio do micrótomo de deslize Reichert (Figura 5.B).
Figura 5 – (A) Corpos de prova sendo fervidos para amolecimento; (B) Retirada de corte histológico através do micrótomo.
As seções obtidas do micrótomo foram removidas da superfície da navalha com o auxilio de um pincel molhado e foram mantidas abertas em uma placa de Petri umedecida até o armazenamento em lâminas antes de arem pela bateria alcoólica e montagem das lâminas definitivas. Estes cortes foram divididos em dois grupos, sendo que um deles foi submetido à clarificação e coloração e o outro permaneceu ao natural para a observação de inclusões celulares. Para a coloração do tecido, foi utilizada a técnica de Johansen (1940), na qual se usa safranina hidro-alcoólica. Primeiramente os cortes serão clarificados em solução de hipoclorito de sódio comercial (2,5%); em seguida, foram lavados várias vezes até que o
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hipoclorito seja totalmente removido. Após a clarificação dos cortes, estes foram coloridos com safranina hidro-alcoólica. Esta coloração tem como finalidade destacar e realçar as paredes celulares, além de diferencias tecidos e identificar conteúdos celulares (BURGER, RICHTER; 1991). Feita a coloração, o próximo o seguido foi a agem dos cortes pela seguinte série etílica progressiva: álcool 50% (40 min), álcool 60% (40 min), álcool 70% (40 min), álcool 80% (40 min) e álcool 90% (40 min). Após a bateria alcoólica (Figura 6), os cortes ainda foram submetidos ao xilol antes da montagem das lâminas.
Figura 6 - Bateria alcoólica e cortes histológicos. Abaixo, os cortes em natural e acima os cortes coloridos.
Com o auxilio de pinça, os cortes que aram pela coloração e os naturais foram depositado sobre uma lâmina de vidro com balsamo do Canadá, sendo colocado sobre eles uma lamínula, evitando o surgimento de bolhas de ar (Figuras 7 e 8).
Figura 7 - Lâmina definitiva. Acima os cortes com safranina e abaixo os cortes em natural. Da esquerda para direita, os planos radial, tangencial e axial.
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Figura 8 - Preparação de lâminas permanentes. Demonstração dos equipamentos de segurança para atividades no laboratório (luvas, jaleco e máscara).
2.2.3.2 Preparo do Material Macerado
Para a obtenção do material macerado foi utilizado o método de Franklin (1945), que consiste em retirada de lascas longitudinais da madeira que foram colocadas em uma mistura de partes iguais de ácido acético glacial e peróxido de hidrogênio e levadas à estufa, a 60ºC por 24 horas. Após esse tempo da estufa, o material dissociado foi lavado em água corrente, por várias vezes, até que a solução macerante seja completamente removida. Finalmente, o material foi corado com safranina hidro-alcoólica e conservado em água com algumas gotas de formol. Para a observação dos elementos celulares dissociados, foram confeccionadas lâminas temporárias, misturando uma pequena quantidade do macerado em gotas de glicerina.
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Figura 9 – (A) frascos contendo cortes longitudinais da madeira, (B) lascas de madeira com a solução macerante, (C) francos com solução macerante na estufa e (D) material corado em safranina.
2.2.3.3 Contagens e Mensurações
A partir da solução de macerado, foram preparadas laminas provisórias, nas quais foram realizadas medições de espessura da parede, da largura do lume e do comprimento das fibras, bem como do comprimento dos elementos de vaso (Figura 10), sendo medidos 50 vasos e 50 fibras de cada espécie.
Figura 10 - Mensuração manual da largura (A) da parede da fibra e do lúmen e (B) de vasos.
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2.2.4 Digitalização das imagens A digitalização das imagens foi realizada utilizando-se um esteriomicroscópio modelo Motic Digital Microscope DM 148, acoplado a um digitalizador de imagens software Motic Imagens Plus 2.0 ML, ligado a um microcomputador (Figura 11), no Laboratório de Taxonomia da Coordenação de Botânica do Museu Paraense Emilio Goeldi.
Figura 11 - Processo de digitalização das imagens macroscópicas.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
As atividades desenvolvidas no Laboratório de Anatomia e Histologia e na Xiloteca Walter Engler, no Museu Paraense Emilio Goeldi possibilitaram o acompanhamento de procedimentos para a identificação correta de espécies, como descrição macroscópica e microscópica da madeira e comparações com amostras de coleções, assim como procedimentos tecnológicos para a aplicação de espécies permitindo o seu beneficiamento com o máximo de rendimento possível, pois o uso adequado de suas propriedades resulta em produtos com padrão de qualidade para competir no mercado nacional e internacional. A estádia em um local de referência nesse seguimento da engenharia florestal permitiu um enriquecimento do conhecimento e a identificação de afinidades com o ramo estudado, o que facilitará a realização das atividades de disciplinas relacionadas ao assunto durante o decorrer do curso. As amostras utilizadas durante o período do estágio continuarão sendo analisadas, possibilitando a realização novos trabalhos.
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4 AGRADECIMENTOS A todas as empresas do setor madeireiro que contribuíram com a coleta de amostras de madeira; Ao acadêmico de Engenharia Florestal (2010) Alex Sousa pela ajuda na coleta de amostras em Uruará; Ao Professor Alisson Reis por mediar o contato com o Museu Paraense Emilio Goeldi, assim como pela orientação durante o estágio; A Engª. Florestal Juliana de Abreu pela ajuda em laboratório; Ao MPEG por possibilitar a realização do estágio; Aos meus colegas de estágio, Denise Graça e Onassis Souza.
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