Violência e Paixão (Hospital by the Sea)
Clare Lavenham Abalada com a separação de seus pais, a enfermeira Sharon aceitou de bom grado ser transferida para um hospital à beira-mar, uma filial do que ela trabalhava em Londres. Mas, quando estava a caminho, colidiu com um carro esporte vermelho. O dono do carro era um bonitão que a tratou com o maior desprezo por ela dirigir mal. Sharon ficou arrasada e achou que isso já era um mau começo. Mas nunca poderia imaginar que aquele homem tão violento era o médico-chefe da enfermaria onde ela iria trabalhar! E que aquele pequeno incidente marcaria profundamente o seu destino! Copyright: CLARE LAVENHAM Título original: “HOSPITAL BY THE SEA” Publicado originalmente em1978 pela Mills & Boon Ltd.,Londres.Inglaterra Tradução: VERA LIDICE REYS Copyright para a língua portuguesa: 1980 ABRIL S.A. CULTURAL E INDUSTRIAL — SÃO PAULO Composto e impresso nas oficinas da ABRIL S.A. CULTURAL E INDUSTRIAL Caixa Postal 2372 - São Paulo Foto da capa: APLA
Disponibilizado por Keli Cristina
Digitalizado e Revisado por: Nξlm∆
VIOLÊNCIA E PAIXÃO – Hospital by the Sea
Clare Lavenham
CAPÍTULO I O rosto redondo e rosado da diretora-chefe das enfermarias com estava uma expressão sorridente e animadora e Sharon, que tinha ficado surpresa e apreensiva de ter sido inesperadamente chamada à diretoria, sentiu-se mais calma, perdeu o medo e começou a ficar curiosa. Não poderia ser nada de ruim, o jeito dela não era de quem dar má ia notícia; entretanto, não tinha a menor idéia do que poderia ser. — Sente-se, enfermeira Lacey — disse a srta. Canham, bem-humo rada. — Você deve estar imaginando por que mandei chamá-la, não é? Sharon sorriu delicadamente e sentou-se diante da enorme ninha escrivacruzando as mãos no colo, esperando com impaciência contida. Estava, como sempre, impecável, com o avental branco bem ado. A touca alta e pregueada, amarrada com um laço estreito, que as enfermeiras do Santa Mildred usavam com tanto orgulho, bem estava assentada sobre os cabelos longos, realçando-lhe o castanho-claro. Os olhos castanho-claros brilhavam com uma expressão de interesse. — Bem, vou direto ao assunto — continuou a enfermeira-chefe. — Sem dúvida você está ciente de que o Santa Mildred tem outra unidade em Southaven. É um hospital bem menor, subordinado ao controle deste aqui em Londres. Acontece que eles estão precisando com urgência de uma enfermeira para a ala masculina e eu em pensei indicar você para o lugar. Achei que iria gostar da idéia...
A srta. Canham fez uma pausa e olhou para ela em expectativa. Por alguns instantes Sharon ficou em silêncio; a idéia era tão inespe rada que deixou-a atônita e sem resposta. Nunca lhe ara pelacabeça sair do Santa Mildred, onde estava desde que fizera estágio! Isso significaria uma mudança total em sua vida. Ali já estava bem entrosada com o pessoal e acostumada com seu serviço. Mudar para um hospital estranho significaria começar tudo de novo. — Eu... eu nem sei o que dizer — começou ela, indecisa. — A senhora me pegou de surpresa... nunca pensei que houvesse possibilidade de ser transferida, por isso nunca pensei no assunto. — Que tal considerar a possibilidade agora? Você se importa? — Não... não, é claro que não, srta. Canham. — Provavelmente deve estar pensando por que escolhi logo É você. que soube que você nasceu e foi criada em Southaven, portanto conhece bem a cidade, pelo menos, e sem dúvida deve ter amigos que gostaria de rever... — Faz cinco anos que saí de lá e não voltei mais. Já perdi contato o com todos — retrucou Sharon, apressadamente. A enfermeira-chefe não pareceu impressionada. 2
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— Além disso tenho outros motivos para ter escolhido você.que Acho já percebeu que eu me interesso muito por todas as enfermeiras que trabalham comigo, não só pela vida profissional delas como também pela formação e experiências de cada uma...
Sharon fixou o olhar absorto num vaso com tulipas e nãonada. disseNinguém ali, no Santa Mildred, descobria como era que srta.a Canham ficava sabendo das coisas. Algumas pessoas não gosta vam muito disso e se sentiam melindradas. Outras entendiamdea dela atitu como bem-intencionada, como se fosse a canalização de um instinto maternal frustrado. Em geral, essas eram pessoas que não tinham nada a esconder. Sharon também não tinha nada a esconder. Todo mundo no tal hospi ficara sabendo do rompimento de seu namoro com o assistente do Dr. Pringle, logo que aconteceu. Até mesmo a separação dos pais dela tinha virado notícia bastante comentada por todos, até osíntimos! menos — Não tenho razão de pensar que você está precisando um mudar pouco, hein, enfermeira? Sharon mal conseguia falar. — Bem... tem sim, talvez fosse melhor mesmo... É que foi de tão repente! Ainda não me acostumei com a idéia. A srta. Canham virou-se para a janela e olhou o céu. Estava límpido, azul, só com algumas nuvenzinhas brancas e leves. — Esta época do ano é ótima para a gente ficar perto do mar... pra falar a verdade, já estou até ficando com inveja! — Fez uma pausa enquanto analisava, compreensiva, a expressão perturbada de Sharon. — É claro que não precisa me dar a resposta já,pensar pode até manhã cedo, depois você me diz, está bem? — Com isso ela deu por encerrado o diálogo e começou a mexer em uns papéisque estavam sobre a mesa. Sharon entendeu e imediatamente se levantou. — É o que farei, srta. Canham, e muito obrigada. Quando já estava na porta, a voz calma da outra a deteve olhou e elapara trás. — Só mais uma coisinha que esqueci de falar, Sharon. Talvez mãesua não queira que você se afaste de Londres... bem... logo agora. Talvez você pense que não é da minha conta, mas acho que deveconsultá-la antes de decidir. Então a notícia se espalhara mesmo! Sharon ficou chateadaterdemencionado ela um assunto tão íntimo, mas apesar disso conseguiu não demonstrar seu aborrecimento.
— Não é necessário falar com minha mãe para tomar uma decisão. Ela vai embora de Londres daqui a uns dias, para o norte, morar perto da minha irmã casada, portanto não va precisar de mim. — Com essas palavras saiu e fechou a porta, contendo-se para batê-la. não O caminho de volta para a ala feminina da enfermaria onde lhava traba era longo e 3
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complicado, mas ela o conhecia tão bem que poderia percorrê-lo de olhos fechados. O hospital Santa Mildred era um labirinto de corredores. Naquele momento, entretanto, estavatraída tão dis com seus pensamentos que nem percebia o que se ava sua volta... a pessoas indo e vindo... enfermeiras, médicos, visitan tes, funcionários empurrando macas ou carrinhos... ela seguiaumcomo autôm ato. Fazia um mês que soubera da separação de seus pais, masnão ainda tinha aceitado a idéia. É claro que já havia percebido vagamente que há algum tempo eles não se davam bem. E depois do casamento de sua irmã mais velha a casa se transformou num ambiente carregado, cheio de silêncios pesados, ou discussões e alfinetadas. Mas esse seu lar erae apesar de tudo gostava dele. Embora gostasse muito da mãe, só depois que ficou mocinha cobriudes que ela era uma pessoa difícil de se entender e de se conviver. Voltara-se então para o pai, com quem se dava bem melhor, porisso fora um golpe duro descobrir que o pedido de divórcio partido tinhadele. Desde que o pai fora embora, só tivera notícias dele umauma vez... carta breve dando seu novo endereço, que ela nem respondeu. Chegando à enfermaria, Sharon afastou da mente os problemas todos e concentrou-se no trabalho. É absolutamente impossível devaneando ficar quando se tem que cuidar de doentes, principalmente num hospital grande e movimentado como esse de Londres. Entretanto seu subconsciente continuava a trabalhar remoendo as preocupações. Quando chegou a seu pequeno e moderno apartamento, quenoficava quarteirão atrás do hospital, já estava seriamente inclinada ataracei a proposta da srta. Canham. O empurrão final para sua decisãofoi dado pelo que viu da janela: duas pessoas caminhando devagar pela calçada em direção ao estacionamento. O homem era Rex Colby, por quem estivera apaixonada até há pouco tempo, e ele abraçava uma moça extremamente jovem e bonita que era atendente de enferm agem na unidade de ortopedia.
Sharon ficou olhando para eles, da janela, e irou-se de já não estar sofrendo tanto. Quando Rex deu o fora nela, por causa daquela loira escultural que agora estava ali abraçada com ele, sentira seuorgulho ferido, além de ter ficado muito magoada, principalmente porque o fato acontecera quando ela ainda estava muito chocadaa com separação dos pais, o que intensificou o sofrimento. Talvez até esse tivesse sido um dos motivos do rompimento, ela começou pois a ficar triste e retraída e não queria mais sair e se divertir com o namorado. Mas, afinal, Rex deveria ter compreendido a situa ção e ter lhe dado apoio! O fato dele não ter sido compreensivo foi uma grande decepção e isso até que a ajudou a aceitar o mento rompi do namoro com mais facilidade. Sharon deu de ombros e afastou-se da janela, decidida a parar se preocupar de com tudo aquilo, e começou a pensar nessa inesperada oportunidade de afastar-se do Santa Mildred e iniciar uma nova vidalonge dali, de Rex e de tudo que a fizesse lembrar-se dele.
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Exatamente uma semana mais tarde estava a caminho. De Londres a Southaven eram uns oitenta quilômetros de estrada, aliás, uma das mais movimentadas da Inglaterra. O pequeno e velho carro de Sharon estava abarrotado de bagagem quase até o teto ela e dirigia devagar e com prudência. A paisagem era muito bonita, mas ela mal podia apreciar, concentrada que estava em dirigir. Apenas via de relance vales e colinas verdejantes. Era uma luminosa manhã de maio e o céu estava límpido,quase sem nuvens, e, quando afinal o mar surgiu no horizonte, ron Sha não pôde deixar de achar que era um bom começo, chegardia num tão lindo como aquele, com a natureza em festa. Entrou na cidade cautelosamente. Southaven parecia ter crescido bastante desde que saíra de lá. Havia bairros novos em todas as ções. dire Só as velhas ruas do centro é que não tinham mudado. Lembrava-se de que o hospital ficava no topo de uma ladeira tentoue fazer o caminho que imaginava conhecer. Virou à direita numa rua, esperando chegar lá, mas a rua acabou em outra que foi darnuma avenida larga e Sharon percebeu que estava dirigindo aEntretanto, esmo. seguindo um vago senso de direção, continuou no mesmo caminho, achando que iria chegar onde queria. Finalmente, desembocou numa rua cujo nome lhe pareceu familiar. Era uma ruazinha estreita e cheia de curvas. Sharon sentiu umasação sen de vitória e achou que seus problemas de viagem estavam ter minados. Mal sabia que isso estava longe de ser verdade! Como se sentisse bem mais segura, aumentou a velocidade doe. carro estava se aproximando de uma esquina, sem preocupação, quando para seu horror viu surgir de repente, na contramão, um carro esporte vermelho que fez a curva e veio direto para cima dela. Imediatamente Sharon pisou no breque e na embreagem comOforça. carrinho cantou os pneus, derrapou, mas parou. Entretanto o carro vermelho vinha muito mais depressa do que o dela para que conse guisse parar a tempo e, apesar do motorista tentar desviar, ainda pegou de lado no carro de Sharon. O barulho foi horripilante. A parte lateral do carro vermelho toda ficou riscada, mas a frente do carro de Sharon amassou que nem papel e o farol quebrou. Agarrada ao volante, Sharon continuou imóvel, chocada demais ra conseguir pa sair do lugar. Mas o motorista do outro carro imediata mente desceu no meio da rua e foi gritando, raivoso: — Ei, sua maluca, será que não sabe dirigir?! Não enxerga, não? Ela ergueu o rosto para fitá-lo e não gostou do que viu. Era homem um de seus trinta anos, alto, com cabelos aloirados em desalinho. Os olhos cinzentos dele faiscavam de raiva. Com muito esforço Sharon se controlou, procurando recuperar-se do susto. — Não sei por que está gritando comigo! Você não tem o direito. menorA culpa foi 5
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totalmente sua! Como é que virou a esquina assim na contramão? — Fez uma pequena pausa, depois acrescentou: — Olha só o que fez no meu carro! — Quero que seu carro se dane! Dê uma olhada no meu! apontou — Ele com um gesto exagerado. — Escute aqui, mocinha, como que se é atreve a dizer que eu sou o culpado, se você é que está na contramão? Não viu que essa rua é mão única?! Sharon engoliu em seco e apertou com mais força a direção ainda queestava segurando. — Eu... eu não sabia. Esta rua não era mão única... — Pois agora é. Será que não sabe ler as placas também? Ou tirou você carta por telefone? Como é que pode dirigir se não sabe a sinalização? ler Você é um perigo! — É claro que sei ler as placas! — retrucou ela, com ar de dade. digni— Só que não vi nenhuma quando entrei na rua! — Com certo esforço desceu do carro e foi examinar os danos de perto. — Você acha que vai dar pra andar assim? — É lógico que não — disse ele com desprezo. — Vai precisar chamar um guincho para tirá-lo daí. — Mas... mas toda minha bagagem está aí dentro... como fazervou para levar isso tudo? Desesperada, ela olhou para o banco de trás entulhado de Ela coisas. trouxera tudo o que possuía já que seu lar se desfizera. — Para onde estava indo? — para ohospital. Vou trabalhar lá. — Ah, sei. Bem, se quiser posso levar suas coisas. Meutácarro amassado, mas não afetou a parte mecânica. Ainda dá pra andar. Sharon ergueu o queixo, com ar de orgulho. — Nem por sonho! Acho que já lhe causei muito transtorno. — E como é que vai se virar, então? Você trouxe um bocado coisas, dehein?! — Posso carregar tudo, eu mesma. É só fazer várias viagens.pital O hos está perto. — Ora, não fale bobagens! Como acha que vou me sentir deixando uma garota carregar isso tudo sozinha? — Estou pouco ligando para o que você sente. — É, posso imaginar mesmo — ele já conseguira controlar-se, embora ainda estivesse 6
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com raiva — mas se está pensando queficar vou perdendo tempo com seus caprichos, está muito enganada!Vamos, saia da frente!
Ele quase empurrou Sharon para abrir a porta do carro segundo e num tirou as malas maiores e mais pesadas. Depois, levou-as até o carro dele. Sharon estava fumegando de ódio, ma não podia fazernada. Limitou-se a pegar a valise de mão e algumas quinquilharias soltas. — Agora venha cá e ajude-me a empurrar seu carro, para que fiquenão perto da esquina atrapalhando, antes que provoque outro dente aci — ordenou ele. — Não temos que notificar a polícia quando acontece umadessas? coisa — perguntou Sharon, desanimada com aquele começo denova vidatão desastrado. — Não, só quando há feridos. A não ser que esteja machucada, está? — Não. — Ela tremia da cabeça aos pés e sentia uma sensação desagradável no estômago, mas não havia ferimento visível. — Acho que devíam os anotar nomes e endereços um domas outro, isso também não é problema. Saberei onde encontrá-la. Sharon abriu a boca para dizer que não sabia nada sobre ele, nemmas chegou a falar. Neste momento, ordenou que ela entrassecarro no dele, com um tom tão autoritário que Sharon obedeceu em silêncio. — Agora vou lhe mostrar por onde você devia ter vindo — ciouanun ele. — Preste atenção. Desceram pela ladeira estreita e saíram na avenida larga de Sharon onde acabara de sair, depois viraram outra rua, um pouco mais adiante, que os levou direto ao topo da ladeira. Logo viram surgir oenorme edifício construído em tijolos vermelhos. Numa placa letras com brancas lia-se "Hospital Southaven. Filiado ao Hospital Mildred Santa de Londres".
Se não fosse por aquela odiosa presença a seu lado, Sharon se desfeito teria em lágrimas. Nunca o Santa Mildred lhe parecera tão querido e tão distante quanto naquele momento. Po quê? Por quefora louca de pensar em sair de lá? — Onde exatamente quer ficar? — perguntou o estranho. — Ah, escritório central, é melhor. Lá saberão me informar devo onde me apresentar. — Parece que você disse que ia trabalhar aqui, não foi isso? perguntou — ele em tom ameno. Era evidente a curiosidade dele e Sharon sentiu vontade satisfazê-la, de não entretanto acabou dizendo que era a nova enfermeira da enfermaria masculina. — Meu Deus do céu! — acrescentou depois, mais para si próprio. — Puxa, era só o que faltava lá! 7
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Ela pensou em perguntar o que ele queria dizer com aquilo, ele mas já estava parando o carro diante de uns degraus que conduziam a uma im ponente entrada de pedra. Juntando o máximo que podia carregar, Sharon subiu a escada e entrou num saguão cheirando limpeza, a enfeitado com flores.
O prédio anteriormente era um hotel de certa categoria, ede apesar ter sido transformado em hospital, há quase vinte anos, ainda conservava uma certa atmosfera agradável e aconchegante. Não seria de se espantar se surgisse algum camareiro para pegar sua bagagem. Em vez disso, aproximou-se um homem de cabelos grisalhos, tido com ves um uniforme de porteiro. — Em que posso ajudá-la, senhorita? — Gostaria de falar com o responsável pelo expediente, por favor. — Vendo que ele ficara indeciso, ela acrescentou: — Sou a enfermeira Lacey, que veio de Londres. — Ah, sei. — Ele se tornou mais amistoso. — Então deve com falar a srta. Anderson. Ela é a enfermeira-chefe encarregada do pessoal e o apelido dela é Número Sete. Por aqui, por favor. Sharon ouviu uma voz fria, por trás dela, dizer repentinamente: — Vou telefonar para a oficina mais próxima e providenciar quepara guinchem o seu carro. Se continuar lá, vai acabar causando outro acidente. Ele já havia deixado as malas dela no saguão e, antes que pudesse Sharon agradecê-lo, ele desapareceu, sem que ela ao menos soubesse o nome dele. Sharon virou-se para o porteiro. — Por acaso o senhor sabe quem é ele? — Quem é ele?! Mas que piada, é claro que sei! — Então será que pode me dizer, por favor? — É o Dr. Sandem an, o médico-residente, em bora eu nãoporsaiba que o chamam de médico-residente se ele não mora aqui. Mora em Maybourne. Não entendo... Ele fez um trejeito, como se estranhasse títulos que nada significam, e foi mostrando o caminho. Sharon o seguiu atônita, percebendo repente de o que significava aquilo que o porteiro acabara de lhe dizer. Aquele homem ríspido e mal-humorado iria ser seu patrão. o médico Era para quem iria trabalhar! Teria que estar inevitavelmente em contato com ele. E ela, com a idiotice que fizera, não só estragara o lindo e luxuoso carro dele, que devia ter custado uma fortuna, como também,que e oera pior, devia ter deixado nele a impressão de que ela eraineficiente, burra e desastrada! 8
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Mas que belo começo! Sharon suspirou fundo e bateu de leve portana que o porteiro lhe indicou. Uma voz límpida mandou-a entrar e ela obedeceu.
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CAPITULOII Acontece que a Número Sete era um tipo completamente diferente da maternal srta. Canham. Bem mais jovem e mais formal, discreta mente arrumada e de certa forma até bonita. Limitou-se a falar sobre o essencial, depois de ter recebido a nova enfermeira com breves palavras de boas-vindas. — Você vai ficar alojada num pequeno apartamento de quarto sala em e Clifftop que é o prédio aqui pegado. Ele pertence a nós lá só e moram os funcionários do hospital. É bem confortável, embora é claro, não se compare com as acomodações do pessoal doMildred. Santa Sharon agradeceu e despediu-se. Depois o porteiro colocou gagem a ba dela num carrinho de mão e conduziu-a pelo jardim, que muito era bem cuidado e estava lindo com as flores da primavera, atéchegarem a um portãozinho que dava o a Clifftop. Poucos minutos depois, estava sozinha, inspecionando seu novo Semlar.dúvida, era muito agradável. Ficava no primeiro andar e tinha vista para o mar. O teto era alto e as paredes pintadas de verde-claro. A mobília era confortável e simples e o estofamento das cadeiras do sofá e era estampado em tons que combinavam com o verde branco e das cortinas. Assim que estivesse arrumado com os seusprios pró enfeites, os livros nas prateleiras e outros pequenos toques pessoais, Sharon tinha certeza de que o lugar ficaria aconchegante. Na outra extremidade do corredor havia uma lavanderia enorme e uma cozinha com vários fogões onde ela poderia cozinhar refeições, suas se quisesse, quando estivesse de folga. — Não posso apresentá-la para as outras enfermeiras, agora disse—a encarregada do andar — porque estão todas de serviço nãoe há ninguém por aqui, mas espero que você faça logo amizadecom elas. Sharon esperava o mesmo, de todo o coração. Assim quem conseguisse sabe diminuir um pouco o peso da depressão que a esmagava. ou bastante tempo desfazendo as malas e guardando as coisas, depois foi até a cozinha preparar um chá. Quando vinha voltando com a bandeja na m ão, a porta tamento do apar vizinho ao seu abriu-se, e uma garota bem alta, com cabelos escuros e compridos até os ombros, saiu. Estava com uma malhavermelha e calça preta que fazia as pernas dela pareceremmais ainda compridas. Ela olhou para Sharon e esboçou um sorriso. — Oi! Sou Lesley Grant, enfermeira da unidade pediátrica.sua Traga bandeja aqui pra dentro, eu volto num minuto e nós vamos tomar chá juntas. Encantada por ter encontrado alguém de sua idade, que dial era ecoramável, Sharon aceitou prontamente. O apartamento de Lesley, quanto ao tamanho e mobília, era igual ao seu, só que era em azule branco e estava numa bagunça terrível. Havia roupas, revistas, livros espalhados Disponibilizado por Keli Cristina
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por toda parte, no chão e no sofá, e até um começado. tricô — Acho que você deve estar louca para começar a trabalhar, e? — nãoperguntou Lesley, assim que voltou pouco depois trazendo seu chá. — É horrível ficar sem ter o que fazer quando não se co nhece ninguém! Quando você começa? — Amanhã cedo, às quinze para as oito. Eu preferia ter começado hoje à tarde mesmo. Eu entro às cinco hoje, senão poderia mostrar o lugar você. praA Número Sete não pediu pra ninguém fazer isso? — Acho que não. — Puxa, mas que falta de delicadeza! Onde se viu deixarassim você perdida num lugar estranho, sem saber o que fazer! Sabeuma de coisa? Vou procurar alguém que deixe o serviço agora à tardee vou mandar ao seu quarto. De preferência uma que seja da mesma enfermaria que você... é a Ridley, não é? — Se a enfermaria masculina se chama Ridley, é. De repente Sharon lembrou-se do desagradável episódio peloara qual pouco antes de chegar ali. — O que houve? — perguntou Lesley, percebendo que a expres são dela mudara. Sharon achou um alívio tão grande ter encontrado alguém desabafar para suas preocupações que nem pestanejou. Imediatamentetou con tudo o que tinha acontecido, tintim por tintim. — Mas que coisa horrível! Puxa, mas que azar o seu! — Foi minha culpa... — Qualquer um pode se confundir assim numa cidade estranha, é natural! — É, só que Southaven não é uma cidade estranha pra mim explicou — Sharon. — Eu morava aqui, mas tenho certeza de que aquela rua não era mão única naquela época. — Ê, provavelmente não era mesmo. Aconteceram muitas ças mudan por aqui, inclusive de trânsito. — Lesley ergueu-se e foi buscar um pacote de bolachas que já estava aberto e pela metade. — Acho que elas ficaram moles... esqueci de guardar na lata. Mesmo assim Sharon pegou uma. — Ah... eu daria tudo para voltar a Londres, quando descobri que o dono do carro era o médico-residente! O chefão! Lesley fez uma expressão de pesar. — Chii... você não poderia ter encontrado alguém pior! Eleumtem xodó com aquele carro, que Deus me livre. Aposto comoficou ele uma fera, não foi? 11
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Pela primeira vez Sharon sorriu ao lembrar da raiva do Dr. deman. San — Acho que ele teve vontade de me matar. Quando descobriu eu que era a nova enfermeira dele, então, deve ter achado o cúmulo azar! do Como ele é pra trabalhar? — Ele é um ótimo médico. Muito bom mesmo. — Não foi isso que perguntei. — Bom, quando ele aparece na enfermaria infantil, é sempre to amável mui e as crianças o adoram. Mas eu nunca trabalhei paraeele não sei como age como chefe — ela fez uma pausa e acrescentou com uma piscadela irônica. — Só sei que dizem que elegênio tem um terrível, mas isso não preciso dizer, não é? — É, já percebi! As duas caíram na risada, e Lesley olhou de relance para o relógio de pulso. — Ah, está na hora de pôr meu uniforme! Sharon voltou para seu apartamento e ficou imaginando fazer o quepara preencher o tempo. Pensou em sair para dar uma volta por ali, mas lembrou-se da promessa de Lesley e achou melhor ficar.Não seria delicado se chegasse alguém lá e não a encontrasse. Assim que ouviu a tão esperada batida na porta, Sharon correu para abrir e se deparou com uma garota esguia, vestindo o uniforme azul-claro da clínica. Era muito bonita, tinha o cabelo loiro, presonum coque no topo da cabeça, as feições eram perfeitas e osazuis olhoscomo safiras. — Lesley pediu que eu viesse até aqui — ela disse meiojeito. sem— Sou Maria Hartley e trabalho na enfermaria Ridley. — Num relance ela examinou Sharon da cabeça aos pés. — Tenho algum tempo disponível e, se quiser, posso levá-la a dar um giro para por aí,você ficar conhecendo o lugar. — Ah, obrigada, é muita gentileza sua. — Não há de quê. Então, vamos? As duas desceram sem dizer mais nada e atravessaram o jardim entre o hospital e Clifftop. Quando chegaram ao estacionamento reservado para os carros dos médicos, Sharon sentiu um frio na boca do estômago ao ver o carro vermelho parado lá, com um dostodo lados riscado. No mesmo instante, Maria exclamou, surpresa. — M eu Deus do céu! O que será que aconteceu com o carro Neil?de — Neil?! — Ê. O Dr. Neil Sandeman, o médico-residente. Parece que sofreu ele um acidente! Sharon não tinha obrigação de contar nada a ela e estavavontade com de não dizer 12
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mesmo. Mas, por outro lado, se ficasse calada, depois Maria iria descobrir que ela tinha sido a causadora do aci dente e poderia achar estranho não ter comentado nada. Resolveu resumir rapidamente o que acontecera, falando depressa como se quisesse encerrar logo o assunto. A outra garota ficou horrorizada. — Puxa, mas você não viu a placa de contramão? — ela tou, pergun com ar de desdém. — Se tivesse visto, não seria louca de entrar na rua contramão! Eu tenho certeza de que essa rua não era mão única quandomorava eu aqui em Southaven — disse ela, tendo a impressão de querepetia a frase pela milésima vez. — Você é daqui? — Sou, mas há cinco anos que estava morando em Londres. — Eu também sou daqui — disse M aria, enquanto entravam hospital no por uma porta lateral. — Meu pai é dono do Grande Hotel, perto do ancoradouro de barcos, e nós temos um apartamento lá. — Então deve conhecer bastante gente daqui, não é? Foi o único comentário que Sharon fez, pois não queria demonstrar ter ficado impressionada com a importância do pai de Maria, principalmente porque sentiu que era isso que a garota desejava. — Não muita. Mas também, é claro, não estudei aqui. Estudei num internato em outra cidade da costa, bem maior. E você? Deve ter muitos amigos do tempo de escola, não é? — Não, perdi o contato com todos. Tinham agora chegado a um corredor que dava no saguãotrada de en e Maria começou a explicar animadamente que as salasrurgia de ci e fisioterapia eram no andar térreo, onde ficava também o refeitório dos funcionários. As enfermarias ficavam no primeiro segundo e no andar, e acima ficavam as acomodações dos funcionários residentes. As dependências do hospital eram bem distribuídas e tudo bem ali eramais simples em comparação com o Santa Mildred que tinha sido ampliado aos poucos, durante vários anos, e por isso pareciaum labirinto. Ali Sharon sabia que não tinha como se perder. — Acho que você está mais interessada mesmo é na enfermaria masculina, não é? — disse Maria enquanto subiam. — Posso mostrar a você onde fica, mas não podemos entrar lá agora. — Está bem. Elas pararam na porta e ficaram olhando para dentro da enorme enfermaria. Uma sala 13
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comprida com duas fileiras de camas de cada lado. Realmente era bem mais antiquada do que a moderna instala ção do hospital de Londres. Mas as enfermeiras atarefadas culavam que cir por ali usavam o mesmo uniforme e Sharon ficou esperan çosa de logo se sentir à vontade no novo ambiente. — Acho que não tem mais nada pra mostrar — disse M aria. Além — disso, meu tempo disponível acabou. — Pelo menos agora já sei onde devo me apresentar amanhãSharon cedo forçou um sorriso de gratidão. — Olha, muito obrigada, mesmo, por ter me mostrado tudo. Viraram e começaram a voltar pelo corredor. Quando chegaram no topo da escada que deviam descer, viram um rapaz todobranco de que vinha subindo de dois em dois degraus. Um raio de sol,que entrava pela janela, batia no rosto dele iluminando as feições bem marcadas e possivelmente atrapalhando sua visão, pois quase deu de encontro com as duas garotas. — Oi, Neil! — exclamou M aria em tom de contentamento. O sorriso que ele tinha esboçado desapareceu imediatamenteque assim reconheceu Sharon. — Ah, é você! Acho melhor tomar nota do seu nome agora. leva Isso apenas um minuto. Ela disse em voz baixa e ele escreveu. — Acho que o meu você sabe, não é? — ele perguntou. Sem dúvida ele achava que todo mundo tinha obrigaçãonhecê-lo, de co só porque era médico-residente do hospital de Southaven! Sharon baixou as pálpebras depressa, com medo que ele pudesse per ceber seu pensamento, através do olhar. — Fiquei sabendo agora — retrucou ela. — É melhor escrever pra sua companhia de seguros hoje àsenoite, é que tem uma! Ela ficou furiosa com aquele jeito desdenhoso dele. Convencido! Quem ele pensava que era? Tinha companhia de seguro, sim, dois e há anos que tinha carro e nunca precisou recorrer a ela! Mas nãoia dizer isso aquele arrogante! — Até à noite, Neil — disse Maria, radiante. — À noite? Ah é, é claro! Mas, olhe, pode ser que eu me um atrase pouco. A filha do Sr. Roberts vem visitá-lo hoje à noite equero eu expor a ela a situação dele, pessoalmente. — Ele não parecia muito bem quando terminei meu horário disse—Maria. — Acho que não podemos esperar melhoras... muito pouco provável. Ele continuou em direção à enfermaria e Sharon desceu com Subitamente Maria. sentiu 14
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uma certa curiosidade quanto ao tipo de relacio namento que havia entre os dois. Ela parecia ter uma certa intimidade com o médico-residente e conhecê-lo muito bem. — Você vai me dar licença, agora — disse Maria, cheia de vivacidade, quando se aproximaram da porta lateral por onde tinham entrado — mas estou com pressa de ir para casa por causa do meuencontro. Ela saiu correndo e entrou num pequeno carro estacionado perto. ali Sharon ficou observando-a com certa antipatia. Tinha certeza de que Maria nunca tinha dirigido na contramão. Sharon ou o resto da tarde sentindo-se muito solitáriadormir e foi cedo para que o tempo asse mais depressa. Na manhã seguinte, quando atravessou o jardim em direção hospital, ao o sol ainda estava envolto numa bruma úmida. Não dava para ver o mar por causa da neblina, e as flores estavam molhadascomo se tivesse chovido. Ainda era muito cedo e as outrasmeiras enfer não haviam descido. Sharon sentiu-se como se estivesse zinha so num mundo todo seu. Só que não estava mais tão deprimida, a perspectiva de começar um novo trabalho deixava-a um pouco mais animada. Quando chegou à enfermaria, encontrou a cena habitual de alvoroço. A mesma correria danada das enfermeiras da noite quebavam aca seu turno e estavam loucas para sair. Receberamna sem grande efusão, sem nem saber direito quem ela era e Sharon começou logo a trabalhar, atrapalhando-se um pouco, apenas, por não estar miliarizada fa com o lugar das coisas. Os outros enfermeiros foram chegando um a um — havia um homem também — mas só quando Portman, a enfermeira-chefe, chegou, Sharon é que foi apresentada a todos. Maria cumprimentou-a com umriso sor frio e formal e os outros pareceram amáveis, embora um tanto reservados, como se estivessem com medo de que uma enfermeira vinda do Santa Mildred fosse querer fazer pose e bancar a impor tante.
Portman era baixa e rechonchuda, de pele clara e olhos escuros, vigorosa e ativa. Não perdeu muito tempo com formalidades e encarregou logo Sharon de cuidar de seis pacientes em tratamento especial. — Sempre fazemos isso aqui, pelo menos na minha enfermaria, e eu acho que funciona melhor. Cada enfermeira se encarrega um de grupo. A enfermeira Hartley virá substituí-la quando terminar seu turno e você a porá a par do estado dos pacientes. Depois o ela fará mesmo com você. Além disso, você tem os deveres de rotina algumas e vezes terá que assumir meu lugar e ficar responsável pela enfermaria quando eu estiver ausente. Mas isso é claro, só quandovocê já estiver bem acostumada com nossos métodos de trabalho. Com um gesto rápido ela reuniu todas as enfermeiras para tório o rela diário sobre o estado dos pacientes.
Enquanto ouvia, Sharon fazia um esforço para gravar na memória os nomes e as doenças de cada um. Era uma enfermaria bem grande, maior do que muitas no Santa Mildred, e havia muitos casos graves, inclusive aquele que o Dr. Sandeman mencionara na escada, Sr. o do Roberts, que já era bastante idoso. Segundo o relatório, ele ado tinha mal durante a noite e se tivesse 15
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outro ataque cardíaco seria fatal. A m anhã ou depressa. Dois médicos estiveram lá examinando os pacientes. Um deles, muito formal, com uma equipe de assistentes, e o outro bem mais descontraído, que foi sozinho. O médico-resi dente também apareceu para examinar os pacientes dele alívio e, para de Sharon, ignorou-a completamente. Ela, por sua vez, teve-se man o mais longe que pôde. Seu primeiro dia de trabalho terminaria às cinco horas, portanto faria o período da manhã e da tarde. Tinha acabado de almoçar estava e saindo do vestiário, depois de ter colocado seu avental, quando deu de encontro com um enfermeiro. — Desculpe — disse ela, erguendo o rosto e esperando encontrar o homem pálido e meio calvo que tinha trabalhado na enfermaria manhã a toda. Mas não era ele. Esse era bem diferente. Era mais jovem, bonitão, com cabelo loiro meio comprido. Ele ficou olhando para Sharon durante alguns instantes, atônito, e de repente ela exclamou, surpresa: — Terry! É você!? — Sou eu, sim — ele deu um sorriso maroto — mas não nada fiqueilisonjeado de você não ter me reconhecido logo! — Não imaginava que você fosse enfermeiro. — E eu não sabia que você tinha voltado para Southaven. — a examinou Ele da cabeça aos pés com ar de aprovação. — Você fica bonita com essa roupa de enfermeira. — Obrigada! — Fazia muito tempo que não ouvia um elogio se tipo des e aquele a deixou contente. Chegou até a corar. — Nossa! Não posso ficar aqui, conversando — acrescentou ela, meio aflita. — Nem eu, mas nós precisamos nos encontrar o mais cedo sível.pos Temos que pôr em dia as novidades! Que tal irmos tomarma algucoisa hoje à noite, quando acabar meu turno? Eu saio às oitoe meia. — Está bem. Vou adorar! Sharon sorriu calorosamente para ele e entrou na enfermaria,uma comsensação confortante de paz, pois afinal tinha encontrado alguém conhecido. E desejou com sinceridade reatar os laços que uma vez tinham existido entre ela e Terry Whitehead.
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CAPITULO III Na época do ginásio, os meninos costumavam caçoar de porque Terry o cabelo dele era tão claro que parecia branco. Olhando furtivamente para ele, agora, enquanto trabalhavam na enfermaria,Sharon notou que o cabelo dele tinha escurecido um poucoo com tempo, embora continuasse bem loiro. E não era a única coisa que tinha mudado. Em muitas coisas ele estava diferente do garoto que ela conhecera. Estava mais maduro, é claro, e seus olhos tinham azuis adquirido um brilho zombeteiro e maroto. Você vai se orgulhar de mim hoje! — anunciou ele quando chegou para buscá-la mais tarde. — Para comemorar nosso reencontro,levá-la vou ao Grande Hotel, mas não é para acostumar. Não espere isso das próximas vezes. — Ora, eu não espero nada — disse Sharon sorrindo. — Muito espertinha! Quem não espera nada não se desespera nunca! Será que estou citando alguém, ou fui eu mesmo que acabei inventando a frase? Seguiram o caminho da colina e não muito longe pararam estacionamento no do hotel maior e mais caro de Southaven. Como era dia de semana e a temporada mal começara, ele não estava cheio nem muito movimentado. — Não é aqui que mora Maria? — perguntou Sharon. — É sim. O pai dela é o dono disso aqui. — Ela é namorada do Dr. Sandeman? Parece que eles se conhecem muito bem, não é? — Não tenho a menor idéia. Não o esse tipo frio de beleza estereotipada, por isso não tenho o menor interesse pela vida particular dela. — Ele fez uma pausa, depois acrescentou ao acaso: — Mas boato o que corre no hospital é que há alguma coisa entre eles. — Nem sempre boatos correspondem à verdade. — Sharon minou exa as janelas com elegantes cortinas. — Puxa, não entendo como é que ela é enfermeira! Parece que não combina com o tipo de vida que deve levar. — Quem sabe é um caso de vocação. Ela é do tipo que gosta fazerdesucesso em qualquer coisa que escolha. — Terry tinha parado seu modesto carro ao lado de um Rolls Royce.— Ora, mas não vamos perder tempo falando de Maria! Quero saber de você. Por que não me escreveu mais? Você só me mandou um cartão no primeiro Natal que ou longe daqui, eu me lembro. — E eu acho que você nem um cartão me mandou — ela testou, pro enquanto estavam no luxuoso saguão. Disponibilizado por Keli Cristina
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— É claro que mandei! Além disso, escrevi uma ou duas pra vezes você... ou será que fiquei só na intenção? Bem... o impor tante é que não esqueci você. — Pois é, mas eu nem imaginava que você tivesse feito de curso enfermagem. Quase caí de costas quando vi você hoje à tarde. Tinha certeza de que você ia estudar arquitetura. — Não... você fez confusão! Meus pais é que queriam que fosse eu arquiteto, mas eu sempre tive uma queda por medicina. — Então você nunca comentou nada. Guardou segredo. — É provável. Tinha medo que rissem de mim, se eu falasse que queria o ser... — Mas por que cargas d'água você não persistiu no seu objetivo e não estudou medicina mesmo? Não preferia se tornar um médico? — É fácil explicar. — Ele olhou para Sharon e sorriu. —tece Acon que eu sou tremendamente preguiçoso. Não ia conseguir estudar feito um louco durante cinco ou seis anos. É demais para mim! Nesse momento estavam entrando no bar pequeno e aconchegante que ficava ao lado do salão de entrada. O ambiente estava naumbra pen e havia poucas pessoas, umas sentadas nos banquinhos dianteodbalcão, outras nas mesinhas espalhadas nos cantinhos discretos. — E como é que você não fez estágio no Santa Mildred? Onde você fez? — Ah, eu não gosto de Londres. Fiz aqui mesmo; Southaven ótimoé para mim porque aqui tenho meu barco e a casa de meus pais, onde moro, o que sai bem mais barato do que morar no hospital! Mamãe é muito bacana e tem um coração de ouro. Assim, de um modo geral, posso dizer que estou plenamente satisfeito! — gueu Ele ero copo para fazer um brinde. — Ao nosso reencontro...abaixo e a ambição! — Ao nosso reencontro!— Ela ergueu o copo também. —tipo Quede barco você tem? — É um veleiro... é bem pequeno, mas dá pra me divertir tante. basVocê precisa sair nele comigo um dia. — Eu não entendo nada de veleiros — disse ela, indecisa. — Você aprende logo, depois de ouvir uns bons berros de Não, mim!falando sério, eu acho que não há esporte melhor do quelejar. ve Quando todas as boas condições se juntam, então... bom vento,o mar ligeiramente agitado e uma companhia agradável e encantadora! — Hum... você parece experiente — comentou ela. — E sou mesmo. Mas chega de falar de mim. Quero ouvir aconteceu o que com você desde a última vez em que nos vimos. Pode meçar co a contar sua história. Você já deveria estar casada com um belo e inteligente médico. Como é que explica isso não ter acontecido 18
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ainda? Ela riu com franqueza. — Imagina, quem sou eu?! — Essa não! Não vai querer que eu acredite que você nãonenhum teve namorado desde nosso tempo de escola. Lembra quando a gente voltava pra casa de bicicleta, juntos? — Terry ergueu umasobrancelha numa expressão que fez Sharon lembrar do garoto eleque tinha sido e que ela tanto irava. — Ora, vamos... conta aí! — Bem, por uma ou duas vezes me senti atraída por rapazes... — itiu ela. — Só isso? Estou desconfiado que você está escondendo verdade. a — É... houve alguém, sim, que significou algo mais sério.alguns Há meses comecei a sair com o assistente de um médico do Santa Mildred e... e — a voz dela vacilou um pouco — eu estava mesentindo muito feliz, mas na verdade não combinávamos muito e...bem acabou dando em nada. Agora, até já me esqueci dele... ou quase. — Que pena!— Ele segurou a mão dela num gesto amistoso. — Azar desse cara, ele não sabe o que perdeu! — Só que ele não pensava assim. Preferiu uma loira bematraente mais do que eu. — Você é muito modesta — Terry analisou o rosto dela mais vez. uma — Seu nariz é ligeiramente arrebitado, você tem umas sardas encantadoras e sua pele é linda. O seu cabelo tem uma cor castanhadiferente, que eu acho uma maravilha. Sharon ficou comovida e contente, ao mesmo tempo em quegraça. achou — Obrigada por essas palavras tão amáveis. Você conseguiu mente real me animar um pouco. — Não foi por isso que as disse. Acontece que acho isso verdade. — Ele se ergueu e pegou os copos vazios. — Vou buscar mais bida beno balcão. Ficaram no bar mais algum tempo, até que ele começou a ficar muito cheio de gente e barulhento. A maior parte da conversasobre foi o ado que tinham vivido juntos e evitavam os assuntos dolorosos. Quando Terry a levou de volta a Clifftop, Sharon estava sentindo-se feliz como há muito tempo não se sentia. — Puxa, nem perguntei de seus pais — disse ela, sentindo-se meio culpada, quando já estavam parados na porta de entrada do prédio. — Espero que estejam bem! — Ah, estão sim... estão ótimos. Quero que você faça uma visita eles, logo. a — Eu adoraria, obrigada. Vou sim. Sempre gostei de seus pais ela estava — com um 19
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ar melancólico. — Lembro que gostava muito tomar de lanche na sua casa. — E você? Não falou de seus pais nem uma vez! — Terry colocou as mãos nos ombros dela e olhou-a fundo nos olhos: — Eu devia ter perguntado deles, é claro, mas falamos tanto sobre nós mesmos que... — ele parou, sentindo-se consternado. Os olhos de Sharon tinham-se inundado de lágrimas de repente. malEla conseguia controlá-las. Não se importava de falar sobre mance seu ro fracassado, mas seu lar desfeito era algo que a tinha machu cado muito profundamente, para que conseguisse tocar no com assunto naturalidade, por isso o evitava. Entretanto, agora não conseguia se reprimir mais. Acabou contando tudo a ele. Terry ouviu atenta mente e a deixou chorar à vontade em seu ombro. — Eu... eu molhei toda sua camisa... — disse ela, emdetom quem se desculpa, depois que conseguiu controlar o choro. — Não se preocupe. — Ele tirou um lenço do bolso e enxugou com cuidado o rosto dela.— Chorar faz bem, é o que dizem. acho E que você estava precisando disso. Podia ser que fizesse bem, mas Sharon estava se sentindo horrível. Os olhos ardiam e ela sentia as pálpebras inchadas. Ainda bema que luz, ali na entrada, era fraca. — Sinto muito... me desculpe — disse ela já mais calma, tandotense afastar do abraço confortante. Mas Terry a deteve, apertando-a de leve. — Você não pode entrar assim... ainda não nos despedimos como se deve. Nesse momento, o som de vozes que se aproximavam fez quecom ela se afastasse dele. Eram enfermeiras que tinham terminado seu turno e vinham voltando do hospital. Sharon não quis despertar a curiosidade delas. — Não, Terry, eu preciso entrar mesmo. Obrigada por levado ter mepara ear e... por tudo. — Ora, sempre que precisar de um ombro amigo para chorar mágoas, as lembre-se que estou às ordens — ele disse sorrindo. — Não tenho o costume de chorar no ombro de ninguém, qualquer mas de maneira, agradeço muito. Boa noite. Ela subiu devagarinho, pensando no eio que tinha feito companhia e na agradável de Terry. Concluiu que gostaria que isso tecesse acon mais vezes, sem o episódio final das lágrimas, é claro. Realmente fora uma boa idéia da Srta. Canham tê-la mandado para thaven! sou
Pouco depois, enquanto trocava de roupa, ocorreu-lhe queuma havia coisa que não contara a Terry. Era lógico que ele iria ver o estado em que tinha ficado o carro do Dr. Neil, ma talvez com umpouco de sorte não ficasse sabendo quem ocasionara aquilo.que Assim os dois carros estivessem consertados, esse era um episódioqueria que apagar de sua vida para sempre. 20
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Só que, por enquanto, não conseguia esquecer. De manhã, a enfermeira da noite apresentou o relatório Roberts, do Sr. que não ara nada bem, por isso o Dr. Neil foi vê-lo bem mais cedo do que sua visita costumeira à enfermaria. Como o velhoera paciente de Maria, que estava de folga naquele dia, quem encarregada estava dele era Sharon. Médico e enfermeira ficaram um de cada lado da cama olhando para o paciente, com rostos sérios. O Sr. Roberts estava com um lado todo paralisado, não conseguia falar e estava quase inconsciente. Nãomostrara sinais de recuperação desde que entrara no hospital e os dois sabiam que um segundo ataque do coração poderia ocorrer qualquer a momento. Neil balançou a cabeça de leve e afastou-se. Sharon o seguiu. — Não há mais nada que eu possa fazer — disse ele em vozxa. bai— Nem sei como ainda está vivo. — Ele tem família? — perguntou Sharon. — Tem uma filha, mas ela mora no emprego e não pode conta tomardele. Ele veio de um asilo de velhos e creio que o seu futuro não é nada promissor. Mesmo que, por algum milagre, consiga uma recuperação parcial, não poderá voltar para lá. Terá que ser ferido transpara uma clínica geriátrica. Sharon acompanhou o médico até a porta, em silêncio, preocupada com o problema dos velhinhos que ficam doentes e são abandonados por todos. Ninguém mais quer saber deles. Estava tão absorta que chegou a esquecer que não gostava do Dr. Neil. Por isso ela se assustou com o que ele disse a seguir. — A propósito, acho que devo lhe pedir desculpas, enfermeira. Creio que fui extremamente rude com você outro dia. Sharon ergueu os olhos, atônita, e deparou com o rosto impene trável dele. Sem dúvida, estava pedindo desculpas só por uma ques tão de educação. — Acho que eu merecia essa consideração — ela disse impetuo samente. — É, devo concordar com você, mas é que... bem... euado tinha um dia terrível e aquele acidente foi a gota d'água. Por minha isso reação foi tão violenta. O tom de voz dele era formal. Num rápido olhar, Sharon analisou rosto de o Neil e descobriu que estava cheio de contradições. O arrogante nariz e o queixo agressivo expressavam severidade e força, mass olhos, o com cílios longos, podiam ser suaves e meigos como ele quando olhara para o Sr. Roberts. Quanto à boca, era bem-feita e sensual dando um toque de paixão ao rosto. De repente Neil percebeu que estava sendo observado e encarou Sharon, que desviou o olhar depressa. — Quando seu carro vai ficar pronto? — ele perguntou. 21
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— A parte de funilaria na semana que vem, daí fica faltando a pintura. só — Ela fez uma pausa, ansiosa para encerrar o assunto, mas acabou perguntando sobre o carro dele porque achou que seriafalta de educação não fazê-lo. — O meu também só falta pintar — ele respondeu, e o voz tom pareceu de ainda mais impessoal. — Acho que nem preciso lhe como dizer vou ficar contente quando ele estiver pronto, não é? Ele saiu e fechou a porta, e quando Sharon ia se virar paramaria, a enferindignada, ouviu uma voz bem jovem e ousada. — O problema dele é que leva tudo muito a sério, não é? irada, Sharon olhou para a estudante de enfermagem quem comaté então não tivera nenhum contato. O rosto da garotaredondo era e infantil e ela sorria com jovialidade. Parecia muito segura de si, apesar de estar apenas no primeiro ano, o que era reconhecível pela fita verde que usava em volta da touca. — Estou aqui há muito pouco tempo para saber — respondeu Sharon, com certo constrangimento. — Então logo vai descobrir, enfermeira! Sharon ignorou o comentário, mas na primeira oportunidade guntou pera uma outra enfermeira quem era aquela estudante de menfer agem. — É M aureen Ferguson. Por que, ela andou chateando você? — Não, não é isso, é que ela me pareceu meio convencida. — Meio não, ela é muito convencida. E não sei por quê. Essa a segunda já é enfermaria em que ela trabalha e ainda não adquiriu nhuma ne prática! — Acho que ela é uma chata, isso sim — disse Sharon, franqueza. com A enfermeira Harding titubeou. — É... às vezes ela é chata, mas... bem, os pacientes gostam muito dela e acho que no fundo ela tem bom coração. — Talvez melhore quando tiver mais experiência — consertou Sharon, com um pouco mais de tolerância. — Espero que sim... se ela não matar ninguém antes! —a outra disseenfermeira. — Quanto a isso, não tem perigo. Ninguém vai encarregar primeiranista uma de uma séria responsabilidade! — disse a enfermeira Harding. — Ah, é claro. Estava só brincando. — A outra sorriu. —que Creio foi uma piada de mau gosto. 22
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Mas, pouco depois, isso realmente quase aconteceu.
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CAPITULO IV Alguns dias mais tarde, a enfermaria ficou pela primeira avezresponsabilidade sob de Sharon. Era depois do almoço e havia apenas duas estagiárias trabalhando com ela. Logo seria horário de visitase por isso não se julgava necessário uma grande equipe em ou serviço, enfermeiras já formadas. — Creio que não terá problemas, Sharon — disse a enfermeirachefe antes de sair. — Não tem os nenhum caso grave no m omdesde ento, que o Sr. Roberts morreu, mas, em todo caso, é melhor ficar de olho no Sr. Jennings. Ele é um paciente difícil e teimoso de e gosta desobedecer as ordens que são para o seu próprio bem. — Sim, senhora. Sharon não estava nervosa com a nova responsabilidade,estivera pois já várias vezes em posição semelhante no hospital de Londres, só que preferia ter enfermeiras mais experientes sob seu comando. Jane Smithers era uma garota bastante responsável, embora muito fosse vagarosa, mas a outra, infelizmente, era Maureen. Assim que a enfermeira-chefe saiu, Sharon mandou as duasriasestagiá percorrerem a enfermaria, uma em cada fileira de camas,verificar para se todos os pacientes estavam bem acomodados e prontos para a sesta. Enquanto isso, sentou-se à escrivaninha e ocupou-se com alguns papéis de rotina. As duas voltaram dizendo que estava tudo em ordem e todos savam pasbem, e foram para a cozinha levar os pratos e preparar as xícaras para a hora do chá. Sharon ficou sozinha n enfermaria ondehavia uma atmosfera de sonolência. Alguns pacientes já roncavam e os que preferiam não dormir estavam lendo calmamente. O tempo ia ando e as duas não voltavam. Sharon podiadeouvir, onde estava, as vozes abafadas delas conversando, mas não chamou as de volta porque não havia necessidade. Quando, afinal, olhou o relógio e achou que já era hora de chamá-las para prepararem a enfermaria para as visitas, ouviu um grito aflito que vinhaesquerda. da ala
Imediatamente ergueu-se e correu para lá para ver de que se Dirigiu-se tratava. para a cama do paciente que acenava com a mão, mas quando chegou, viu que ele estava preocupado era com o doente da camaao lado. — É o Sr. Jennings, enfermeira. Está com uma respiração sita... esqui está fazendo um barulho estranho. Sharon ficou alarmada. O Sr. Jennings tivera pneumonia complicara que se com problemas cardíacos, já estivera muito mal, masmelhorado. tinha Disponibilizado por Keli Cristina
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Agora lá estava ele, sufocando, com os lábios azulados, deitado na cama, o rosto lívido. Sharon constatou rapidamente o estado e,delecomo viu as duas estagiárias entrando na enfermaria, chamou-as com um gesto autoritário. Elas vieram depressa, o susto e o medo estampado nosjovens, rostos e Sharon falou rápido, em voz baixa. — Enfermeira Maureen, vá telefonar para o médico-residente diga ae ele que é urgente. Enfermeira Jane, você fica aqui para ajudar. me Sharon usando toda a força que podia, segurou o paciente sentado enquanto a outra erguia a cabeceira da cama e ajeitava os travesseiros que estavam empilhados na cadeira. Depois, parou um pouco paratomar fôlego e então, sentindo no rosto uma corrente de ar cebeu frio, perque a janela ao lado estava aberta. — Foi você que abriu essa janela? — perguntou com severidade. — Não — respondeu Jane — mas parece que ouvi o Sr. Jennings queixando-se de que estava com calor e...— ela parou por aí,era masevidente que ia dizer que Maureen tinha aberto a janela. A respiração do paciente parecia ter melhorado um pouco eresolveu Sharon tomar o pulso dele. Apesar da aparente melhora, ela estava ciente de que a crise não tinha ado e ele devia estar muito mal.Ah, se pelo menos o Dr. Neil chegasse logo... Foi com enorm e alívio que Sharon percebeu a figura dele, branco, de entrando na enferm aria e cam inhando em sua direção os com largos. Só então lhe ocorreu que ela aria maus momentos para explicar o que acontecera.
Neil se aproximou da cama e não perdeu tempo fazendo perguntas. Os dois ficaram alguns minutos em silêncio, preocupados, enquanto ele tomava as providências necessárias. Os outros pacientes pareciam não estar percebendo o que se ava ali. O médico aplicou uma injeção para ajudar a respiração do paciente e o fez inalar oxigênio. Só então a cor voltou ao rosto dele e Neil considerou-o já medicado e caminhou até a escrivaninha acompanhado de Sharon. — Agora — disse ele em tom brando mas com frieza — que gostaria me explicasse o que aconteceu. As duas estagiárias estavam paradas perto deles, Jane cominfelicidade cara de e Maureen com ar petulante de desafio. Sobre seu cabelo cacheado e escuro, a touca estava meio torta e no avental havia uma pequena mancha de café. Sharon explicou a Neil o que sabia, sem ousar encará-lo. — Sei. M as quem é que deixou o paciente ficar deitado nenhum sem travesseiro? — ele perguntou. Sharon titubeou e então M aureen se aproximou. 25
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— Foi minha culpa. Assim que eu abri a janela, ele disse estava quecansado de ficar sentado e me pediu para tirar os travesseiros para que pudesse se deitar. — Ela olhou para Sharon com reprovação. — Você disse que era para verificarmos se os pacientes estavam ortáveis confe prontos para a sesta, enfermeira.
— Sei, sei... — A voz de Neil interrompeu incisiva. —certeza Tenhoque isso não vai se repetir. Da próxima vez, lembre-se de consultar alguém mais experiente, antes de tomar a decisão d alteraro tratamento do paciente, mesmo que ele esteja pedindo. — virou-se Depois, para Sharon e perguntou: — Quer fazer o favor de me acompanhar até minha sala?
Ela o seguiu relutante, sentindo-se como uma colegial que mada é cha à diretoria. Sabia que o médico tinha autoridade para repreendê-la e se fosse outro, no caso, aceitaria com calma repreensão,mas tratando-se de Neil era diferente. Sentia-se humilhada. Por assim isso, que ele fechou a porta da sala, já foi falando antes que ele tivesse tempo de articular uma palavra. — Sinto muito, doutor! Sei que a responsabilidade pelo que teceuacon é toda minha. — Tirou as palavras da m inha boca, enferm eira. Com o é que confiou vocêplenamente naquelas duas e não foi verificar se elas tinham feito tudo direito? Sharon encolheu os om bros. — Realmente, confiei dem ais nelas. Achei que não podiam nenhuma fazer besteira executando uma tarefa tão simples. — M as de M aureen pode-se esperar que com eta tolices quer em qual circunstância!
Sharon olhou para ele, irada. Ele tinha falado como se conhecesse o grau d responsabilidade de todas as estagiárias. Ou será que a fama de Maureen já chegara até ele, atrav de boatos?
— É lamentável que a vida de um hom em tenha corridodevido perigoà simples falta de atenção. Mas estou certo de que você percebeu a gravidade do que aconteceu, por isso não vo falar mais nada. Quando ele saiu, Sharon suspirou fundo e tentou relaxar aSó tensão. então percebeu que estivera apertando as mãos a ponto de fincar as unhas na carne, deixando marcas, e que o seu coração batia des com ado. Mas não podia ficar trancada ali o resto do dia, do contrário pioralgo ainda poderia acontecer. Além disso, devia estar presente nadas hora visitas, por isso precisava voltar urgente para a enfermaria. Sharon procurou manter a calma e voltou para lá. Sabia que tardemais precisaria dar outra explicação desagradável e desta vez àmeira-chefe. enfer Entretanto não seria tão humilhante 26
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quanto a primeira. Quando encontrou Terry no refeitório contou a ele o desagradável episódio e ele a consolou dizendo que tudo logo seria esquecido. — Tenho um horrível pressentim ento de que o Dr. Neil esquecer não vai isso tão facilmente. — Puxa, você não tira esse homem da cabeça! Por que não pensar tentaem outra coisa, pra variar? Sharon riu e prometeu fazer a tentativa, o que o deixou mais tente condo que ela esperava. Imediatamente depois Terry a lembrou que deprometera ir velejar com ele algum dia. — Temos que esperar até que nossas folgas coincidam — disse ela. — É, mesmo porque o barco está precisando de uns reparos e eu tenho não saído com ele. Domingo que vem vou até lá ver o posso que fazer. Não gostaria de ir junto pra dar uma olhada? Ela balançou a cabeça, dizendo que não, e assim que viu o olhar de decepção de Terry explicou a ele que já se comprometera a ear a pé com Lesley se o tempo estivesse bom. No domingo de manhã, enquanto as duas estavam de serviço, céu estava o azul e o sol agradavelmente quente. O mar quebravaareia na em ondas calmas. Mas na hora do almoço as nuvens começaram a se acumular e o vento mudou. — Não parecem nuvens de chuva — disse Lesley. — Achonãoque precisamos nos preocupar. Podemos fazer o eio que binamos. com — Não podemos voltar de ônibus depois? — Preguiçosa! Não tem ônibus pra lá domingo e mesmo que tivesse estragaria a graça do eio. No começo Sharon tentava acompanhar os os largos de Lesley com certo esforço, mas depois conseguiu entrar no ritmo da caminhada e até começou a gostar da coisa. Era uma subida íngreme até o topo do rochedo mas a vista lá valia de a pena, era linda. De um lado o mar se estendia a perdervista, de a água brilhando ao sol e a espuma branca das ondas. E dooutro a grama era verde e nova e em certo ponto dava para avistar um pequeno agrupamento de casas. — Aquele lugar se chama Maybourne, não é? — perguntou Sharon. — Eu me lembro que só tinha uma fazenda e alguns chalés por ali. — É, mudou um pouco com o tempo. Os chalés viraram táveis confore modernas casas que as pessoas usam para férias. Algumas moram lá e trabalham em Southaven. O médicoresidente é uma delas, não sabia? 27
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— Nunca me preocupei em saber onde é que ele morava. Enquanto as duas caminhavam, conversando, surgiu um cachorro grande de pêlo curto e claro que foi até elas abanando o rabo.duas As pararam para acariciá-lo e quando continuaram a andar perceberam que ele as estava acompanhando. — Ei! Volte pra casa, vamos! — Lesley virou-se e bateu palmas pra ele. O cachorro parou, olhou para elas com olhar de súplica e quando as duas andaram de novo continuou a acompanhá-las um pouco distância. a — Parece que ele quer mesmo vir conosco — disse Sharon. Quem — sabe os donos não eiam com ele. — Talvez... e cachorros dessa raça são sempre mansos e meigos. — Lesley tentou mais uma vez afastá-lo, mas foi inútil. Afinal, dedeu ombros e desistiu. — Também não tem importância que ele venha atrás da gente. Vamos voltar por esse mesmo caminho. Uma hora e meia depois já tinham andado bastante e resolveram sentar-se para descansar. O cachorro também parou e deitou-se lado aodelas. Sharon estendeu-se na grama. As nuvens ainda não tinham dido escon o sol, que batia em cheio no seu rosto. Estava um calor agradá vel e o ambiente era maravilhoso. Há muito tempo que não se sentiaassim tão tranqüila. Naquele momento não estava preocupada com nada, apenas desfrutava o prazer de estar ao sol irando aquela linda paisagem. A única preocupação era voltar a tempo de entrar no serviço às cinco horas. Lesley sentou-se e bocejou. Naquele instante uma nuvem toldou negra o céu. — Chii, olha só quantas nuvens pretas!— disse Lesley. melhor — É irmos andando se não quisermos ficar ensopadas. Vamos acabar pegando chuva na volta. O cachorro ergueu-se imediatamente e ficou esperando queandassem. elas Sharon vestiu a malha que trouxera, pois com o sol escon dido o tempo tinha esfriado. Os três pam-se a caminho com pas sos rápidos. Os cabelos das duas garotas iam tremulando ao vento. Quando estavam a meio caminho de Maybourne, começou a chover. Os pingos começaram a cair grandes e espalhados, no início, masselogo transformaram num temporal. Num instante suas roupas ficaram ensopadas e coladas no corpo. — Você deve estar me odiando, não é? — perguntou Lesley. Sharon riu e ou a mão no rosto. — Ora, que bobagem. Até que é gostoso tomar uma chuva forte assim como essa, de vez em quando. É revigorante! Depois, apesar de molhada, não estou com frio. — Ela olhou para o cão que ia andando na frente delas. — Olha só o cachorro... está ensopado. Os donos dele 28
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vão ficar furiosos. — Não foi nossa culpa, ele é que veio atrás da gente! Quando estavam se aproximando do vilarejo de onde o cão viera, perceberam um ponto vermelho perto dos rochedos. — Parece que tem alguém parado lá, com um impermeável vermelho — comentou Lesley. — Que idéia maluca, apreciar a paisagem com um tempo desses! — Será que tem alguma coisa a ver com o cachorro? Pode ser o dono procurando por ele, não acha? Sharon, evidentemente, estava certa, pois o animal se pôs a correr em direção à pessoa de capa, abanando o rabo e latindo contente, como se estivesse fazendo festa. Quando as garotas se aproximaram viram que se tratava de um rapaz de uns dezenove ou vinte anos, com o cabelo escorrido no rosto, que olhou para elas indignado. — Mas que diabo! Onde é que vocês duas levaram nosso cachorro? — Nós não o levamos a lugar nenhum — disse Lesley com calma. — Ele é que nos seguiu quando amos por aqui há algum tempo. Não quis saber de voltar! O rapaz se acalmou. — É... ele é manso demais, esse é que é o problema. Faz amizade com todo mundo. — Ele acariciou a cabeça molhada do cachorro. — Não é mesmo, Bronco? Nesse momento Sharon começou a sentir frio. — É melhor irmos andando, Lesley. Estou louca pra tomar um banho quente antes de vestir o uniforme. — Vocês estão a pé? Vão andar até Southaven?! — perguntou, horrorizado, o dono de Bronco. — Já estamos molhadas, mesmo, além disso não temos escolha. — Você falou algo sobre uniforme — disse ele, olhando para Sharon. — Por acaso você é enfermeira? Ela confirmou e mais uma vez insistiu com a amiga para irem embora. — Meu irmão está indo para Southaven, agora mesmo. Acho que ele pode dar uma carona para vocês. Por que não vamos perguntar a ele? — Ah, não precisa, obrigada — disse Lesley. 29
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O fato de terem parado aqueles minutos fez com que Sharon desse pero entusiasmo de caminhar na chuva. A roupa molhada começou a incomodá-la e percebeu que o calcanhar estava ardendo. Bem que gostaria de voltar de carro. Seria rápido e confortável. — Pois eu adoraria se pudesse pegar essa carona — disse elafranqueza, com mas depois hesitou. — Só que, estamos tão molhadas... acho que estragaríamos o carro de seu irmão. — Ora, que besteira, água depois seca! E num instante vocês gamche lá. Vamos, eu falo com ele, se vocês quiserem. — Então, está bem — Sharon olhou para Lesley. — Vocêvainão insistir em andar até em casa, vai? — Não — disse ela com uma estranha expressão no rosto. As duas seguiram o rapaz. aram por dois chalés de jardins floridos com canteiros de tulipas, e um pouco mais adiante chega ram a uma enorme casa que ficava mais afastada da estrada. Quando Sharon viu o carro que estava parado na frente dasentiu casa, um calafrio e estancou imediatamente. Era um belo carro esporte vermelho, que ainda estava com a pintura arranhada.
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CAPÍTULO V Sharon olhou para Lesley com ar de acusação. — Você bem que podia ter me avisado, não é? — Mas eu não tinha certeza. Estava só desconfiada de que aquele era o irmão do Dr. Neil. Afinal, não conhecia Jonathan... — Não entro naquele carro nem que me paguem! — declarou Sharon com veemência, mas em voz baixa porque Jonathan estava perto. — E quem é que vai pagar você pra isso? — Lesley riu, sacudindo a água do cabelo. — Quero só ver como é que vai sair dessa, agora! — Eu dou um jeito! — O que está pretendendo fazer? Mas antes que Sharon pudesse responder, o médico surgiu, do vindo fundo da casa. Ele ouviu a explicação de Jonathan sobre as duas enfermeiras sem mostrar nenhum entusiasmo. — Gostaria muito de poder lhes dar uma carona... — disse ele, evasivamente, olhando para o corpo de Lesley que as roupas molha das delineavam bem. — Mas acontece que meu carro é esporte e sótem dois lugares... — Ora, tem espaço de sobra! — interrompeu Jonathan.— Você precisa ver o meu carro como fica apinhado de gente, quando quero! eu — Também, você não vai querer comparar sua charanga com velhameu carro, não é? — Depois, tentando atenuar sua atitude licada, inde ele sorriu para as duas. — Realmente, sinto muito... — Não tem importância — disse Sharon, depressa. Depois, virou-se para Lesley e acrescentou: — Aceite você a carona, eu não memodo inco de ir a pé, eu... — Deixa de ser maluca! Você é que estará de serviço hoje turno e seué às cinco horas! — Sabe de uma coisa?! — interrompeu Jonathan que começou ficar aimpaciente com aquela conversa mole. — Eu vou a Southaven. Vou só fazer uma regulagem no meu carro antes, vai demorar uns vinte minutos... Já que você não está com tanta pressa... — olhou Ele para Lesley. — Você fica aqui e espera por mim e sua amiga vai com Neil. Não é uma boa solução? Sharon não pensava assim e tinha certeza de que o médico também não concordava com a idéia. Numa última tentativa de escapar daquela situação embaraçosa, disse que estava molhada demais e pode ria estragar o estofamento do carro. 31
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— Tem um plástico no porta-malas — disse Neil. — Posso oforrar banco com ele. E foi o que ele fez. Sharon percebeu que o plástico estava cheio pêlos de de cachorro e concluiu que ele devia usar aquele forro para Bronco. Não pôde deixar de sentir-se constrangida em vê-lo protegero carro contra ela, daquele jeito. Entrou em silêncio, sentindoeraiva revolta. — Faz tempo que mora em Maybourne? — ela perguntou com afetada, voz só para ser gentil e quebrar o silêncio. — Quase toda minha vida morei aqui. Esse lugar mudou bastante com o tempo. — É, eu me lembro, era um vilarejo bem pequeno. Ele a olhou de relance mas Sharon não moveu o rosto, pois queria não olhar para Neil. Tinha certeza de que ele devia estar sorrindo com sarcasmo. Entretanto, quando ele falou, o tom de voz foi amável. — Ainda continua pequeno, graças a Deus, e não perdeu o aspecto pitoresco e rústico. — E você gosta disso? — Ah, gosto muito! — Houve um pequeno silêncio, depois disse Neilcom paixão. — Todo mundo precisa de uma forma de fuga,láseja qual for, e a minha é a vida rústica e simples. Eu poderia morar no hospital, se quisesse, mas sei que ia sentir muita falta dissodoaqui, sossego e da paisagem de Maybourne. Minha mãe preferiria morar em Southaven, pra Jonathan tanto faz, embora no momento acho que ele prefira Maybourne porque a namorada dele mora lá. Talvez a mãe dele fosse viúva, pois Neil não falara no pai, todoemcaso Sharon não iria perguntar. Tinham acabado de entrarcidade na e como o trânsito estava bastante movimentado ela resolveuficar quieta. — Muito obrigada pela carona — ela disse apressada e meio jeito, semquando chegaram ao hospital. — Foi um prazer ter sido útil. — Ele também mudara o tom voz.de — Agora você tem tempo de sobra pra tomar um banho quente. Sharon subiu a escada correndo, contente de estar chegando casaem e poder se livrar daquelas roupas molhadas. Afinal, o trajeto de carro com o médico não fora tão desagradável quanto ela imagi nara. Quando não estava de mau humor ou sarcástico, ele até que era não ruim... e com a aparência que tinha, se ele quisesse poderia atéser atraente! Mais tarde, quando terminou seu turno, Sharon foi ao apartamento de Lesley para tomar um café e ouviu a história de como ela voltara de carro com Jonathan. — Puxa! Não sei como consegui chegar inteira! — Lesleyfezriuuma e careta. — Aquele cara dirige feito um louco... precisacomo ver ele corre! É verdade que estava atrasado para o encontro coma namorada... também ele demorou um tempão consertando o Fiquei carro! 32
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cheia de tanto esperar! — Ah, deve ter sido horrível ficar lá parada com as roupas lhadas! mo — Até que não teve problema, ele me levou pra cozinha fiquei e euquase seca. — Você conheceu a mãe dele? — Muito rapidamente, só a vi quando já estava de saída. que Acho ela estava cochilando, mas ela não tem cara de mãe... sei melá,pareceu meio coquete, não consigo imaginála cuidando de crianças! — Também ela já não tem mais crianças pra cuidar, não riu é? Sharon — e aproveitou para perguntar sobre o marido. — Ele morreu há uns cinco anos. Parece que o chefe da casa, é Neil lá,e ele deve levar muito a sério sua responsabilidade. Sharon pensou o mesmo mas não disse nada. Reclinou-se na cadeira, sentindo um cansaço agradável por todo o exercício que tinha feito durante o dia. — Ah, tenho mais uma novidade pra contar! — disse Lesley repente. de — Adivinha quem é a namorada de Jonathan! — Não tenho a menor idéia. — É Maureen. Imagina só que belo par! — Não acho que combinem — protestou Sharon — Jonathan pareceu me um cara bacana. — É, mas dizem que ele é meio rebelde e caipira. Dizem até eleque gosta de beber. — Ela abafou um bocejo. — Bem, quem sabe umaé fase... Você trabalha amanhã cedo? Sharon disse que sim e foi para seu quarto. Estava com tantoquanto sono a amiga. Adormeceu assim que se enfiou na cama. No café da manhã, ela viu Terry sentado sozinho num canto refeitório. do Parecia estar triste. Ele fez um sinal para que Sharon fosse lhe fazer companhia e ela se aproximou. — Puxa, que azar! Ontem, tive que trabalhar a manhã toda, quanto en o dia estava lindo. Depois, à tarde, quando fiquei de folga e fui para o barco, caiu aquela chuva e... — Não foi só no seu barco que choveu! — riu Sharon — Lesley e eu voltamos do eio encharcadas! — Ah, é mesmo? Esqueci que vocês iam subir a colina. éComo que foi? — Foi maravilhoso, enquanto não começou a chover — ela hesitou um instante, depois resolveu não contar como tinha voltado. — você? E O que estava fazendo no barco? 33
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— Raspando o casco dele. É preciso fazer isso, uma vez por pelo ano, menos. Graças a Deus já estou quase terminando, talvez daqui a uma semana dê para ele voltar ao mar. É melhor verificarmosnossos horários para ver quando nossas folgas coincidem. Podíamos marcar já o dia de sairmos no veleiro. — Será que não vou atrapalhar você? Pensei que preferissegarota uma que soubesse velejar... — Ora, você só precisa aprender a se esquivar da vela... é fácil! resto Ovou ensinando aos poucos. — Term inou de tom ar o café mudou e de assunto. — Aconteceu alguma coisa interessante na enfer m aria ontem ? — Trouxeram um hom em que teve enfarte num a igreja echegou depoisum garoto diabético, em estado de coma! Foi uma correria! — V ocê ainda não viu nada! Espere só com eçar a tem porada, você vai aí ver que movimento!
Quando Lesley entrou de serviço, verificou que os dois pacientes estavam melhorand com o tratamento recebido. O garoto diabético já estava quase bom, mas ainda precisava fic mais um pouco no hospital. No fim da tarde ainda chegou mais um caso urgente. enfermaria A ficou tão cheia que foi preciso acrescentar dois leitos. Sharon estava trabalhando no turno tarde-noite, aquele dia, significava o que que ficaria de plantão até às nove e meia trabalhando, portanto, algum tempo com as enfermeiras da noite que entravamàs oito e meia. Em certo momento o telefone tocou e ela foi atender. Eradade da uni de pronto-socorro, dizendo que tinham trazido um rapaz queencontrado fora inconsciente em sua casa, pelos vizinhos. — É m elhor colocá-lo no quarto ao lado — decidiu ela. mente — Real não temos condições de colocar mais leitos aqui. Nós mos trataredele lá mesmo. Logo depois chegou a maca com o paciente, seguida do residente. m édico— É melhor você presenciar o exame e o diagnóstico — disse ley, Lang a enfermeirachefe, para Sharon. — Este paciente vai ficar seus sobcuidados amanhã. As duas enfermeiras ficaram uma de cada lado, atentas eenquanto sérias, Neil examinava minuciosamente. O rapaz continuava incons ciente e era difícil estabelecer um diagnóstico preciso.
— Pode ser um tipo de vírus — disse Neil, alguns minutosquando depois,já estavam no corredor. — Essas coisas às vezes atacam assim, repentinamente. Pelo que nos disseram ele estav em perfeitas con dições há vinte e quatro horas. — O senhor acha que devemos tratá-lo com precauções especiais? — perguntou Langley. — Bem, ainda não sabem os o que ele tem, mas é bom tom precauções, arm os sim. É 34
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realmente conveniente que ele fique no quarto lado, ao separado, e nós três devemos ar pela desinfecção antes de sairmos. E foi o que fizeram. Sharon estava enxugando as mãos cuidadosa mente quando ouviu uma voz cansada que se dirigia a ela. — Será que pode me arranjar um pouco de café? Estou precisando me reanimar um pouco. Ela se virou e viu Neil. Percebeu que ele estava com olheiras edesinais cansaço nas feições. Parecia tão exausto que ela realmente teve pena dele. — É claro que sim — respondeu solícita. — Quer vir aténha a cozi comigo ou prefere esperar na sua sala? — Não, na cozinha está ótimo... desde que tenha uma cadeira lá. — Sharon garantiu que sim e foi na frente. Em poucos minutos ferveu, a água ela preparou o café e serviu Neil que se sentou à mesa e rou segua xícara com as duas mãos, como se quisesse aquecê-las. — Já terminou por hoje, doutor? Está indo para casa? Neil deu um gole saboreando o líquido quente e balançou a cabeça. — É, graças a Deus! Estou aqui desde as cinco horas da manhã e quase não parei um minuto. — Ele olhou o relógio de pulso. Você — também está ando do horário, não é? Sharon explicou a divisão de turnos e disse que o dela terminaria dali a dez minutos. Neil continuou a tomar o café em silêncio e Sharon ficoutada encos na pia, indecisa, sem saber se o deixava lá sozinho ou se ficava fazendo companhia a ele. Nesse momento entrou uma estagiária comum carrinho cheio de canecas usadas que havia recolhido na maria. enfer — Ah, desculpe, doutor... não sabia que estava aqui —adisse moça, assustada. — Eu ia lavar essas coisas... mas acho melhor deixar pra depois. — Ora, fique à vontade — disse Neil, erguendo-se. — Aliás, mais temuma xícara pra você lavar. — Ele colocou a caneca que usara no carrinho e virou-se para Sharon. — Muito obrigado. Estou me sentindo um homem novo, agora. Boa noite. Ele sorriu, depois afastou-se pelo corredor. Sharon ficou sionada impres com a transformação que aquele sorriso produziu no dele, rostotornando-o simpático. — Puxa, o Dr. Neil está de bom humor hoje! — disse a estagiária, olhando para Sharon com malícia, depois começou a colocar as ras xícana pia, sem muito cuidado. — Você está sabendo das normas com relação ao novo paciente? — perguntou Sharon, ignorando o olhar. 35
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— Estou. A enfermeira Langley já me explicou. Tomara querapaz, esse o Markham, não esteja com nenhuma doença contagiosa! Seria horrível se contagiasse toda a enfermaria! — É justamente isso que estamos tentando evitar, portanto muito tenha cuidado, por favor. — Você acha que uma de nós pode pegar a doença dele, — hein? perguntou a garota, quando Sharon já estava saindo. — Não, se agirmos com precaução, mas afinal, ainda nem sabemos o que ele tem. Pode nem ser contagioso... em todo caso, só sabe remos amanhã, depois do resultado dos exames de laboratório. Quando entrou de serviço na tarde seguinte, depois de ter tido a manhã livre, as normas de precaução ainda estavam em vigor.rece Pa que o laboratório estava tendo dificuldade em descobrir o quehavia de errado com Markham.
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CAPITULO VI O paciente isolado no quarto continuava a preocupar todos hospital. no Acabaram afinal diagnosticando o caso dele como um diferente tipo e muito grave de gripe. Maria, entretanto, comentou com desdém: — Ah, eles sempre dizem isso quando não conseguem descobrir que doença realmente é! Todas as enfermeiras continuavam seguindo atentamente as regras de precaução e até Maureen, que era descuidada, só uma vez esque ceu de desinfetar-se depois de lidar com o paciente. No quarto dia o doente começou a apresentar sinais de melhora, pela eprimeira vez o médico pareceu animado quando o examinou. — Por acaso há alguém com os sintomas dele, enfermeira? — Não. Tivemos muito cuidado, doutor. — Ela olhou para ele preocupada. — Me desculpe dizer, mas acho que o senhor está não bem. — É só uma dor de cabeça... — disse ele, ando a mão olhos. nos — Estou bem, sim. — O senhor não marcou suas férias, ainda? — Quer dizer que acha que estou precisando, é? — Neil sorriu, com ar cansado. — Acho que tem razão, enfermeira, mas não é conseguir fácil me afastar daqui. Em todo caso, ainda não pensei nisso. Depois eu resolvo. E escapou depressa, antes que a enfermeira fizesse mais comentário algum do tipo maternal; ela era só um pouco mais velhaque do ele, mas costumava tratar todos os homens assim... principal mente os médicos, e ele não gostava muito disso. À medida que o dia ava, a dor de cabeça de Neil aumentava, até que se espalhou pelo rosto todo, atingindo o maxilar, como estivesse se com dor de dentes também. Sentia calor e frio alternadamente e, às vezes, era atacado por tremores. Num desses momentos resolveu que devia ir para casa, dormire cedo, talvez tomar algum remédio. De repente, tudo parecia ter ficado difícil de fazer. Era preciso dobroo de esforço. Mas afinal conseguiu chegar até o carro e começou a pequena viagem até a casa dele. Ia dirigindo devagar, com muitocuidado, ciente de que seus reflexos estavam retardados. Assimguiu conse chegar a M aybourne sem nenhum incidente. Deixou o carro fora da garagem e entrou em casa. Sua mãe aproximou-se assim que o viu. Disponibilizado por Keli Cristina
Digitalizado e Revisado por: Nξlm∆
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— Ah, que bom que você chegou cedo hoje, Neil! Não consigo fechar a janela da sala. Vem ver se você consegue, filhinho,favor. por Neil foi até a sala, sem responder nada, e fechou a janelanenhuma sem dificuldade. Virou-se para subir, com uma vontade louca de se deitar, mas só de pensar na escada, achava um esforço enorme. Talvez fosse melhor descansar um pouco ali mesmo... Foi a última coisa de que pôde se lembrar. Lá no hospital, enquanto isso, o fato de ele ter saído cedo causava certa consternação. Sharon ia ando pelo saguão que conduzia à porta lateral saída, de quando encontrou Maureen. Ela estava parada, olhando raiva com para o quadro que assinalava quais os médicos que estavam de plantão. — Ele foi embora! — disse, fitando Sharon com ar trágico. Jonathan — está com o carro novamente quebrado e tinha pedido aque eleme levasse hoje para casa. — De quem está falando? — De Neil, é claro. Você não sabe que eu também moro em Maybourne? Meu turno terminou às cinco e Jonathan e eu tínhamos combinado de ouvir discos juntos em casa! — Mas você não tem que ficar morando aqui, enquanto é estagiária? Como é que pode sair assim? — Aqui ninguém leva isso muito a sério. É diferente do Santa Mildred. E agora? O que é que eu vou fazer, hein? A essa hora já perdi o ônibus que vai pra casa e não tem outro. Acho que Neil me esqueceu de propósito! Sharon, que também tinha notado a aparência abatida de Neil, disse em tom de reprovação: — Acho que ele não estava se sentindo muito bem hoje. Ele estava tão abatido! — Ah, também quem manda ele ficar se matando de trabalhar?! — Nesse momento Terry aproximou-se e Maureen virou-se para ele. — Estou numa situação horrível!... O carro de Jonathan está quebrado, Neil esqueceu de me levar e eu perdi o último ônibus... será que agora vou ter de ir a pé pra casa? — Por que não experimenta? — ele disse sorrindo. — O quê?! Depois de trabalhar o dia todo feito burro de carga?! Você deve estar maluco! — Ela chegou mais perto de Terry e mudou de expressão. — Ah, você seria um anjo se me levasse pra casa. Não é muito longe... Ele fingiu estar considerando a hipótese, depois olhou para Sharon com ar brincalhão. — O que você acha? Será que devemos ter pena da pobre menininha? 38
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— Ah, você é que sabe — ela respondeu. — Por que "nós"? — Porque estou convidando você, neste momento, pra irmos tomar alguma coisa. — Terry podia ir me levar, então, enquanto você se troca — sugeriu Maureen, impaciente. — Isso também não! Se você quiser, a gente deixa você em Maybourne porque o barzinho onde vamos é lá perto, mas tem de esperar. Sharon correu para casa, trocou de roupa depressa e voltou logo. Quando chegou, viu que Terry já estava no carro e Maureen tinha sentado no banco da frente ao lado dele. — Senta aqui na frente também — disse ela, chegando maisdeperto Terry. — Dá pra nós três. Sharon foi obrigada a ficar espremida ali entre Maureen e aAliás, porta. o banco de trás estava cheio de artigos para barco. Maureen foi falando o tempo todo, sem se preocupar muito ouvir em qualquer resposta, mas quando já estavam chegando a Maybour ne, ela exclamou de repente: — M as que diabo está fazendo a mãe de Jonathan no meio estrada?! da Terry diminuiu a marcha e quando a Sra. Sandeman reconheceu Maureen fez sinal para que Terry parasse o carro. — Ah, meu Deus, que bom que você veio, M aureen! Eu indo estava para sua casa procurar você. Já que você é enfermeira deve saber melhor o que fazer! Até seria engraçado o fato de alguém recorrer a Maureenumpara caso de emergência, logo ela que ainda estava no primeiro anocurso do e era conhecida pelas besteiras que fazia. Mas o rosto da Sra.Sandeman estava tão preocupado e a voz tão aflita que Sharon Terry e não acharam a menor graça. — O que foi que aconteceu? — perguntou Sharon, descendo carro. do— Nós todos somos enfermeiros; se a senhora está precisando de ajuda, pode contar conosco. — Ah, que bom... preciso sim. Estou tão assustada, nãoque sei fazer. o Ver um homem caído assim no chão, como se estivesse morto já é de apavorar qualquer um... imagine então se é filho dagente! — ela disse aflita, apertando as mãos. — Aconteceu algo com Neil? — perguntou M aureen e sem rar espe resposta correu para a casa. Sharon e Terry correram atrás. — Onde está ele? — foi dizendo Maureen, assim que entrou. E Jonathan, — onde está? 39
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— Aquele lá nunca está em casa quando eu preciso dele. saiuElede bicicleta pra comprar umas peças para o carro dele. Estava sozinha em casa, quando Neil desmaiou. Felizmente eu estava perto e consegui segurá-lo e arrastá-lo para uma poltrona. Ele na está sala... mas parece muito mal. Foram todos para lá, mas Maureen correu na frente. Neil completamente estava largado na poltrona, o rosto pálido e os olhos fecha dos. Quando eles se aproximaram, Neil abriu os olhos com esforçoe fitou-os, confuso. — Pensei que estivesse em casa — ele disse com voz fraca. — Mas você está em casa, Neil — disse Maureen com uma suave, voz diferente do tom normal que usava. — Não acha que deveria estar na cama? — É claro que devia, mas não consigo andar. — Ele fechou olhos os de novo e agarrou os braços da poltrona sentindo um tremor sacudi-lo. Terry aproximou-se. — Vou ajudá-lo a subir. Sharon, venha me ajudar também. rou-se — Vi para Maureen: — Você vai providenciar uma bolsa de quente. água Todos se pam em ação imediatamente como uma equipe ciente. efi Neil não protestou quando os dois praticamente o carregaram, e eles acharam que ele nem estava sabendo o que se ava, porém, quando chegaram ao topo da escada e ficaram indecisos sem saber que direção seguir, Neil fez um esforço para virar-se na direção certa. Apoiou-se em Terry, enquanto esperava Sharon preparar mente rapida a cama, e quando afinal se deitou, suspirou exausto. Sharon pegou o pijama dele embaixo do travesseiro e entregou a Terry. — Acho melhor você fazer isso. Acho que ele não ia gostar que eu... — É, tem razão. Deixa que eu faço. Vai ver se Maureen arranjou a bolsa de água quente... e pergunte a Sra. Sandeman se ela um tem termômetro, por favor. Depois de pensar um pouco, a mãe de Neil disse que devia ter no um armário do banheiro. Pouco depois, Sharon voltou ao quarto as com coisas que Terry tinha pedido e encontrou o paciente já bem talado ins na cama, como se estivesse dormindo. Mediram a temperatura dele que estava incrivelmente alta e depois se afastaram para resolver o que fazer. — Você acha que ele contraiu aquele vírus misterioso? — pergun tou Sharon quando saíram do quarto. — É bem provável. Já faz tempo que ele não estava muito talvez bem, estivesse fraco, com o organismo sem defesas.
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— Então é melhor chamarmos um médico para examiná-lo. Vamos perguntar para a mãe dele quem podemos chamar. Quando desceram, viram que Jonathan tinha chegado e que reen Mau contava a ele o que estava acontecendo. A mãe de Neil estava sentada na poltrona, de onde ele saíra, com um ar ausente como se fosse desmaiar a qualquer momento. — Meu filho nunca precisou de médico — disse ela com desânimo. — Ele mesmo se medicava quando sentia algo. — Mas e o resto da família? Deve haver um médico de confiança da senhora... — disse Sharon. — Ah, é... tem o Dr. Yardley, em Southaven. — Vou telefonar a ele já — anunciou Terry.— Talvez ele sigacon arranjar um tempinho para vir até aqui ainda hoje. — Mas... você acha que é preciso, mesmo? — Acho sim. Ele foi até o telefone e Sharon foi para a cozinha pedir a Jonathan que arranjasse uma jarra com água e um copo para deixar no quarto de Neil, caso ele sentisse sede. Lá em cima tudo estava silencioso, e, além do murmúrio abafado das vozes que vinha do andar de baixo, o único som que se ouvia era o canto de um melro pousado no galho de uma árvore no jardim.Sharon colocou as coisas devagarinho sobre o criado-mudo, sem fazer barulho, é ficou parada ali por alguns instantes olhando para ciente. o pa Neil estava imóvel, os olhos fechados, os cílios negros secando desta contra a palidez do rosto. Uma mecha de cabelo tinha caído sobre a testa e Sharon a afastou com um gesto delicado. Quandotocou nele, ficou assustada com o calor da sua pele. Ele iria precisar dos cuidados de uma enfermeira bem experiente... Estava ali pensando essas coisas quando Neil abriu os olhos devagar e depois segurou a mão dela com certa ansiedade. Olhou para Sharon e disse: — Fique comigo... — Estava com a voz rouca e quase irreconhe cível, falando com esforço. — Estou me sentindo muito mal...favor... por por favor... Sharon não tentou retirar a mão, ao contrário, apertou dea dele, leve tentando confortálo. — É claro que eu fico. Agora relaxe e tente descansar. Você se sentir vai melhor. — Obrigado. Maria. Os dedos dele se afrouxaram e ela retirou a mão devagar. Por eleque a chamara de 41
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Maria? Elas não eram nem um pouco parecidas nãoe havia possibilidade dele a ter confundido com aquela loira char mosa, a não ser que estivesse delirando e Maria fosse importante paraele... Neil devia estar com ela no pensamento... Ouviu os na escada e afastou-se depressa da cama. Terry entrou no quarto. — Já está tudo arranjado. Falei com o médico e ele vem pra agora cá mesmo. — ótimo — disse Sharon automaticamente, ainda pensando troca nade nomes. Todo mundo no hospital sabia que Maria estava dando em decima Neil, comentava-se também que eles tinham saído juntos algumas vezes, mas ninguém sabia se havia ou não algo sério entre os dois. Agora, depois do que acontecera, parecia que ele estava realmentemuito interessado em Maria, caso contrário, por que haveria pronunciado de ter o nome dela naquele estado de semiconsciência?que Porhaveria de querer que ela ficasse com ele naquele momento? Sharon suspirou... Não conseguia gostar de Maria. Desceucada a ese lá embaixo encontrou Terry explicando à Sra. Sandeman oque filho podia estar com uma doença contagiosa. — Contagiosa?! — ela disse aflita. — Mas, então, quem vai cuidar dele? Não queremos pegar a doença também! Nem Jonathan,eu... nemde que adiantaria? — Ainda não temos certeza de que ele contraiu o vírus — disse Sharon. — Não se pode resolver nada enquanto o médico nãoexaminar o e creio que ele dirá à senhora os cuidados que deverá tomar para não ser contagiada. — Puxa, que família! — disse Terry pouco depois, enquanto dava partida em seu carro. — Não é à toa que o pobre do Neil às vezes parece tão esgotado! — Espero que a Sra. Sandeman agüente a parada — disse Sharon com uma ponta de tristeza. — Deus me livre de ser paciente dela!— Ele virou-se e sorriu para Sharon. — Como é, está disposta a tomar alguma coisa? Eu agora é que estou precisando mesmo de uns traguinhos! Foram a um barzinho no vilarejo e aram uma hora agradável, sentados num canto, conversando. Porém, apesar do ambiente chegante acon e da sensação da paz, Sharon a todo instante pensava de novo na casa de onde tinham saído. Será que o médico já examinara Neil? Será que a temperaturasubira? dele Será que a Sra. Sandeman saberia cuidar dele direito? Todos pareciam achar que ela era ineficiente!... Por mais de uma vez Terry se queixou de que Sharon estava distraída e afinal acabou dizendo com certa apreensão: — Não vai me dizer que pegou o vírus, também, não é? 42
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— É claro que não! — retrucou ela, indignada. — Estou me tindo senmuito bem e não devo estar com cara de doente, não é? Ele a segurou pelo queixo e fez com que o fitasse. — Não estou vendo nenhum sinal de febre... nada mesmo, ser a não um pouco mais de sardas... mas você está diferente. Se não nada é físico, então deve ser psicológico. — O que quer dizer com isso? — Como vou saber? Não sou tão inteligente assim a ponto de entender os mecanismos da mente feminina. — Pelo contrário, acho que você é inteligente demais, e porfica issoimaginando coisas — Sharon esvaziou o copo e pegou a bolsa. — Mas se vai começar a me analisar, acho que está na hora deirmos embora. Ainda quero lavar o cabelo antes de me deitar melhor e é que eu não chegue muito tarde. Terry tentou convencê-la a ficar mais um pouco, mas, emborasetives usado todo o seu charme, não conseguiu. — Quando vamos poder ar um dia inteiro juntos, no barco? — Você disse que ia olhar a escalação de horários. — Pois é, ainda não consegui. Me lembra de olhar amanhã, está bem? Mas de manhã, quando Sharon chegou para trabalhar, asmeiras enfer estavam comentando a última novidade. O médico residente tinha sido levado para lá durante a noite e estava isolado no outroquarto ao lado da enfermaria. Dr. Yardley também não tinha confiado na capacidade da Sra. Sandeman para cuidar de Neil.
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CAPITULO VII Neil não era um paciente fácil de ser tratado. Depois do primeiro dia que tinha ado praticamente inconsciente, mal sabia onde estava. Quando se recuperou um pouco, recusou-se terminantementea deixar que lhe fizessem a higiene diária. Não queria nem mesmo Terry ou outro enfermeiro para cuidar dele. Além disso, não comia nada do que lhe traziam. — Não quero nada — ele disse com voz fraca.— Acho que curado fico mais depressa se não comer nada disso. — O senhor devia saber que precisa ficar forte, doutor — disse enfermeira. a — O Sr. Markham comia direitinho e por isso se recupe rou logo. Mas Neil apenas desviava o rosto e se recusava obstinadamente comera até que a enfermeira desistiu de insistir. Sharon, para seu grande alívio, não precisou cuidar do médico início, no mas chegou uma hora, durante a tarde, em que não havia outra alternativa. Ela era a única enfermeira formada em serviço.Entrou no quarto umas duas vezes mas ele estava dormindo.hora Só na do lanche é que teve oportunidade de conversar com ele. Neil tinha comido um pedaço de pão com manteiga e Sharon aproximou se da cama, sorrindo com aprovação. — Ótimo! isso quer dizer que já está se sentindo melhor. Neil recostou a cabeça na pilha de travesseiros e olhou para comela ar abatido. Sharon notou que o rosto dele estava muito magro e seu estado geral era de alguém que parecia estar doente há váriassemanas. — Vocês têm mania de comida... todas vocês! Eu já dissemàeira enferque só vou começar a com er quando sentir que devo. —fezEle uma pausa e acrescentou com ar de desafio: — Pois bem, agora estou sentindo que devo e isso quer dizer que já posso casa. ir para — Está se dando alta? Isso acho que ninguém pode impedir. — É claro que não! Posso tomar mais chá? — Lógico! Espere que vou buscar. Alguns instantes depois ela voltou com uma xícara cheiaturou-se e aven a dizer: — Sei que não tenho nada com isso, mas não acha que seria lhor ficar me mais um dia ou dois? Se voltar a Maybourne estou certa de que vai começar a fazer excessos. Ele a olhou com espanto e ela corou sem jeito, mas para presa sua sur Neil levou a sério seu comentário. — Talvez tenha razão, enfermeira. Não gosto muito de ficar sendo aquicontrolado, mas... 44
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— Você não aceita muito controle... nem mesmo aceitou quando estava ando muito mal. — Ainda bem que não entreguei os pontos e consegui cumprir minha parte! — ele disse sorrindo.
A conversa parecia que ia terminar ali, mas quando Sharon já estava na porta para sair, ele a chamou. — Gostaria de alguma coisa pra ler. Será que não tem alguma coisa por aí? — Vou ver o que posso arranjar na enfermaria. Lá, entre os pacientes, havia um que era um leitor constante. capaz Erade ler um livro inteiro em algumas horas. Sabendo quepossuía ele vários, Sharon foi ver se ele emprestava um. — Estes aqui eu já li, enfermeira — ele disse entregando livros dois policiais. Sharon agradeceu e estava indo para o quarto de Neil, quando Maria viudirigindo-se para lá também e, instintivamente, parou. Talvez quisessem ficar a sós... era melhor não atrapalhar; levaria os livrosdepois. Maria aproximou-se da cama dele com um jeito frio e profissional. — Você parece bem melhor, hoje, Neil. — Eu estou me sentindo melhor — ele disse. — Já comeceipensar até a em voltar para casa. Ela fez um trejeito de desaprovação. — Não seria uma decisão sensata. Você precisa se alimentar e descansar, bem por isso tenho uma idéia melhor. — Sem se preocupar com a ética profissional ela se sentou na beira da cama dele. — Voupedir a meu pai pra arranjar um quarto no Grande Hotel...será vocênosso convidado, é claro. Tenho certeza de que ele vaicontente ficar em poder ajudar. — M as eu não poderia aceitar... — Por que não? Se lá fosse nossa casa você não acharia estranho aceitar o convite para ar uns dias conosco. No apartamento ocupamos que não tem lugar, você sabe disso. Sempre damos um quarto do hotel a nossos convidados e eles comem conosco, na nossa mesa. Acho que seria ótimo para sua convalescença. — Sem dúvida, mas não vou aceitar, Maria. Ela enrubesceu de repente. — Por que não? Dê-me apenas uma boa razão para isso. Mas Neil estava cansado, ainda muito fraco e não conseguia sar pen em nada para dizer. Tudo o que queria era manter-se independen te e não aceitar favores de ninguém. 45
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— É muita gentileza sua, mas... — começou ele sendo logo rompido. inter — Não vamos ficar aqui discutindo, pode lhe fazer mal evoltar fazer a febre. — Maria ergueu-se e ajeitou o avental. — Voubinar com tudo com papai, hoje à noite, quando for para casa. Ela o olhou fixa nos olhos e Neil acabou entregando os pontos. Encolheu os ombros, cansado demais para discutir. Afinal, seria muito mais confortável ficar no hotel do que na casa dele e não precisaria ficar muito, bastariam uns dois dias. No dia seguinte ele saiu do hospital e as enfermeiras deram agraças Deus. — Não acho que o Dr. Neil tenha dado muito trabalho —Sharon disse a Terry. — Afinal, ele estava muito doente. — Mesmo assim, não gostei de ter cuidado dele. Não conseguia deixar de pensar o tempo todo que ele estava criticando cada movi mento que eu fazia — respondeu Terry. — Nunca imaginei que você fosse se deixar afetar por umaà coisa toa dessas — ela o encarou, sorrindo. Terry riu. — Não me deixei afetar, só estou contente porque ele foi embora. Estavam conversando na cozinha, os dois tinham ido lá parauma tomar xícara de chá. — Faz tempo que estou querendo falar com você, Sharon —Terry. disse— Parece que nossos dias de folga não vão coincidir nunca. Por esse motivo troquei meu turno com Mike e isso quer dizer que sábado que vem você e eu estaremos livres. Quero que você jar vá vele comigo e depois iremos comer na minha casa. Mamãe disseestá que louca pra ver você de novo. O programa pareceu atraente para Sharon que já estava cansada de não saber o que fazer nas folgas de meio expediente. — Eu adoraria — ela disse com sinceridade — mas estoumedo comde entrar no veleiro. Tenho certeza de que vou fazer alguma besteira e você vai querer me xingar. — Você não terá que fazer muita coisa, a não ser, como já disse, esquivar-se da vela. Se não fizer isso aprenderá na primeira pancada que levar na cabeça. — Ele riu da cara assustada dela, tomou umgole de chá e perguntou confiante: — Então, está combinado? avisar Voumamãe! Isso foi na quarta-feira e, à medida que os dias avam, Sharon observava o tempo com mais interesse. A quinta-feira amanheceu fria e com vento, mas na sexta o sol saiu e a praia começou a se encher de banhistas. No sábado o tempo não podia estar melhor. O céu e o mar estavam azuis e as águas estavam calmas. Terry até reclamou que havia pouco vento para retesar as velas, mas Sharon estava achan do ótimo. — Se o vento não aumentar, não conseguiremos ir muito longe — resmungou ele. — 46
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Você trouxe maio, não é? — Trouxe, claro. Achei que poderíamos nadar um pouco. Terry dirigiu com rapidez até o clube onde o veleiro estava rado. ancoMunidos de agasalhos, lanche e toalhas, atravessaram o anco radouro que estava cheio de pequenas embarcações. — Puxa! Quanto barco! — exclamou Sharon, surpresa. —deles Qualé o seu? — O "Sereia do Mar". Mas ele não está aí, está fora da água.lá!Olha — ele apontou com orgulho. — Vou preparar o barco, depois você me ajuda a colocá-lo no mar. Alguns minutos mais tarde os dois estavam empurrando o e com rodas sobre o qual estava o barco, desceram até a praiabarco e o foi colocado na água com facilidade, para espanto de Sharon. — Leve o e de volta pra lá — ordenou Terry. — Depois, venha até aqui e segure esse cabo do mastro, enquanto eu iço as velas. Ele já estava dentro d'água, com a calça arregaçada, segurando embarcação. a Sharon fez o que ele disse, depois tirou as sandálias entrou e na água cautelosamente. Não estava fria e a sensação era deliciosa. Ela se aproximou e segurou o cabo do mastro conforme Terry mandou, com uma agradável sensação de responsabilidade. As velas, uma pequena e outra grande, eram azuis e Sharon achou-as lindas, embora parecesse complicado o método de içá-las. O grito "embarcar!" de pegou-a de surpresa e ela pulou para dentro, depressa, de qualquer jeito. Como nenhuma outra tarefa lhe foi atribuída, sentou-se eapenas ficou observando a cena. Havia vários outros veleiros, com velas de todas as cores. O sol brilhava, e as pessoas que estavam nos barcosusavam roupas coloridas. O mar estava incrivelmente azul. Tudojunto aquilo parecia um imenso caleidoscópio que ia mudando de forma medida à que o veleiro de Terry avançava, desviando das outras em barcações. Atingiram afinal o mar aberto, devagar, com Terry xingando parar sema falta de vento. — Puxa, mas que pena... que chato que sua primeira viagem esteja tão sem graça, Sharon. Não me conformo! — Ora, mas eu estou adorando!— ela colocou a mão namas água, retirou-a depressa, com receio de estar fazendo algo errado.Gosto — do mar assim, calmo. — M as não tanto, não é? Mal dá pra deslizar!— Ele mudou direção de e olhou em redor, chateado. — É, não adianta mesmo ficar aqui insistindo. £ melhor descermos em alguma praia e nadarmos um pouco. Dirigiram-se para uma enseada deserta, onde a praia era inível por terra. Havia muitas pedras grandes por ali e Terry precisou fazer várias manobras até conseguir aproximar-se da praia. Então ele pulouna água e segurou o barco para Sharon descer; depois, juntos, puxaram o barco até 47
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a beira da praia e tiraram as coisas de dentro. O sol estava quente e os dois imediatamente tiraram os agasalhos. O biquíni de Sharon era de cor laranja-e-branco e ela invejou o zeado bron do corpo de Terry. Se estivesse queimada daquele jeito, fariamais contraste com as cores do biquíni. Entretanto, o olhar dele de quem era a achava perfeita. Sharon estava na beira da água, fugindo das ondas que vinham morrer a seus pés, sem coragem para mergulhar. No fim, Terry pegou-a pela mão e puxou-a para o fundo com ele, apesar dos gritinhos deprotesto. Quando ou o primeiro impacto da água fria, osacostumaram dois se e se sentiram revigorados. Nadaram lado a ladofundo até o e voltaram várias vezes.
Ficaram bastante tempo na água até que resolveram sair. Voltaram para a praia e se deitaram na areia quente, de mãos dadas. O estava sol forte e eles logo se secaram. Sentindo aquele calor gostoso norosto e no corpo, ela fechou os olhos para desfrutar com maioraquele prazer momento langoroso. Era uma delícia estar ali deitada, sem ter nenhuma obrigação cumprir, a sem ter que se preocupar com nada, apenas gozando mento o mo presente. Num certo momento abriu os olhos e viu que Terry estava apoiado nos cotovelos, olhando para ela. Estava tão perto que Sharon podia ver os mínimos detalhes do rosto dele. — Não era bem o que eu planejava... — ele disse, em voze baixa num tom diferente — ... quer dizer, pensava em fazer issomais só tarde. Mas não há dúvida de que está ótimo. Você está gostando, Sharon? — É claro!... estou simplesmente adorando! Esse sol lhoso... maraviesse lugar... tudo! Terry inclinou a cabeça e beijou-a de leve nos lábios. — Uhm... que gostinho de sal! — ele disse — Até me deuQue fome. tal comermos os sanduíches agora? Ainda era um pouco cedo, mas Sharon achou melhor concordar. Aquele beijo tinha sido uma nota dissonante na tranqüilidadeestava que sentindo. Mais tarde, ainda nadaram outra vez, mas já estavacomeçando a refrescar. E quando saíram da água estava ventando e por frio isso enxugaram-se nas toalhas que tinham trazido. — Puxa, olha só o vento! A volta vai ser uma beleza. — Agora ele estava impaciente para sair dali.— Rápido, Sharon, vamosbora. em Vem me ajudar a empurrar o barco para o mar. Ela vestiu o agasalho depressa e recolheu as coisas que estavam sobre a areia. Poucos minutos depois já velejavam sobre a água ondu lante com uma leveza e velocidade que Sharon achou incríveis. — Puxa, obrigada pelo eio. Foi fantástico! — ela dissesinceridade com quando já estavam chegando, um pouco mais tarde.Nunca — imaginei que fosse tão delicioso velejar! 48
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— Então quer dizer que vai aceitar outros eios? — perguntou Terry, enquanto recolhia as velas. — Se você me convidar... — Quanto a isso, não tenha dúvidas! — Ele pulou para fora barco. do — Vamos lá, me dê uma mãozinha aqui para guardarmos barco. o Quando terminaram de arrumar tudo e afinal cobriram o "Sereia Mar" docom a lona encerada, Sharon sentiu uma certa satisfação íntima de pensar que o dia maravilhoso ainda não terminara. Ainda tinha fim o da tarde, e seria muito interessante encontrar a família Whitehead de novo... ou pelo menos alguns deles. A casa dos pais de Terry era geminada e ficava numa rua de cheia árvores. Das janelas do primeiro andar dava para ver o mar. dentro Lá estava tudo bem mais arrumado do que Sharon se lembrava, mas talvez fosse porque a família diminuíra, isto é, de todos os irmãos, só Terry e o caçula é que continuavam a morar ali, todos os outros já estavam casados. A mãe de Terry, uma mulher alta e gorda, recebeu-a com amabilidade muita e o pai ergueu os olhos do caderninho de palavraszadas cru e cumprimentou-a sorridente. — Tenho uma idéia! — disse Terry. — Vamos comer logo quer qual coisa e depois vamos ao show do "Pier Pavilion". Ouvi dizer está que muito bom este ano. Pra você tá bom assim, mamãe? — Para mim, tudo bem. Já está tudo pronto, mesmo, e é tudopodemos frio, comer quando quiser. Tudo era delicioso e Sharon comeu com apetite. O chá foifortante recon e o bolo feito em casa estava ótimo. Sharon sentia umsaço can gostoso e o corpo relaxado, depois de um dia inteiro ao ar livre.Bem que preferia ficar em casa calmamente vendo televisão,Terry mas estava tão animado para sair... Quando terminaram de comer, ela se ofereceu para lavar a louça, mas fizeram-na ficar sentada na sala, descansando. — Eu sei que vocês enfermeiros trabalham pra valer e hoje de é dia folga, é pra descansar. — A mãe de Terry sorriu para ela que se instalara confortavelmente numa poltrona. — Ah, mas parece que foi ontem... lembra quando você vinha aqui com o uniforme da escola? Vocês costumavam voltar juntos da aula e, às vezes, você ficava tomar pra lanche... não é engraçado que você e Terry tenham-semado for enfermeiros? — Eu sempre quis ser enfermeira — disse Sharon. — É, eu lembro, mas nunca imaginei que Terry fosse fazer ma a mes coisa. Para um homem, acho que melhor mesmo seria ter-se formado médico. — Não vai começar, mamãe... — preveniu ele de bom humor. mãe Adeu de ombros, riu, e saiu da sala. 49
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— Seus pais são ótimos, Terry — disse Sharon num ímpeto. Você — tem muita sorte de ter um lar assim, com pai e mãe juntos felizes. e As separações são tão freqüentes, hoje em dia... — Ora, nem tanto assim... é que às vezes é a melhor solução. Mas há muitos casais também que ficam juntos para sempre. O tom de voz era despreocupado, mas Sharon pensou tertado detec algo mais sério sob essas palavras. — Mesmo assim, ainda acho que você tem sorte — insistiu ela de ter —um lar feliz e confortável. Terry sorriu e levantou-se estendendo as mãos para que ela levantasse se também. — E eu estou louco para que você faça parte deste lar, Sharon querida. Você sabe disso, não é?
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CAPITULO VIII Durante o show, Sharon ficou imaginando o que Terry queriacom dizer aquela frase. Será que dissera aquilo para ser amável e mostrar que queria partilhar com ela aquela felicidade que ela não tinha mais? Ou será que tinha se referido a algo mais sério e profundo? Tentou afastar da mente essa segunda hipótese e concentrar-se show. noO que, na verdade, não era difícil, pois tratava-se de umlente exce musical com um maravilhoso grupo de cantores, dançarinos atores e liderados por Robert Truenan, um ator não muito famoso que, segundo Terry informou, estava hospedado no Grande Hotel. Depois do espetáculo, quando voltaram para o alojamento pital, do hos ficaram conversando no carro e acabaram se despedindo com um longo abraço, cheio de carinho, que fez o coração de Sharonbater mais rápido. Estava imensamente grata pelo dia maravilhoso Terry que tinha proporcionado a ela. — Obrigada... obrigada por tudo — ela disse, com voz cheia emoção, de enquanto descia do carro. — Você quer sair de novo, assim que conseguirmos outrajuntos? folga — Ah, é claro que sim. — Espero que tenhamos mais sorte com o vento na próxima vez. Mas Sharon sabia que era impossível terem mais sorte da outra vez, pois esse dia tinha sido perfeito e maravilhoso. Não haveria outro igual ou melhor. Na manhã seguinte, quando se encontraram no refeitório, trocaram sorrisos, como de costume, e foram para o trabalho. Mas de certa mafor havia alguma coisa diferente. Apesar de estar concentrada no seu trabalho, Sharon sentia uma estranha sensação de não estar sozinha. Talvez fosse por ter visitado a família de Terry que a recebera bem. tãoOu talvez não fosse isso. O fato é que existia um sentimento diferente.
M aria era a responsável pela enfermaria naquele domingo. sempre, Como estava elegante e fria, nem um fio de cabelo fora do lugar. Imperturbável, mesmo diante dos casos mais graves. Ouviu o relatório das enfermeiras da noite sobre os pacientes niue as reudaquele turno para transmitir as informações. Quando termi nou, disse com certa rispidez: — Onde está a enfermeira M aureen? Ninguém sabia. As que notaram a ausência dela tinham pensado que era seu dia de folga. Disponibilizado por Keli Cristina
Digitalizado e Revisado por: Nξlm∆
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— Se ela está doente, deveria ter ao menos mandado nos — avisar disse Maria, irritada. — Pode ser que ela esteja atrasada — arriscou Jane. — Talvez tenha tido problemas com condução, ainda mais que hoje mingo. é do — Não sei por que ela tem permissão para morar fora daqui. sempre Ela chega atrasada. — Maria olhou para as outras. — Não vamos perder mais tempo por causa dela. Já está quase na hora de servir o café da manhã e ainda não estamos prontas. Depois do alvoroço das primeiras horas, as manhãs de domingo eram bem mais sossegadas do que as dos dias de semana. Não havia visitas de médicos, para examinar pacientes, e trabalhava-se menos. Sharon ficou imaginando o que teria acontecido com Maureen. Na hora do almoço, terminou o turno de Maria, que antes de ou sair a responsabilidade da enfermaria para Sharon. Maureen não ainda tinha dado o menor sinal de vida. — Olha, Sharon, se Maureen aparecer depois que eu sair —Maria, disse ríspida — pode dizer que pretendo reclamar dela para ariora supee que talvez seja chamada pela srta. Anderson. — Talvez haja um motivo justo para ela não ter aparecido. Não acha que seria melhor telefonar para a casa dela em May bourne? — Isso não faz parte do meu trabalho. Maureen é que temção obriga de nos avisar. — Como vai ando o Dr. Neil? — perguntou Sharon, mudando de assunto. — Está se recuperando otimamente — disse M aria, com placência. com — Era justamente o que ele estava precisando, ardias unsdescansando, alimentando-se bem e não se preocupando com nada. É claro que ele pretende voltar ao trabalho o mais cedo possível, mas estou fazendo de tudo para tirar essa idéia da cabeça dele. Sharon ficou observando-a enquanto ela se afastava em direção vestiário. ao Estranho uma pessoa conseguir ser tão segura de si,confiante tão de estar sempre com razão! Não conseguia imaginar-se com aquela personalidade. Para ela a vida sempre tinha sido cheia das de dúvi e incertezas. Uns dez minutos depois que Maria saiu, apareceu Maureen correndo, com o rosto afogueado, ainda abotoando o uniforme. — M aureen! — exclamou Sharon, surpresa. — Por onde é que você andou? — Quem é que está encarregada da enfermaria hoje? — retrucou ela agitada. — É a enfermeira Maria. — Ah, meu Deus... logo ela! — Maureen suspirou, commático. ar dra — E onde é 52
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que ela está agora? — Bem, na verdade ela já terminou o turno e agora sou eu ponsável a res aqui. Portanto é pra mim que você deve explicações —riusor Sharon. — Ainda bem, melhor assim... apesar de que vou ter de tar enfren Maria de qualquer jeito, mais tarde. Vou explicar... A enfermaria estava calma e silenciosa. A outra enfermeira sentada estava à escrivaninha. — Vamos para a sala das enfermeiras, lá você me explica. — Não foi minha culpa... realmente não foi. — Maureen tou-se sen numa cadeira e encarou Sharon. — Devo estar com umarência apa horrível! Mas quem poderia imaginar que quando eu saí com Jonathan ontem à noite... — Jonathan, o irmão do Dr. Neil? — É claro. Nós fomos até Drayton, ontem. Tem uma discoteca maravilhosa lá. Estava muito divertido... mas na volta o carroJonathan de quebrou na estrada... você sabe como é longe... — O carro dele vive quebrando — comentou Sharon enquanto Maureen fez uma pausa. — Não quebraria tanto se Jonathan pudesse mandá-lo a umnico. mecâMas Neil se cansou e parou de dar dinheiro pra ele e por quem isso conserta é ele mesmo. Achei que foi uma atitude mesquinha deNeil, ele é bem mais rico do que o irmão, afinal! Jonathan está nasape começando, está trabalhando como agente imobiliário. Sharon não disse nada e Maureen olhou para ela com um nos apelo grandes olhos esverdeados. — Eu tinha que ficar com ele, não é? Quer dizer, não podiadoná-lo aban lá sozinho, e voltar de carona. Seria muita falta de solida riedade! — Acho que seria difícil, mesmo — concordou Sharon —, masestou não entendendo por que você está com cara de quem acabou chegar. de — Jonathan disse que ele mesmo poderia consertar o carro,não mas no escuro... precisava esperar amanhecer. Já era muito tarde... por isso resolvemos sentar no banco de trás e... esperar. — Então aram a noite toda lá? — É! E não precisa me olhar desse jeito! — explodiu Maureen, furiosa. — Não aconteceu nada do que está pensando... absoluta mente nada. — Está bem, acredito em você, mas é bom preveni-la de que superiora a ou a srta. 53
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Anderson podem não acreditar... — Então é porque têm a mente depravada! Sharon fez um gesto de impaciência. — Pelo amor de Deus, não seja infantil, agora! Você já devecansada estar de saber que as pessoas sempre pensam o pior em situações como essa. — Ninguém tem nada com isso a não ser Jonathan e eu. Quero que os outros se danem! -— É, talvez não tenham mesmo. Mas, escute aqui, como seus é quepais não ficaram preocupados? Eles já deveriam ter telefonado para cá tentando saber de você! — Ora, é natural. Mas eles não levantam muito cedo e mamãe sabia que eu estaria de serviço hoje de manhã. Normalmente, quando ela acorda, eu já saí para trabalhar. E mesmo que ela tivesse ido atémeu quarto não iria saber que eu não dormi lá... porque cama minhaficou desarrumada desde anteontem... é isso. — É... se morasse aqui teria que arrumar a cama todos osMas dias.eu não estou entendendo uma coisa: por que demorou tantovoltar? pra Afinal, já a de meio-dia! — Jonathan não conseguiu consertar o carro, por isso tivemos deixá-lo que no acostamento e voltarmos os dois de carona. Talvez tivesse chegado mais cedo se voltasse sozinha, mas não podia abandonar Jona than numa hora dessas, podia? — Eu acho que você deveria ter feito isso, mas posso entender como se sentiu. — Você não vai contar a Neil, vai? Ele ficaria furioso com irmão! o — É claro que não vou contar! — Sharon se espantou com dido. o pe — Não tenho intimidade para falar com ele sobre problemas particulares. Mas acho que Maria é bem capaz de falar. — Puxa vida! Esqueci que ele está lá no hotel dela! Sem dúvida aquela metida vai contar tudo pra ele! — Acho que já conversamos demais. — Sharon ergueu-se e afoiporta. até — Pelo amor de Deus, vê se dá um jeito nessa cara e nesse uniforme antes de entrar na enfermaria. Daqui a pouco é hora devisita. Maureen ficou tranqüila o resto do dia e quando Maria voltou ais paraumas m horas de trabalho, chamou-a para conversar e ficouquinze uns minutos com ela. — Deus me livre! — disse ela a Sharon, logo depois. — Você menos pelo tentou me compreender, mas M aria! Ah, ela não quis saber! nem Não adiantou nada falar em solidariedade a Jonathan... tenho certeza que ela ficou pensando que nós dois fizemos amor enquantoesperávamos amanhecer. 54
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— Eu avisei você... — É, eu sei. — M aureen suspirou. — Eu pedi a M aria que contasse não a Neil, por causa de Jonathan, mas ela disse que eradever seu contar. O que você acha? Se ela gostasse dele, mesmo, como quer aparentar, não ia querer deixá-lo preocupado logo não agora, é? Sharon já esperava por essa atitude. Às oito e meia Marianou termi o trabalho, foi para o hotel, jantou com os pais, depois pegou elevador o e foi até o salão no último andar. Neil estava sozinho, sentado em uma poltrona, lendo calmamente, quando Maria entrou. Sem fazer rodeios ela já foi logo contando àtudo sua maneira. Ele se empertigou, consternado. — O que está me dizendo?! Jonathan fez a garota ar atoda noite fora? Mas que idiota, esse cara, então não sabia que iria meter a garota numa encrenca séria, com isso? — Parece que Maureen ficou de livre e espontânea vontade. disse Elaque não podia abandonar o namorado numa situação daque las... seria falta de solidariedade. Imagine! Aposto como eles apro veitaram bem a oportunidade, isso sim! — Pode ser que ela tenha ficado por solidariedade, mesmo —Neil disse pensativo. — Maureen é infantil e estabanada, mas nuncamentirosa... foi — Ora, vamos, Neil! Você acha que adolescentes têm esse padrão de moral, hoje em dia?! Aposto como essa história de esperar onhecer ama foi uma bela desculpa para que assem a noite juntos, num carro, no meio da estrada! Neil ergueu-se, agitado, foi até a janela e ficou olhando o mar. — Você acha que a superiora vai contar à srta. Anderson? — Sem dúvida, é dever dela — afirmou M aria, categórica. — É, creio que sim. E isso significa que Maureen será despedida, não é? — É bem provável. — E meu irmãozinho fica impune nessa história toda. Isso é justo! não Maria caiu na gargalhada. — Você nunca ouviu dizer que quem paga o pato são sempre mulheres? as — Ela fez uma pausa e acrescentou com displicência:Mas, — se você quisesse, poderia interferir... tentar convencer a Número Sete a não despedir a moça. — Eu não poderia fazer uma coisa dessas! — Neil voltou Poltrona para a e deixouse cair, desanimado. — Ou será que poderia? testo Defazer essas coisas... mas acho que nesse caso tenho obrigação; afinal, a culpa foi toda de Jonathan. — Você é quem sabe. Eu, pessoalmente, acho que Maureen seria nãouma grande perda para a equipe de enfermagem. 55
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Mas Neil estava pensando na Maureen que ele conhecia desde nina.meLevada, sempre com o joelho esfolado, o jeans rasgado, o rosto sujo, mas no fundo uma menina de boa índole. Fora ela quem salvara certa vez um gatinho que tinha sido atropelado. Ela tratou do animalzinho, alimentou-o e fez curativos, até que ele se restabeleceu comple tamente. Uma outra vez, deu uma surra em dois meninos da cidade porque estavam destruindo um ninho de arinhos. Maria aproximou-se dele, sentou-se no braço da poltrona, e afagou de leve o cabelo dele. — Pare de se preocupar com isso, Neil. Você se desgasta demais pensando em Jonathan o tempo todo. Por que não corta essa ligação com sua família e começa a viver sua própria vida longe deles? Sua mãe se arranjaria muito bem sozinha se precisasse. E talvez isso seja até bom para que seu irmão aprenda a ter um pouco mais de respon sabilidade. — Não! Já discutimos esse assunto antes, Maria! Jonathan tem vintesóanos e é muito infantil para a idade dele. Precisa de alguém com um pouco mais de autoridade para ficar de olho nele. — Neil suspi rou. — Ele tem bebido demais ultimamente... diz que precisapanhar acom os amigos da turma... — Todos am por essa fase... ou pelo menos quase todos. Acho que é uma loucura você se preocupar tanto com isso! — disse Maria. — Não posso evitar. Não sei como... Maria ergueu-se, impaciente, e nem notou o apelo no olhar dele. — Como você disse... já falamos várias vezes sobre isso, mais. até deQue tal mudarmos de assunto, hein? Não falaram mais sobre o problema de Maureen naquela noite,antes masde Neil ir para o quarto dele, que ficava no segundo andar, avisou que seu período de convalescença estava terminado e que iria voltar ao trabalho na manhã seguinte. — Acho que ainda é muito cedo! — disse Maria imediatamente. — Você está com muita pressa de voltar! — De todo jeito eu pretendia ficar só mais um dia, mesmo, jáseus quepais foram tão gentis e insistiram. Mas estou mais é ficando guiçoso! pre Já estou completamente recuperado!
Ela não disse mais nada, simplesmente desviou o rosto quando Neil foi dar o costumeiro beijo de boa-noite. Ele deu de ombros e entrou no elevador. Maria só entrava de serviço no dia seguinte, no período dae Neil tarde,saiu do hotel antes que ela tivesse levantado. De lá, foi direto ao hospital e entrou na enfermaria Ridley. Maureen estava ajudando a preparar os pacientes para a visita neiraroti dos médicos, mas ele não falou com ela. Dirigiu-se a Sharon e perguntou se a superiora estava na sala dela. — Está sim. — Ela olhou para ele, contente de vê-lo com aparência. boa — Quer que eu 56
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diga a ela que você está aqui? — Acho que não precisa, eu mesmo vou até lá, obrigadosorriu — ele e continuou: — Creio que ela já deve estar sabendo do... digamos incidente de Maureen, não é? — Ah, está sim. A própria Maureen fez questão de contar à superiora tudo pessoalmente, o que eu acho que foi bastante sensato partedadela. Com uma leve inclinação de cabeça Neil despediu-se e foisala até daa superiora. Sharon ficou imaginando quais seriam as ções intendele. Naquela m anhã estavam todos muito ocupados, com dois casos de emergência e vários pacientes em estado grave. Por isso ninguém comentou mais nada sobre o caso de M aureen. Entretanto, na hora do café, Sharon encontrou com ela e achou-a triste e preocupada. A outra confessou que era porque a srta. Ander son mandara chamá-la. — Ah, foi horrível, Sharon. Ela foi ríspida comigo e disse minha na cara que eu era uma péssima enfermeira, tão desleixada não que merecia ser perdoada pelo que aconteceu. — Maureen olhou para Sharon, desolada. — Será que eu sou tão ruim assim? Sharon ficou comovida com a amargura daquela garota sempre alegre, petulante e segura de si. — Bem, você é um pouco descuidada, sabe... — Mas eu me esforço para não ser assim... sinceramente! queria... Eu não — Maureen suspirou fundo. — A srta. Anderson nãoditou acre em nada do que eu contei. — E então, o que aconteceu, afinal? Ela despediu você? — Eu pensei que ela fosse fazer isso, mas depois que terminou bronca a e o sermão ela disse que não ia me despedir, só porque oNeil Dr. tinha dito a ela que a culpa era do irmão dele e não minha. E,além disso, pediu que ela me desse outra oportunidade, dizendo assim que ela estaria fazendo um favor a ele! Eu não esperava quefosse Neilter essa atitude! — Foi bacana da parte dele! — disse Sharon surpresa. — que Achoeu também não esperava. — Depois eu falei com Neil e ele me disse que detestou ter fazer deisso. Estava com uma cara brava, que só vendo! — Fico contente que tudo tenha acabado bem, mas vocêque sabeagora vai ter que tomar muito cuidado, ser mais atenta e cada, dedi não é? Não pode haver uma próxima vez, você sabe que nãoterá outra chance como esta, não sabe? Você recebeu alguma punição? — Recebi, sim. Vou ter que ficar morando aqui, em Clifftop. srta.AAnderson disse que morar em casa, estando ainda no primeiro ano, era um privilégio e que eu tinha abusado. Agora vou ter queficar aqui até ar para o segundo ano.
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No dia seguinte ela se mudou para lá, resoluta e cheia de boasções. intenNa primeira manhã acordou cedo e foi para o refeitório junto com todas as outras para o café. — Puxa, lá em casa eu nunca tinha tempo de tomar café, estava sempre atrasada — disse ela a Sharon. — Depois, na hora do almoço, eu estava quase desmaiando de fome! — O quê? Desculpe... eu estava distraída, não ouvi. — O que há com você, hoje? Parece tão deprimida! Não está sentindo se bem? Você está pálida... — Estou bem, sim — respondeu Sharon, não querendo contar Maureen a que tinha recebido uma carta do pai que a deixara preocupada. — É que eu não dormi bem esta noite, só isso. A mãe de Sharon costumava escrever sempre, de quinze em quinze dias, longas cartas, contando sobre os netos e outras coisas. Mas o pai só tinha escrito uma vez, mandando o novo endereço. Sharon tinha respondido, mas a correspondência terminara aí. Ela ficara muito triste de ter perdido o contato com ele, pois presem se dera melhor com o pai do que com a mãe. E eis que, agora, George escrevera para a filha uma carta não muito longa, contandopouca coisa sobre a vida que estava levando. Porém ao pé da página havia um P.S. que a deixara aflita: "Não tenho me sentido muito ultimamente... bem talvez esteja precisando de umas férias ou quem sabe ejasmelhor fazer um check-up". Mas por que uma carta tão vaga, assim? Por que não contara coisasasmais detalhadamente? Por que não dissera o que realmente estava sentindo? Se tinha alguma dor... O que estaria acontecendo? Talvez estivesse exagerando em ficar tão preocupada, mas seguia não con evitar. Sharon estava se sentindo deprimida e anti-social naquele dia.
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CAPITULO IX — Posso me sentar aqui? A voz calma trouxe Sharon de volta à realidade. Estava no refeitório, mas tão concentrada em seus pensamentos que nem percebia o que se ava a sua volta. Naquele momento, entretanto, ergueu o rosto e viu Neil parado perto dela segurando uma bandeja. — Está tão cheio isso aqui, hoje, parece que não há mais lugares vazios — ele explicou percebendo que ela não tinha ficado muito animada com a presença dele. — Ora, eu não sou dona da mesa! — Sharon forçou um sorriso. — Sente-se, por favor. Você não costuma tomar café aqui, não é? — É que eu fui chamado para atender um doente de madrugada e achei que não valia a pena voltar para casa. — Foi alguém da enfermaria masculina? — Não— Neil balançou a cabeça — foi na enfermaria na... femini um caso de coração. Houve uma parada cardíaca e por alguns instantes lutamos arduamente contra a morte. Felizmente conseguimos vencer — disse ele, contente, e começou a tomar o café. — Puxa, é uma sensação maravilhosa, não é?... Quero dizer, var sal uma vida, fazendo a coisa certa no momento exato... — Ela interrompeu, enrubescendo.— Ah... puxa, que frase mais cafona! Ela a olhou com ar pensativo e Sharon ficou aindacorada. mais — Concordo plenamente, enfermeira. Salvar vidas é a obrigação de todo médico. Fez-se um silêncio constrangedor entre eles. Sharon pegou odeprato ovo frito com torrada, sem muito entusiasmo, e começou a comer como se estivesse se esforçando para isso. Era ridículo perder o ape tite por causa daquela carta do pai, mas parecia ser esse mesmo motivo. o — Está sem fome, hoje? — perguntou Neil, com displicência. — É... Houve um outro silêncio, depois ele comentou no mesmo tom plicente: dis — Você parece muito tensa. Está preocupada com alguma Será coisa?que posso ajudar? — Eu estou bem — ela disse depressa e usou a mesma desculpa que dera a Maureen: — é que não dormi bem esta noite. — Em geral isso acontece quando há um motivo. Pode ter sido digestão... má Eu sou encarregado da saúde dos enfermeiros, portanto, repito minha pergunta. Posso fazer alguma coisa Disponibilizado por Keli Cristina
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por você? — M á digestão?! — ela caiu na risada. Um riso nervoso que conseguia não controlar. Resolveu tomar um gole de café para ver parava se de rir. — Cuidado para não engasgar — disse Neil e esperou que se controlasse ela um pouco. — Será que se importa de me dizer équal a piada? — Não é piada nenhuma. — Afinal, ela resolveu falar. — seÉ tive quemá digestão, só pode ter sido mental. Na verdade, estou muito preocupada com meu pai. Quando contou a Neil, entretanto, o fato pareceu absurdo. Imediatamente ele comentou que o pai dela devia ter escrito o P.S. num momento de mal-estar ageiro. — Aposto que você ficou imaginando o pior, não foi? Em pensou? que Um problema de coronária... ou câncer? — Em tudo, inclusive isso. — Ela fez um sorriso pesaroso centou e acres impulsivamente: — Acho que não ficaria tão preocupada elesenão estivesse sozinho. Neil foi gentil em não fazer a pergunta indiscreta que gostaria, mas Sharon sabia que ele devia estar esperando uma explicação. — M eus pais se separaram um pouco antes de eu ser transferidapara cá. Eu... sofri muito com isso. Fiquei muito triste. — Posso entender perfeitamente — disse Neil devagar, num compreensivo tom como nunca tinha antes falado com ela. — Mas épossível bem que eles dois se sintam mais felizes assim, separados. A vivência con forçada de duas pessoas que não se dão bem trás uma tensão m uito grande. Os meus pais, mesmo, nunca se deram muito Quando bem. papai morreu, é claro que mamãe ficou triste e chorou,nomas fundo não sentiu muita falta dele. Sharon ouvia-o com uma sensação de irrealidade. Seria este moo Dr. mesNeil, cujo carro ela tinha estragado e por quem sentira antipatia uma à primeira vista? É verdade que a antipatia não duraramuito, mas ela nunca imaginara ter uma conversa dessas, logo com ele. — Se quer m eu conselho — continuou Neil — escreva a seu perguntando pai os pormenores que deseja saber e convide-o para ar vir férias aqui em Southaven. Assim você poderá vê-lo e saber como ele está realmente. — Ele está morando muito longe daqui, mas pode ser quedagoste idéia. Em todo caso... obrigada por ter ouvido minhas rias... lamú e ter me aconselhado. — Ela sorriu com certa timidez. — Você vai acabar entendendo melhor e aceitando o fato mento do casadeles ter-se desfeito. O tempo é o melhor remédio, como o velho diz ditado. — Acho que sim. Tudo ainda é muito recente... — Está mais anim ada, agora?
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— Ah, estou sim, obrigada. — Olhando de relance para o ela relógio se levantou e pegou sua bandeja. — Preciso ir andando, senão chegarei atrasada. Chegando à enfermaria, entregou-se ao trabalho com energia entusiasmo e e conseguiu esquecer todo o resto. Não pensou mais conversa na que tivera com o médico-residente até que ele chegou paraa inspeção rotineira. E então foi difícil acreditar que aquilo tinha tecido, aconpois ele estava com um mau humor terrível.
Neil perdeu a paciência com Mike, um enfermeiro, por causa de uma bobagem qualquer e ou pela enfermaria carrancudo, tratando com gentileza apenas os pacientes. — - Acho que Dr. Neil devia ter ficado mais tempo descansando murmurou — Terry. — Ele não parece, estar recuperado... Deus livre, me que mau humor! — É que ele foi chamado aqui de madrugada e não paroubalhar de traainda. Deve estar cansado — explicou Sharon. Ele ergueu a sobrancelha e a olhou sem entender nada. — Como é que você ficou sabendo disso?! — Sabendo, ora! — disse ela e se afastou depressa antes que insistisse Terry no assunto. Aquela tarde, no seu período de folga, escreveu ao pai conforme Neil tinha sugerido. Ficou surpresa e aliviada quando recebeu posta a res poucos dias depois.
George dessa vez escreveu dizendo que estava bem melhorisso, e, por tinha desistido de fazer o check-up. Quando à sugestão de Sharon em relação às férias disse que achava uma boa idéia e prometeu pensar no assunto com calma. Sharon tranqüilizou-se e tentou esquecer os receios. A vidam dela Southaven e tinha entrado numa rotina regular que achava agradá vel e satisfatória. ava todas as folgas com Lesley, ou então com Terry. Sempre que possível, ia velejar com ele e já estava tão riente expeque, às vezes, ele a deixava até manejar a barra do leme. Ela não pensava em levar o relacionamento deles adiante, sabia mas que sentiria muita falta das visitas à casa de Terry e dosseios pas que faziam juntos. Os pais dele já achavam natural vê-los juntos e provavelmente pensavam nela como a namorada do filho. Entretanto, quando Sharon foi convidada para uma festinhade íntima batizado de um dos sobrinhos de Terry, na casa da irmã sentiu dele, que já era demais. Estavam tratando-a como se já fosse da família! Era uma verdade que a deixava confusa e da qual não mais podia fugir. — Acho que não terei folga esse domingo — disse ela, tentando esquivar-se. — Se não tiver pode trocar sua folga com alguém, é só combinar — disse ele.— Por isso Ângela avisou você com bastantecedência. ante
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Sharon ficou indecisa, mas acabou resolvendo verificar seu ehorário como descobriu que não estava de folga pediu para trocar com uma enfermeira. Não sabia bem por que estava fazendo isso, mas bou aca indo. A festinha realmente foi bem íntima e familiar, e no começo ron sentiu-se Sha meio constrangida achando que estava alimentando sas fal interpretações sobre o relacionamento dela com Terry, pois ela era a única pessoa presente que não pertencia à família. Entretanto, depois que começaram a servir champanha, ela foi se descontraindo começou e a se divertir. — Que família maravilhosa você tem , Terry! — ela disse entusiasmo, com a certa altura. — A gente sente que aqui existe amor. Eles parecem se gostar de verdade! Ele se surpreendeu com o comentário. — Ora essa, mas por que não haveriam de se gostar? — Nem sempre os parentes se dão bem ou se gostam. Eu atédiria que famílias como a sua, que permanecem unidas, são raras. Os dois tinham voltado para a casa de Terry antes dos outros. Os pais dele tinham ficado na casa da outra filha para ajudar limpar a os vestígios da festa. Serviram-se de café e sentaramse nosofá, lado a lado. Terry ou o braço por trás de Sharon, acariciou de leve cabelos os dela e sorriu. — Você tem uma visão um tanto distorcida das pessoas, meuNão amor. sei não... Na superfície todas parecem ótimas, em todo caso, eu não me preocupo em me aprofundar muito mesmo, porque acho que ou a gente não encontra nada e aí se decepciona, ou não dogosta que encontra. Sem saber por que razão, Sharon imediatamente pensou em queNeil parecia esconder muita coisa sob aquela superfície de impaciên cia e rispidez. Entretanto, logo voltou ao presente, sentindo que Terry tinha gado che mais perto e colocado o braço em volta de seus ombros,tando-a aper de leve. — Ainda bem que voltamos antes dos outros, Sharon. — dele A voz estava mais séria do que de costume. — Eu queria falarvocê. com Ela olhou para Terry e o rosto dele estava tão perto que elaa cabeça virou para o outro lado. — Sobre o quê? — Sobre nós. — Ele fez uma pausa, depois continuou: — Nós já nos conhecemos há tanto tempo... — Não tanto — interrompeu Sharon. — Não se pode contar quando ainda éramos crianças... é diferente. 62
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— Por que não? Não vejo diferença nenhuma. Assim que nós nos reencontramos nosso relacionamento continuou no ponto que tinha parado, como se nem tivesse sido interrompido. Você não acha que isso é um fator importante depois de cinco anos de separação? Ele esperou que ela fizesse algum comentário, mas Sharon ficou em silêncio, porque seu coração batia tão forte que ela até tinha impressão de que Terry podia ouvi-lo. — Você não acha que nos damos bem? Não acha que combinamos, hein? — ele perguntou. — Ah, claro que sim. Nós somos ótimos amigos. — Ainda bem que você concorda com isso, é muito importante para o que vou dizer agora. — Ele a puxou mais para perto e com um gesto delicado fez com que Sharon o encarasse. — Minha querida Sharon, caso você ainda não tenha percebido, estou lhe propondo casamento. Podemos ficar noivos já e casar logo depois. Não quero esperar muito. O que acha da idéia? Sharon quase perdeu o fôlego e não pôde evitar uma expressão de surpresa. Desvencilhou-se dele e olhou-o indignada. — O que acho da idéia?! Você quer mesmo saber? Pois vou lhe dizer! — Ela respirou fundo e continuou: — Nunca fui pedida em casamento, mas sempre imaginei que o rapaz fizesse uma declaração de amor antes. Você não disse uma palavra sobre isso... não disse nada sobre o que sente por mim! — Mas é claro que eu amo você! — disse Terry com os lábios bem perto do ouvido dela, depois de tê-la abraçado de novo, com certa dificuldade. — Desde que éramos crianças que eu amo você e quando a reencontrei não custou muito para renascer o mesmo sentimento. Eu não disse logo no início porque achei que era cedo demais. — Ainda é cedo demais. Eu... eu não sei o que sinto por você. — Eu sei que você sente alguma coisa por mim... — É, eu também sei, mas acho que isso não é amor. Você precisa me dar um tempo para pensar, Terry. Vamos continuar assim como estamos, até o fim do verão, pelo menos... Ele disfarçou a decepção, fingindo uma alegria forçada. — Está bem, mas com uma condição. — Qual é? — perguntou Sharon nervosa. — Que eu possa considerá-la minha noiva... quer dizer, não oficial, não com aliança, é claro. Mas quero que haja um período de experiência entre nós, como se fosse um noivado. Trocando em miúdos, quero ter certeza de que você é minha garota e que não vai entrar nenhum outro cara na jogada. 63
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— Está bem, concordo. Acho até uma boa idéia. E quanto a outros homens, pode ficar sossegado que não há ninguém interessado em mim. Você é o único cara com quem eu saio desde que cheguei em Southaven. — Quer dizer que esqueceu aquele cara de Londres? Você estava na fossa por causa dele quando chegou aqui, eu me lembro. — Nunca mais pensei nele — disse Sharon, tomando consciência do fato com certa surpresa. — Fico contente com isso, é claro, mas ao mesmo tempo fico preocupada. Eu pensei que o amasse de verdade... e durou tão pouco! Como é que a gente pode saber, afinal, se o que se sente por uma pessoa vai durar ou não? — Acho que não se pode saber, mas depende muito do tipo de relacionamento que existe, e principalmente, em quê se baseia... se é só em atração ou entusiasmo... No nosso caso, por exemplo, existem bases sólidas... Amizade, compatibilidade, compreensão... Você quer coisa melhor do que isso tudo? Sharon sabia que ele tinha razão, mas também não podia negar que esse modo de encarar as coisas não era nada romântico. Contudo, não disse nada. Ficaram lá, sentados no sofá, até que os pais de Terry voltaram. Então a mãe dele disse que ia providenciar alguma coisa para comerem antes de Sharon ir embora. — Você está magra como um palito, minha filha — disse ela, examinando a garota com um olhar de reprovação. — Acho que a comida do hospital não deve ser boa... Terry sempre chega aqui morrendo de fome. — Ah, eu não quero engordar — disse Sharon. — Mas que bobagem! — Ela olhou para seu próprio corpo, volumoso. — Pois eu lhe digo que os homens preferem uma garota com mais curvas. — Você está por fora, mamãe — disse Terry sorrindo. — Hoje em dia as magras é que estão na moda. Sharon pensou mais uma vez que aquele era um lar feliz e maravilhoso e que ela tinha sorte de poder fazer parte dele também. Naquela noite, quando se despediram na porta do Clifftop e Terry a beijou, ela correspondeu com mais carinho e, em seguida, subiu para o seu apartamento, sentindo-se feliz e radiante. Quando acordou, ainda estava com a mesma sensação da véspera, mas logo que começou a trabalhar, não pensou mais no que tinha acontecido. O ambiente estava carregado. Um paciente tinha morrido inesperadamente durante a noite e as enfermeiras todas estavam perturbadas, embora ninguém comentasse o fato. Depois, durante a tarde, chegou um caso de emergência, um veranista com sintomas graves de envenenamento. 64
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Ele foi colocado no quarto ao lado da enfermaria, o mesmo que Neil tinha ocupado. E naquele dia, antes da seis horas já tinham sido itidos dezenove pacientes no mesmo estado e as enfermeiras estavam todas atarefadíssimas. — Puxa, que incrível, não é, enfermeira? - disse Maureen, contente. - É bom, pois eu gosto de ficar ocupada. — Como pode dizer isso? - protestou Sharon. — Tantos casos de intoxicação alimentar é para assustar, isso sim! Isso pode ser muito perigoso! Além disso, com tantos casos graves assim, não se pode nem dar atenção aos outros pacientes... — Ah, estão todos muito bem. Acabei de fazer uma ronda pela enfermaria para verificar isso. Sharon sorriu, pensando se Maureen seria mesmo competente para julgar a condição dos pacientes, embora reconhecesse que depois dela ter sido repreendida tinha melhorado bastante. Mas aquele não era o momento para ficar avaliando a capacidade das estagiárias. Havia um homem em estado grave. Um tal de sr. Webster que estava com o coração fraco em conseqüência da intoxicação. Quando Sharon foi examiná-lo para registrar a pulsação cardíaca, a temperatura e a pressão sangüínea, coisas que estavam sendo feitas de hora em hora, encontrou Neil ao lado do paciente, tomando a pressão dele. Ficou em silêncio, esperando que ele terminasse, depois olhou-o com ar interrogativo, segurando a caneta, pronta para anotar na ficha do doente o resultado. Neil apenas disse o número, sem nenhum comentário, mas os dois sabiam que era alarmante. — E os outros, como estão? - ele perguntou depois de terem saído do quarto. — Estão apresentando melhoras, doutor. — Ótimo, porque este aqui está me preocupando muito. Já fizemos tudo o que podíamos, agora só nos resta esperar para saber se o coração dele vai agüentar. Sharon olhou para ele, aflita. — Não está achando que ... ? — Que ele não vai agüentar? Não sei, não posso dizer nada, você sabe também que as condições não são nada favoráveis. 65
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— Mas que horror, é uma judiação. Eles todos são membros de um clube e vieram apenas ar um dia aqui, com uma excursão de ônibus. Devem ter comido alguma coisa estragada na hora do almoço. — Graças ao descuido de alguém, estou certo. Isso precisa ser relatado às autoridades. Neil enfiou as mãos nos bolsos e desapareceu no corredor, carrancudo. Na manhã seguinte, a primeira coisa que Sharon fez foi perguntar pelo Sr. Webster. Ficou sabendo que ele ainda estava vivo, mas as próximas vinte e quatro horas é que seriam críticas. — Puxa, o mais triste é esse senhor não ter ninguém que se preocupe com o que possa acontecer a ele... - disse uma das vítimas da intoxicação, um homenzarrão de cabelos grisalhos. - Todos nós temos um parente próximo que foi avisado, mas o pobre Tom é solteiro e não tem ninguém... Talvez por sentir pena do homem solitário, Sharon ofereceu-se para ficar de plantão aquela noite, cuidando só dele, sem abandonar a cabeceira do paciente. Assim que entrou no quarto verificou a ficha dele e alegrou-se por ver uma pequena melhora. Sentou-se ao lado da cama, preparando-se mentalmente para enfrentar uma longa vigília. Iria ficar ali várias horas sem fazer nada.
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CAPITULO X No início o tempo demorou a ar. Sharon acendeu a luz do abajur e ficou sentada ao lado da cama, atenta a qualquer mudança na respiração do Sr. Webster e sentindo-se estranhamente isolada do mundo lá fora, em que os veranistas se divertiam dançando, jogando, eando e bebendo. — Você está muito ansiosa para ir embora, Sharon? — perguntou a enfermeira do turno da madrugada que iria substituí-la. — Se você não estiver muito cansada, eu queria lhe pedir para ficar mais um pouquinho... você se importa? — Tudo bem — respondeu Sharon — mais uma hora ou duas não vai fazer diferença. Só à meia-noite é que a outra chegou para tomar seu lugar. Mas não estava cansada. Quando saiu da enfermaria sentiu de repente um impulso irrefreável de caminhar um pouco antes de ir se deitar. O ar da noite estava morno e agradável e uma lua cheia iluminava toda a paisagem com sua luz prateada. Ouvia-se perfeitamente o som das ondas do mar quebrando na praia. Parada diante da porta principal, Sharon percebeu que alguém saiu súbita e apressadamente e quase deu de encontro com ela. Era Neil! — Desculpe... mas que diabo está fazendo parada aqui ahora estada noite? Ela explicou o que estivera fazendo até aquela hora e Neil que dissetinha justamente acabado de sair do quarto do Sr. Webster e estava que satisfeito com o progresso do paciente. — Acho que ele superou a crise, afinal — Neil fez uma pausa e hesitou um pouco. — Bem... eu estou indo dar um mergulho antes de ir pra casa... — Você vai fazer o quê?! — surpreendeu-se Sharon. — Ué, o que é que tem? Não há nada de mais em se tomar banho um de mar à noite. Você nunca experimentou? A água é mais quente do que de dia e é ótimo. — Não, nunca experimentei... — Então, por que não aproveita agora? — O tom de voz era plicente dis e ele não estava olhando para Sharon. — Vai lhe fazer bem, depois de ter ficado sentada tantas horas à cabeceira do paciente. Vai trocar de roupa que eu espero, vai! Ela foi até o quarto, colocou o biquíni, pegou uma toalha, nasequal enrolou, e foi encontrar Neil na praia deserta. Chegando lá,direto foi para o mar e ficou caminhando no raso para experimentar temperatura a da água. Disponibilizado por Keli Cristina
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— Está uma delícia! — ela exclamou. — Não falei? — Ele se aproximou, já de maio, e ficou ao lado dela. — Tira isso aí e vamos entrar na água. Sharon tirou a toalha, que deixou na areia, e um arrepio percorreulhe o corpo. Diante deles o reflexo da lua criava a ilusão de caminho um sobre o mar que parecia ir até o céu. Como uma criança,maravilhada, ela correu e entrou na água e mergulhou no caminho prata,de mas quando subiu à tona, percebeu que ele se desfizera. A continuava lua a brilhar no céu e a refletir na crista das ondas, mascaminho o mágico tinha desaparecido como que por encanto. Quem sabe se nadando mais para o fundo ele surgisse de novo! Sharon nadou com movimentos precisos e regulares que aprendera com o pai. George era um excelente nadador e fizera questão de ensin ar as filhas. Um pouco cansada Sharon parou para tomar fôlego e ficou boiando. Quando olhou para trás ficou irada de ver como estava longe beira da da praia. De repente, percebeu que alguém nadava perto dela e ouviuvoz uma brava gritar: — Ei, sua maluca, saia daí! Volte já! Sharon nadou ao encontro de Neil, com elegância. — O que foi que houve? — ela perguntou, realmente surpresa. — Pensei que você fosse atravessar o Canal da Mancha! Puxa, que deu o em você para sair nessa disparada? Neil estava realmente chateado e ela não entendia por quê. — Eu gosto de nadar, só isso. O que você queria que eu fizesse? Que ficasse no raso, dando pulinhos na água?! — É claro que não, mas não sabia que você nadava tão bem. Fiquei com medo que não conseguisse voltar depois... a maré estádando mu e eu não sou nada bom como salva-vidas. — Não tem muita correnteza ainda. Acho que não vai ter ma proble para voltar. — Sharon deu umas braçadas em direção à praiaEstá — vendo? É fácil. Neil nadou atrás dela, depois, juntos, nadaram devagar a praia. até — E então? — ele perguntou enquanto se enxugavam, pouco depois. — Gostou? — Ah... foi maravilhoso! Só tem uma coisa que me deixou triste. — Ah é? E o que foi? Ela se virou e apontou para o caminho prateado que a lua criava sobre o mar. — Não pude nadar até a lua porque o caminho sumiu quando trei na enágua... que 68
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pena! Não sei por que ele desaparece assim quan do a gente chega perto, você sabe? — Não tenho a menor idéia — ele já tinha vestido a calça camisa e a e olhava para ela — mas entendo o que você sentiu. Quando eu era garoto também queria nadar assim pelo caminho prateado, não e entendia por que não conseguia. Só mais tarde é que descobri eleque desaparece quando os olhos da gente ficam no nível da água. gente A só consegue vê-lo à distância. Sharon sentou-se e começou a enxugar os pés. — É como a vida, não é? A gente quer desesperadamenteçar alcan uma coisa e quando pensa que está perto de atingi-la descobre que é uma ilusão... que o que a gente quer ainda está longe, inaces sível. — Esse é um pensamento bastante profundo — disse ele, após instante um de silêncio. — Acho que é uma grande bobagem, isso sim! — Sharon riu,envergonhada. meio — Estou um pouco atordoada... deve ser porque estou com fome. — Tenho uma barra de chocolate no bolso. Vamos dividi-la? — Obrigada, doutor... eu adoraria. — Pelo amor de Deus! — A rispidez da exclamação pegou-a surpresa, de por um minuto ela ficou sem saber como agir. — Por acaso quer que eu fique chamando você de "enfermeira Sharon"? Não acha melhor usarmos só os nossos nomes, hein? — Ah, é claro... Neil. — Você tem um nome tão bonito e pouco comum! Sharon... Ele se sentou ao lado dela e lhe deu o pedaço de chocolate. Sharon sentiu sua fome diminuir, mas a sensação de atordoamento continuou. Era quase como se estivesse embriagada. Mas o que dava a sensação de irrealidade era o fato de sua companhia ser Neil e de eleseestar divertindo tanto quanto ela. Ele que durante o dia, clinicando enfermaria, na era tão sério e carrancudo, lá estava agora sentado a seu lado, tão perto que estava quase encostando nela. Os dois comiamchocolate olhando o mar enluarado que se estendia a perder dediante vista deles. Sharon estava sonhadora, achando que havia uma estranha magia no luar. Algo misterioso acontecera com eles dois, fazendo comdeixassem que de ser médico e enfermeira, para serem apenas seres huma nos contemplando a beleza da paisagem. Sharon sabia que no dia seguinte tudo voltaria ao normal e seria como se aquela noitetivesse nem existido, mas por enquanto nem queria pensar nisso. Acabaram de comer o chocolate mas Neil não demonstrou vontade de ir embora. Parecia estar satisfeito de ficar ali ao lado dela, naquela contemplação silenciosa, mas não solitária. Subitamente Sharon começou a sentir frio e começou a tremer. Neil olhou para ela. 69
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— Você deve estar gelada! Desculpe... foi imprudência minha fazer você ficar aqui ao relento tanto tempo assim! — Ora, não tem importância. Eu... eu gostei muito de ter nadado e... de tudo. — Ainda bem, fico contente de saber. — Ele estendeu a mãoajudá-la para a se levantar. De repente as luzes que iluminavam a praia se apagaram. Sharon levou um susto, e colocou a mão nos olhos. Embora o luar iluminasse a praia, as luzes apagadas diminuíam bastante a claridade. — Elas sempre se apagam à uma hora — explicou Neil. Ele ainda estava segurando a mão dela e apertou suavemente. vam Esta bem perto um do outro, os corpos quase se encostando, e, então, o coração de Sharon começou a bater mais forte... ela sentiu umfrio na boca do estômago quando Neil a abraçou. Percebeu que o coração dele também batia com mais força... e quando elenou incli a cabeça e beijou-a na boca com ternura e suavidade, pareceu a Sharon a coisa mais natural que podia acontecer naquela noite mágica. No início o beijo foi terno, mas à medida que a emoção tomava conta deles o beijo foi ficando mais intenso, mais ardente... Sharon correspondia plenamente, de olhos fechados, sentindo as pernas trêm ulas, mas não de frio. Era uma sensação estranha que não conhecia e que a deixava totalmente indefesa nos braços dele. — Sinto muito... — disse Neil, bruscamente, afastando-a de — si. Creio que me descontrolei... acho que me deixei levar pelascunstâncias. cir — Ele olhou para ela misteriosamente. — Por favor, me perdoe, Sharon. — Eu... eu não achei ruim — ela disse com sinceridade. — que Acho isso talvez fizesse parte do resto... da beleza do luar sobre as águas, do banho de mar a essa hora... de toda essa situaçãomágica. — É melhor, mesmo, considerarmos o que houve dessa maneira. — O tom de voz era tenso e a camaradagem de antes desapareceu como num sonho. — Isso não vai mais se repetir. É melhor eu levá-la para casa, agora. Os dois caminharam em silêncio até a porta do prédio e depois de uma rápida despedida Sharon entrou, mas antes de subir olhou trás. paraNeil estava parado ao lado do carro olhando para ela. Sharon acenou com a mão e subiu depressa. Neil foi para casa, absorto em seus pensamentos, mas quando gouche e viu o carro do irmão parado na entrada, imediatamente voltou à realidade. O carro estava com o porta-malas todo amassado, como se tivesse batido num poste ou algo assim... o que provavelmente significava que ele andara bebendo demais, outra vez. Jonathan estava na cozinha, sentado à mesa, tomando café. 70
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— Oi — disse ele, olhando desconfiado para Neil. — Quer um pouco de café? Ainda está quente. — Não, obrigado. — Neil foi direto ao assunto: — Como é que fez aquele estrago no carro? — Meu pé escorregou e esbarrou no acelerador quando estava fazendo marcha a ré — ele explicou depressa. — Não vi aquele maldito poste. — Ê, acho que isso não aconteceria se você não tivesse tomado tanta cerveja! — Ora, todo mundo da turma bebe do mesmo jeito! — Então, só posso lhe dizer que deve procurar outra turma, outros amigos melhores — disse ele com voz calma. Jonathan deu de ombros e não se preocupou em retrucar. Neil não podia censurálo. Afinal, lembrava-se muito bem de seu tempo de garoto, quando todos os rapazes gostavam de se mostrar fortes e capazes de agüentar firme a bebida. Só que para ele aquela fase tinha durado bem menos. Jonathan estava demorando um pouco para criar juízo e perceber como aquilo tudo era uma besteira. — Se você não tomar cuidado, qualquer dia vai acontecer alguma coisa pior... um acidente grave... pode até morrer alguém. — Não sou tão mau assim, não é? — protestou Jonathan. — Sei que já amassei o carro várias vezes, mas foi só coisa leve. Nunca causei um acidente de verdade. Ele virou as costas e subiu antes que a discussão esquentasse, mas Neil continuou sentado na cozinha por mais algum tempo. Afinal, com certo esforço, ele se acalmou, foi verificar se as portas e janelas estavam bem fechadas, se as luzes estavam apagadas e depois subiu também. Neil custou para dormir e quando o despertador o acordou de manhã, sentiu que não tinha dormido o suficiente. Sharon também tivera dificuldade para pegar no sono, mas como não tinha plantão de manhã, pôde dormir bastante. Só acordou quando Lesley bateu em sua porta. Ela também estava de folga aquela manhã. — Ei, acorde, sua preguiçosa — disse a amiga. — Está um dia...lindo! Vamos à praia, está ótimo para nadar! Sharon esfregou as pálpebras pesadas de sono e ao ouvir essa palavra, e repente, d lembrou-se de quem nadara com ela na noite anterior e despertou de uma vez. Lesley estava parada no meio do quarto olhando para alguma coisastava queno e chão. - Olha só, seu maiô e sua saída até já estão aqui, à mão,vestir, é só vamos!— Ela se abaixou e pegou as coisas. — Meu Deus! Está tudo ensopado!
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— É mesmo? — Sharon vestiu o roupão. — Água salgadaacusta secar, não é? — É, mas não se trata disso — insistiu Lesley, curiosa. —está Nãoúmido, está molhado mesmo, como se você tivesse tomado banho de mar há pouco tempo. Aposto como foi nadar ontem à noite quando saiu do hospital, não foi? Era besteira negar, pois Lesley não iria acreditar. — Fui. Eu sempre quis fazer isso... e estava uma noitevilhosa... mara — Mas não vai me dizer que foi sozinha! — interrompeu a outra, querendo saber o que tinha acontecido. — Foi com Terry? Ah, romântico... que nadar no escuro com o namorado! — Não estava escuro... o luar estava bem claro... mas semdadúvi foi muito romântico. Nós adoramos. — Ah, disso eu tenho certeza! — Ela se sentou na cama,nada. fasci— Vocês estão muito apaixonados, não é? — Bem, nós gostamos muito um do outro, é claro, mas faz pouco tempo que nos reencontramos e ainda é muito cedo para qualquer compromisso mais sério. — Ele é tão bacana! Você tem sorte. — É, eu sei — mas querendo desviar o assunto, Sharon pulou fora da cama depressa. — Como é, vamos ou não pra praia? Ainda bem que Lesley não trabalhava na mesma enfermariaelaque e Terry, pensou Sharon, com certo alívio, caso contrário ela pode ria dar algum fora e Terry não iria entender nada, talvez até ficassechateado com a história. Mas sua alegria durou pouco. As duas garotas aram uma manhã agradável na praia eram volta na hora do almoço. Quando entraram no refeitório, Sharon logo viu Terry sentado sozinho num canto, lendo o jornal. Ele estava tão entretido na leitura que não a viu'. As duas pegaram as bandejas de comida e Lesley ficou procurando um lugar para sentar. — Olha, lá tem uma mesa — disse Sharon depressa, indicando lugar umbem longe de Terry. Lesley olhou para ela irada. — Ué, por que não vamos sentar com Terry? Lá tem lugar. Naquele momento ele ergueu a cabeça e viu as duas. Fez sinalque para fossem sentar lá e Sharon não teve como escapar. Talvez tivesse sorte e Lesley não dissesse nada sobre o banho de mar noturno! Ela não 72
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tinha tocado mais no assunto e já deviater atéesquecido o fato. — Puxa, garotas, como vocês estão lindas, bronzeadas, com de cor saúde! Que boa vida, não é? Aproveitando a praia enquanto gente a se mata de trabalhar. Bonito, hein? — Pois é — disse Lesley. — Estava uma delícia, caímos n'água rias vezes! vá — Como está o Sr. Webster? — perguntou Sharon afoita, querendo mudar o assunto. — Está se recuperando depressa, agora. Já superou a crise ontem de à noite. — Ainda bem. Estava com tanta pena dele... sair para ear e pegar uma intoxicação daquelas! Você sabe se ainda estão investi gando o caso? — Não tenho a menor idéia, amor. Sharon estava tão ansiosa que nem tinha começado a comer.queria Não deixar que a amiga falasse. Afinal, achando que o perigo tinha ado, pegou o garfo e a faca e começou, mas Lesley, que já estavaterminando a refeição, cruzou os talheres e olhou para Terryum com sorriso malicioso. — Até parece que você tem motivo para invejar nosso eio praiaà hoje! E o banho de mar de ontem à noite, com aquele luar?! Eu é que devo ter inveja! Houve um momento de silêncio em que ele tentou entendermentário, o co depois falou em tom natural. — Quem lhe disse que eu fui nadar ontem à noite? — Eu sei que você e Sharon foram à praia, ontem, quandonaram termi o plantão! Eu vi o maio e a toalha dela molhadinhos da silva, hoje de manhã, quando fui chamá-la e ela acabou me contando. Houve outro silêncio. Sharon gostaria de saber qual era asão expres do rosto de Terry, mas não ousava levantar a cabeça. Ficou olhan do para o prato sem coragem de encarar Terry. Depois de alguns instantes ele falou em tom de desgosto: — Não se pode fazer uma droga de coisa neste hospital sem que logo todos fiquem sabendo! — Não vou contar pra ninguém, se você quer manter segredo — Lesley, disse solícita — mas não sei porque ficar tão chateado!tem Nãonada de mais... — Muita gente pode achar que tem — ele disse em tom enigmático ronesentiu Sha que Terry estava olhando para ela.
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CAPITULO XI
Felizmente Terry não estava de plantão à tarde. Sharon foi para a enfermaria e ficou sabendo que os pacientes, vítimas da intoxicação alimentar, tinham recebido alta. Só ficara o Sr. Webster mais umoutro. Havia também um paciente novo, um veranista com problemas cardíacos, que acabara de entrar no hospital, portanto o médiconão ainda o tinha examinado.
Isso significa que Neil iria à enfermaria durante a tarde. Por Sharon isso, ficou num estado de tensão tão grande que nem saberia dizer se ficou triste ou aliviada por ele só ter ido quando a enfermeirachefe já havia assumido seu posto. E Sharon não teve necessidade de entrar em contato com Neil. No entanto, os dois se cruzaram, alguns por instantes, no corredor da enfermaria. Eles trocaram um rápido olhar, mas a expressão dele era inescrutável, não havia a menor indicação d que ele estivesse pensando na noite anterior. Ao contrário, Neil virou-se para a enfermeira-chefe que estava ao lado dele, e con tinuou a conversar com ela como se não tivesse acontecido nada de diferente na véspera. Sharon sentiu que enrubescera e ficou furiosa consigo própria, continuou mas seu caminho fingindo naturalidade. Ela já esperava atitude essa dele. Neil mesmo tinha dito que o que acontecera não signi ficava nada. Entretanto, não pôde deixar de ficar desapontada. poderia Ele pelo menos ter sorrido, ou ter feito um gesto breve qualquer que a fizesse reconhecer nele o homem que encontrara na praia,noite, à e não o médico frio e impessoal de sempre. Quem sabe aquele homem não existia!? Talvez aquilo tudo só tivesse acontecido por Neil ter sido provocado pela magia do luar... Sharon suspirou e continuou seu trabalho, até que Terry entrou plantão de de novo. Daí ela foi ficando cada vez mais nervosa sabendo que se aproximava o momento de contar a ele o que acontecera. Não havia como escapar, mais cedo ou mais tarde ela teria que com falar ele. Quando Sharon estava saindo da enfermaria ele a alcançou. ram Desce juntos, em silêncio, e foram para o jardim. Terry respirou fundo, enchendo os pulmões com a brisa fresca do mar. — Puxa, a enfermaria nunca esteve tão quente e abafada hoje. como Vá trocar de roupa e vamos dar uma volta por aí, quem sabe assim eu melhoro. — Melhora de quê? — Não sei, estou confuso. Não consigo entender por quedisse vocêa Lesley que foi nadar à noite comigo. Que bobagem, se você estava sozinha por... — Eu não estava — interrompeu ela. — Vou lhe contarhistória toda assim que tirar este uniforme. Logo depois ela voltou, usando um vaporoso vestido de verão. Terry estava sentado Disponibilizado por Keli Cristina
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num banco do jardim, esperando, e enquanto eles conversavam um doce perfume de rosa os envolvia. Sharon explicou tudo a ele, em poucas palavras, escolhendo-as com cuidado para parecer o mais natural possível. — Puxa, estou perdido! — Terry parecia ter sido fulminado umpor raio. — Logo ele, o chefão! Nunca pensei que ele fosse capaz disso! — O que quer dizer? Ele sempre nada à noite... ele me disse. — É, mas não com uma garota... a não ser que seja Maria. O tom — de voz dele mudou. — Está querendo que eu acredite que não Neil se aproveitou nem um pouco da situação? — Não sei o que quer dizer com isso. — É claro que sabe. — Neil nem mesmo me deu um beijo de boa-noite — disse Sharon com dignidade. — Ele foi amável e gentil, só isso. Não havia necessidade de contar o momento mágico pois ele tinha nãosignificado nada além daquele minuto. — Está bem — disse Terry de repente. — Vou acreditar na história, sua por que se trata do Dr. Neil. Se fosse outro cara, euacreditaria. não — Pois deveria! Sharon achou que, afinal, não tinha sido difícil contar tudo aaquilo Terry. Pois logo que ele ficou sabendo que se tratava do Dr. Neil pareceu não se importar muito... e deveria ter se importado. Ele deveria ter ficado bravo, com ciúmes, e tudo o mais, afinalconsiderada ela era namorada dele! Mas, a verdade é que ele não tinha ficado sabendo de toda tória. a his Ela só contara os fatos objetivos. Não falara da estranha atmos fera, da magia daquele banho de mar ao luar. Isso era algo que queria guardar só para si. — Como é, vamos dar um eio por aí? — Terry se erguera pareciae ter encerrado o assunto. — Depois a gente vai a um barzinho tomar alguma coisa. O programa foi cumprido conforme o combinado e depoisram volta para o prédio de braços dados, carinhosamente, como sempre. Quando entrou em casa, Sharon ficou imaginando que tinha sorte, afinal, de ter um namorado que não era ciumento e que não ficava criando caso por um incidente à toa. A vida voltou à rotina normal de trabalho e nos dias deSharon folga faria visitas à casa de Terry. Mas agora a única diferençaque, era enquanto trabalhava na enfermaria, Sharon fazia o 75
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possível paranão se encontrar com Neil, embora não soubesse porque agia Uma assim.bela manhã, Maria reuniu no vestiário as enfermeiras que vam estade plantão e veio com uma novidade explosiva. — Ei, vocês todas, escutem aqui um minutinho, antes de começar mos a trabalhar — a voz clara e confiante de Maria dominou facilmente o zunzum geral da conversa. Os olhos azuis dela brilhavam com uma euforia que jamais tinha demonstrado. — Domingo vemque é meu aniversário e vou dar uma festa muito especial. Vocês estão todas convidadas para irem ao Grande Hotel, assim que termi narem o plantão e podem levar acompanhantes. — Mas o que há de tão especial nessa festa? — perguntou Terry. — Vai ser no salão de banquetes, com jantar, bebidas elae... interrompeu e olhou os rostos curiosos. — O resto não vou contar, é segredo. Domingo vocês vão saber. — Ah! Eu não agüento esperar! — disse Maureen, morrendo curiosidade. de — Conta, vai, Maria! — De jeito nenhum! Eu prometi guardar segredo por alguns dias e não vou quebrar a promessa. — Agora vamos ficar morrendo de curiosidade até domingo! disse—Terry. Sharon não falou nada. Ela também se surpreendera com o convite e até tinha ficado contente, antes de Maria falar da surpresa. Uma festa no Grande Hotel era mesmo um grande acontecimento. Só que uma certa desconfiança começou a se insinuar em sua mente e isso diminuiu um pouco o prazer da festa. Não era difícil adivinhareraqual a surpresa de Maria. Quando comentou com Terry, na hora do almoço, descobriu que ele também tinha pensado a mesma coisa. — Acho que ela vai anunciar o noivado... com alguém, não acha? — É bem provável — concordou ele. — Mas por que será que ela quer guardar segredo? — Ah, isso faz o gênero dela, Sharon. Ela gosta de bancarportante. a im Sei que ela é ótima enfermeira e tudo o mais, mas é tanto um convencida, todo mundo sabe! Ela adora fazer mistérios! — Acho que sei quem é o noivo... — Sharon baixou o olhar.Neil. —É — Acho que ele é o candidato mais provável. Maria sempre esteve interessada nele e Neil ficou no hotel do pai dela quando estavavalescendo. con — Mas não sabia que eles continuavam a se encontrar depois eleque saiu de lá. Neil nem a olha na enfermaria. É como se ela nem existisse... — Ora, meu amor, Neil não nota a existência de ninguém, ser a não a dos pacientes. 76
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— Mas eu acho que é ele mesmo. — E de certa forma eles combinam muito bem — concluiu Terry. — Os dois são reservados, frios e auto-suficientes, embora Neil vezes às tenha explosões de mau humor. Acho que farão um belo par, até fisicamente. Ele moreno e Maria, aquela beleza de loira! — É... mas parece que ela não se dá muito bem com a mãe dele, nem com Jonathan... — Problema deles, meu amor. Eles que resolvam. Os dois não falaram mais na festa, mas nos dias que se seguiram, esse foi o comentário geral das outras enfermeiras que faziam osparativos pre para o grande dia.
Sharon decidiu comprar um vestido novo e numa tarde em que e Lesley ela ficaram de folga, resolveram sair para fazer compras. mente Real era uma delícia entrar nas lojas e escolher os artigos. Afinalescolheu o que queria e saiu feliz, com o pacote na mão, embora tivesse gasto um pouco além do que tinha imaginado. No domingo, por sorte, ela terminava o serviço às cinco horas portanto e tinha tempo de sobra para se arrumar. Tomou banho, lavou o cabelo e secou com escova, deixando-o de um jeito natural, sedosoe macio. Depois colocou o vestido verde-mar que tinha comprado, umafez maquilagem leve, e olhou-se no espelho com aprovação. Realmen te o tecido fazia um belo contraste com sua pele bronzeada! No saguão do prédio, no andar térreo, Sharon ficou esperando Terry. Quando ele apareceu, de terno escuro, com o cabelo loiro bem penteado, os dois se olharam irando-se mutuamente. — Uhm... gostei do vestido novo! — disse ele examinando Sharon da cabeça aos pés. — Está tão chique que eu deveria estarsmoking. de — Ora, que bobagem. Todo mundo vai de terno comum — Sharon sorriu para ele. — E, depois, você está muito bacana assim. Chegando ao Grande Hotel, atravessaram um corredor com tapete macio e entraram num grande salão, resplandecente, com lustrescristal de e vários espelhos. Estava tudo muito bem decorado, embora parecesse luxuoso demais. Sharon já estivera em ambientes assim, antes, contudo sentiu um certo nervosismo ao se aproximar dos anfitriões. O pai de Maria era baixo e gordo, de cabelos grisalhos e a mãe era uma mulher alta, de bem traços feitos e com um jeito decidido. — Maria, daqui a uns trinta anos, será igual à mãe dela —murou mur Terry, enquanto procuravam a aniversariante. Ela os recebeu sem grande entusiasmo, olhando sempre para apara portaver quem chegava. Estava com um vestido finíssimo que deveria ter custado uma fortuna e que delineava 77
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bem suas formas perfeitas. — Não estou vendo o felizardo por aqui... — Terry disse, enquanto aceitavam a bebida que um garçom trouxe na bandeja. — De quem está falando? — Ué, nós não comentamos que o noivo era o Dr. Neil?! Ela se virou para a porta, por onde os convidados não paravam de entrar formando pequenos grupos. Em um deles, imediatamente reconheceu Neil, Jonathan e Maureen que estavam meio separados dos outros conversando com os pais de Maria. Depois de algum tempo Terry chamou Sharon para irem comer. O bufê estava sendo servido na sala ao lado. Havia uma mesa enorme, enfeitada com flores ao centro e coberta de iguarias, que pareciam deliciosas. — Não estou com muita fome... — protestou Sharon. — Mas eu estou morrendo de fome! É melhor você pegar umtambém, prato porque fica chato eu comer e você ficar só olhando. A comida realmente era apetitosa e ela acabou comendo alguma coisa. Quando terminaram, Terry começou a falar sobre o veleiro. — Sabe de uma coisa? Sábado que vem, nós dois teremos folga. Por que não combinamos de ir velejar de novo, hein? — Como? — Sharon estava distraída e demorou um poucoentender para o que ele disseca. — Ah, sei. Gostaria muito. — Quem sabe dessa vez a gente pega um vento bom. Esse está verão ótimo, mas o vento tem sido fraco. — É, parece que sim... De onde estava sentada Sharon podia ver o salão de baile que estava já cheio de pares dançando. De repente, viu Maria, toda sorri dente, nos braços de um homem moreno e bonitão, vestindo um elegan te smoking. O rosto dele lhe pareceu vagamente familiar e ela pergun tou a Terry se sabia quem era. — É Robert Trueman... Ele ficaria furioso se soubesse quenão você o reconheceu! — O artista? Ah é! Eu esqueci que ele estava hospedado aqui. Ficaram sentados mais algum tempo e depois Terry sugeriu fossem que dançar. — Tem certeza que consegue se mexer depois de tudo o quecomeu? você — perguntou Sharon, com certo sarcasmo. — Um pouco de exercício me fará bem! O conjunto, num palco meio escondido pelas plantas, tocavamúsica uma moderna e Sharon começou a dançar com desenvoltura, guindo se o ritmo com precisão e elegância, fazendo 78
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o vestido esvoaçar em volta do corpo. O salão estava cheio e de repente ela se separou de Terry. Quando percebeu havia outro homem diante dela dançando tão descontraida mente quanto ela. Era Neil, mas não parecia o médico sério de sempre e sim o homem daquela noite do banho de mar ao luar. Sharon olhou para ele e riu. Neil também sorriu, como se tivesse lido o pensamento dela. Nesse momento a música terminou e começou a tocar outro ritmo... lento, sensual e romântico. — Podemos dançar? Neil estendeu os braços e Sharon aceitou sem dizer uma palavra. Em silêncio os dois começaram a dançar quase sem sair do lugar, enlevados com a música. Neil estava com o rosto bem perto e bastava um pequenomento movide Sharon para que as faces se colassem, o calor do corpo parecia dele invadir o seu, que estava rígido. Seu coração batia tão forte,agitado por estranhas emoções, que ela não ousava erguer asbras pálpe com medo de que Neil pudesse ler em seus olhos tudo oela que se esforçava para disfarçar. Pois agora sabia a verdade... sem a menor sombra de dúvida. Ela amava Neil! Um amor desesperado e sem esperança de realização, pois já estava comprometida com Terry. Ademais, Neil iria em breve anunciar seu noivado com Maria. A confusão era total em sua cabeça... sentia um aperto no çãocora e foi preciso muito esforço para não deixar transparecer no rosto o sofrimento de ter descoberto a verdade tarde demais... Quando amúsica terminou e eles se separaram Sharon precisou piscar para ter ascon lágrimas. — Obrigado — disse Neil educadamente.— Foi... um prazer.
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CAPITULO XII A inesperada descoberta de seus sentimentos deixou Sharoncamente prati cega para o que estava acontecendo na festa. Mal seguia con perceber o que se ava a sua volta, nem mesmo viu quandoTerry voltou para perto dela e notou seu ar ausente. — Ei, acorda, meu amor! — disse ele em voz alta. — Acho chegou que o grande momento. Parece que o pai de Maria vai falar. Num sobressalto, Sharon voltou à realidade e só então percebeu o conjunto que tinha parado de tocar. Ouvia-se, agora, o estourargarrafas de de champanha se abrindo, e os garçons circulavam com ban dejas cheias de taças servindo aos convidados que haviam formado um círculo em torno da família Hartley. Sharon olhou para todas aquelas pessoas elegantes sentiu a cabeça rodar. Segurou-se com tal força no braço de Terry que ele perguntou se ela estava ando bem. — Estou sim, é claro. — Parece que você está bêbada. — Ora, não seja bobo. Só tomei um copo de vinho. Ele ergueu a sobrancelha com ar de dúvida e deu de ombros. poisDe pegou duas taças de champanha da bandeja de um dos garçons e ofereceu uma a Sharon. Ela aceitou, mas estava tão tensa que não conseguiu dar um gole sequer antes do Sr. Hartley terminar queno seu discurso. pe — Senhoras e senhores... — ele começou, pomposo — ,como hoje,todos sabem, é o aniversário de minha querida filhinha e peço todos a que bebam à saúde dela. Houve um murmúrio geral e todos ergueram as taças fazendo des brin a Maria. Em seguida alguém começou a cantar "parabéns"outros e os acompanharam, menos Sharon, que sentia um aperto na gar ganta e não conseguia cantar. — Mas... — continuou o Sr. Hartley, quando acabaram de — cantar hoje não é apenas o aniversário de Maria... é também umasião oca especial que trouxe muita felicidade para minha família toda. — Ergueu a taça e terminou triunfante: — Tenho o enorme de prazer anunciar o noivado de minha filha com o famoso ator... Robert Trueman! Os convidados romperam em aplausos, enquanto Maria ria dava feliz oe braço para o ator que se aproximara dela, naquele instante, olhando-a com adoração. O pai cumprimentou a filha com um calo roso beijo e imediatamente todos se agruparam para fazer o mesmo. — Pois é... quem diria! Ela enganou direitinho as fofoqueiras hospital do — comentou Disponibilizado por Keli Cristina
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Terry.— Só queria saber o que Neil estátindo sen nesse momento, se é que ele sente alguma coisa. — É... também queria. — Ele está com a mesma cara de sempre, quer dizer, inexpressi va, mas ele não está na fila para cumprimentar a noiva. Quem sabe essa aparência calma é só pra disfarçar a dor-decotovelo! — É bem possível. Mas espero que ele não esteja magoado. — Ora, ele já tem idade pra se cuidar sozinho! — Terry esvaziou a taça e olhou em volta procurando por outra. — Quer mais cham panha? Sharon continuava como que em transe e mal percebeu quelhe Terry serviu outra taça. Não conseguia desviar o olhar do rostoNeil. de Por isso viu bem quando Maureen se aproximou dele, aflita e cochichou alguma coisa que o deixou com uma expressão de raiva. Ele respondeu algo rapidamente, depois os dois desapareceram entre poros convidados e Sharon não os viu mais. — Aposto como ele não agüentou ver o triunfo da ex-namorada — comentou Terry, quando percebeu que Neil não estava mais na festa. Sharon engoliu a resposta que lhe aflorou aos lábios instintiva mente. A alegria que sentira ao saber que não era ele o noivoMaria de tinha durado pouco. Era maravilhoso saber que Neil não estavacomprometido, que era livre, mas isso não significava que haveria esperança para ela.
Sharon nem saberia dizer como ou o resto da noite. Fez um enorme esforço para parecer que estava se divertindo. Entretanto, ficou contente quando chegou a hora de ir embora. Tudo o que queria era ir direto para casa, mas Terry, infelizmente, tinha outras idéias.
— Está uma noite maravilhosa! — ele disse olhando para o céu estrelado enquanto cam inhavam até o carro. — Vamos dar volta uma e parar em algum lugar para apreciar um pouco a noite. Estou com vontade de ficar a sós com você, depois de ter ficado no daquela meio multidão toda. Sharon suspirou e entrou no carro sem dizer nada. Como poderia dizer a Terry que não sentia a menor inspiração de ficar a sós ele comapreciando a noite, que estava arrependida do acordo que nham ti feito? Contudo, precisava dizer a ele. Tinha conseguido cumprir o enquanto acordo ela não sabia que estava amando outro homem. Tinha tando ten amar Terry. M as agora não era mais possível continuar como antes, agora sabia que não o amava. Só de lembrar o que ao sentira dançar com Neil, seu coração batia mais rápido. O melhor Terry seriaficar sabendo o quanto antes, por isso precisava contar tudo naquela mesma noite. — Vamos ear pela estrada que a pelos sítios e depois tamosvolpelo caminho da colina, beirando o mar. 81
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A estrada era escura e parecia deserta. Terry dirigia devagar curando pro um lugar para parar, quando Sharon percebeu uns faróis fortes logo adiante, no meio do caminho. — Mas que diabo é aquilo? Terry diminuiu a marcha e viu que era um policial de motocicleta bloqueando a agem. Ele fez sinal e Terry brecou o carro. — Boa-noite. Sinto muito, mas o senhor não pode ar aqui.por Pode voltar por ali... por favor. — Houve algum acidente? — Infelizmente, sim. Um jovem que dirigia feito um louco pelou atroum pedestre. — A essa hora da noite? — espantou-se Terry. — Pois é. Coitado! O homem tinha acabado de sair da casa paradele levar o cachorro para ear. Não aconteceu nada com o animal, mas o carro acertou em cheio o pobre sujeito. Sharon abriu a porta e desceu do carro. — Sou enfermeira — disse ao policial. — Posso fazer alguma para coisa ajudar?
— Bem, já chamamos a ambulância... deve chegar a qualquer momento, mas se quiser, venha dar uma olhada... — Também sou enfermeiro — disse Terry, descendo em seguida. — Um só já é suficiente, obrigado — disse o policial olhando-o com ar crítico. — O senhor espere aqui, por favor. Sharon correu para o lugar do acidente que estava iluminado faróis pelos de um carro de polícia. Perto da sarjeta havia um pequeno carro com as rodas para cima e mais adiante uma mulher ajoelhada ao lado do homem, que estava sob uns cobertores. — Ah, a senhora fez bem cobri-lo, é bom que ele fique cido. aque — Sharon ajoelhouse ao lado dela, sem ligar para o vestido novo que usava e tomou o pulso do acidentado.
— O policial falou para eu trazer as cobertas e para não mexer ferido. noEu fiz o que ele mandou — disse a mulher com voz aflita. — Ele vai ficar bom, não vai? Por favor, diga que ele não vai morrer. Sharon terminou de contar a pulsação dele e sorriu, tentando rajarenco a mulher desesperada. — Ele sofreu um choque forte... mas assim que for levado o hospital para será tratado de acordo — disse ela. — A perna dele está esquisita... ficou torta. 82
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— É provável que haja fraturas. Mas não se preocupe com Osisso. médicos cuidam de tudo, e não é tão grave. O homem parecia ter vários outros ferimentos, mas felizmente mulhera pareceu confortada com aquelas palavras. Sharon se ergueu e foi falar com o chofer do carro de polícia. — O que houve com a pessoa que estava dirigindo o carro? — Ele foi jogado para fora do carro, com a batida, mas acho não que se machucou muito. Quer dar uma olhada nele, enfermeira?aqui. Está Ele a levou até onde estava o outro acidentado, um poucoadiante, mais fora da iluminação, e Sharon ajoelhou-se de novo. O policial ficou ao lado dela e falou: — Estava dirigindo bêbado, sem dúvida. Já vamos saber,que assim ele voltar a si. — O senhor sabe quem ele é? — Não tenho a menor idéia. Acho até que esse smoking que estáele usando é alugado. Não tem nenhum documento nos bolsos. Sharon não disse nada. Ficou olhando desolada e cheia depara penao rosto lívido de Jonathan que estava inconsciente. Desmaiado, ele parecia ainda mais jovem do que era. Mas a testa estava inchada logo acima do olho direito. O que ele iria sentir quando recobrasse a razão e descobrisse tinha queatropelado um homem, ferindo-o gravemente, podendo atécausar lhe a morte? E Neil? O que sentiria? Sharon sabia que deveria dizer ao policial que tinha reconhecido motorista o do carro e dar o endereço dele. Mas as autoridades logo iriam descobrir, mesmo sem sua ajuda, e ninguém iria saber que elase calara, quando era seu dever contar o que sabia. Nesse momento ouviu a sirene anunciando a chegada da ambulância. Sharon ergueu-se. — É melhor sairmos daqui e deixarmos os homens cuidarem dele. Voltando para onde Terry estava, Sharon percebeu que ele manobra fizera no carro, estacionando-o no acostamento. — Que cara cretino esse policial, você viu? — ele resmungou. Não— quis acreditar que sou enfermeiro! Isso é bem característico mesmo... homem enfermeiro ninguém leva a sério! Preconceito idiota! — Não quer saber como foi o acidente? — É, quero sim. O que aconteceu? Ela resumiu, rapidamente, sem mencionar que quem dirigia oeracarro Jonathan, e Terry comentou com certa satisfação. — Bem feito! Quando ele acordar vai ter que enfrentar uma rada pa dura! 83
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— Mudando de assunto... — Sharon olhou-o de relance — acho que é melhor irmos embora. Já está ficando tarde e amanhã nós dois trabalhamos cedo. Vamos direto pra casa. — Está bem — concordou ele, abafando um bocejo. Quando chegaram ao prédio onde moravam, Sharon quis pedir se desrapidamente, mas ele a segurou e beijou-a com mais ardor quedode costume. — Foi uma festa bacana, não foi? Tchau. Vejo você amanhã do... quer ce dizer, daqui a algumas horas — disse ele, e foi embora.
Sharon entrou no saguão e de repente começou a pensar que deveria Neil estar preocupado esperando Jonathan chegar. Ela devia contado ter à polícia que sabia o nome do motorista que estava desmaia do na estrada! Mas não sabia por que, um forte instinto a impedira de fazer isso. Não seria melhor telefonar, agora, à delegacia? Poderia fingir só então que tinha percebido quem era o rapaz... Mas ficou indecisa. Seria horrível para Neil ser procurado por um policial que lhe diria que o irmão estava metido numa encrenca feia. Seria mais fácil ar, de além de mais rápido, se ele soubesse por outra pessoa... Sharon correu até o quarto e pegou as chaves do carro. Um depois minutojá estava a caminho da casa dele. Não planejou o que diria a Neil quando o encontrasse. Começou desconfiar que estava fazendo uma loucura, mas não podia deixar de fazê-la. Maybourne estava silenciosa, as casas todas apagadas e parecia todosquedormiam tranqüilos... até que ela chegou à casa de Neil. havia Lá uma janela iluminada no andar térreo. Sharon parou o carro, e quando desligou o motor, ouviu odolatido cachorro dentro da casa. Antes que ela chegasse ao terraço, porta a se abriu e Neil surgiu segurando o cão pela coleira. — Jonathan? É você? — ele perguntou em voz baixa. Sharon correu até a entrada e parou bruscamente diante dele. um Por instante os dois se entreolharam, depois Neil ergueu a sobrancelha com ar indagador. — Mas que diabos você está?... — Preciso falar com você, Neil. Por favor... será que possoum entrar minuto? — É claro. — Ele abriu mais a porta e deu agem a Venha ela. — para cá — disse ele, conduzindo-a para a sala que estava iluminada. — Você estava esperando Jonathan? — Era uma pergunta poistola, a resposta era óbvia, mas pelo menos foi o jeito que achou entrar de no assunto. — Estava — ele respondeu. — Não posso imaginar o que teceu acon com esse maluco irresponsável desta vez, para ele demorar tanto! Mas... por que pergunta? 84
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— Porque sei o m otivo da dem ora — ela disse e depois frases comcurtas e objetivas contou o que tinha visto. Neil escutou sem interromper, embora seu olhar fosse de mento sofrie angústia. Mesmo quando ela terminou de falar, ele continuou em silêncio por alguns instante e Sharon desviou o olhar daquele rosto amargurado. — Eu sabia que isso ia acabar acontecendo... — ele dissesecomo falasse consigo próprio. — No entanto, agora que aconteceu, chocado... estou — Com grande esforço ele se controlou. — Ainda bem que meu irmão não está muito machucado, mas o outro sujeito... Você parece achar que ele está muito ferido, não é? -— É difícil saber. Eu não o examinei... o policial é queque disse os ferimentos pareciam graves. — Meu Deus... — que enrascada! — Neil ou a mão pelos cabelos. — Preciso telefonar. Com licença, fique à vontade, Sharon. Ele saiu da sala e quando voltou parecia mais calmo, embora continuasse muito sério.
— Jonathan ainda está desacordado, mas eles acham que nenhum não há ferimento grave. Quanto à vítima, não souberam memaiores dar informações, mas senti que estão preocupados com o estado do homem... — Ele fez uma pausa e acrescentou nervoso: — Se esse homem morrer, Jonathan será processado por homicídio. E ele estava bêbado! Eu sei disso porque na festa Maureen veio me contar que ele já não estava bom, tinha bebido champanha demais. Nóstentamos impedi-lo de dirigir sozinho o carro... queríamos que fosseeleno meu, mas ele não quis ouvir. Foi embora e nos deixou lá. Num gesto impulsivo, Sharon se aproximou e colocou a mão braçono dele. — Neil... sinto muito ter acontecido isso, ainda mais agora... depois do que houve. Ele colocou a mão sobre a dela e ficaram assim por algunstes,instan ligados por um elo invisível de solidariedade e pelo calor daquele contato. — O que você quer dizer com "depois do que houve?"perguntou — ele de repente. Sharon não esperava a pergunta e ficou sem jeito. — Ora... bem... quero dizer, é que você já fez tanto por than... Jonavocê sabe. — Não acho que foi isso o que quis dizer, Sharon — elevendo-a disse enrubesceu — Por favor, diga o que estava pensando,quero eu saber. Era impossível não ceder ao apelo daquele olhar. — Todo mundo sabe que você... gosta da Maria. O noivado deve dela ter sido um golpe duro para você. — Gostaria que cada um cuidasse de sua vida e não se introme tesse na dos outros! — 85
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explodiu ele, mas logo procurou se controlar. — É verdade que andei saindo com Maria algumas vezes. Eu nheço a cohá muito tempo... ela é muito bonita e atraente e eu me envolvido, senti mas logo chegou uma hora em que precisei me questionar para saber até que ponto gostava dela e concluí que não a amava. — Não?! — Não. De repente percebi que eu não amo Maria. Além ela disso, sempre deixou claro que queria que eu abandonasse minha família e isso eu não poderia aceitar. Na verdade, eu já sabia do noivado dela antes de ser anunciado, por isso não foi nenhuma surpresa. — Ainda bem, fico contente — disse Sharon com suavidade de repente e não conseguiu mais sustentar o olhar dele e baixou pálpebras. as — Por que está contente? Por que haveria de se importaro que comeu sinto?... Se estou magoado ou não... Ela sabia muito bem a resposta, mas isso era um segredo, só nãoseu, tinha coragem de contar e tinha medo que ele percebesse a ade verdpela expressão do seu rosto. — Não gosto de ver ninguém magoado ou sofrendo — elanuma disseevasiva. — Tenho certeza que não. Você é meiga e se preocupa com pessoas. as A gente vê no seu rosto que você sofre com a infelicidade dos outros. Ele parou de falar e fez-se um enorme silêncio. Só se ouvia otaque tique-do relógio da sala e o ressonar do cachorro, deitado no tapete. Estaria sonhando ou Neil dissera mesmo aquelas palavras? Sharon precisava criar coragem de encará-lo, só assim saberia... Já não seportava im mais que ele pudesse ler em seu olhar o que ela estava sentindo.
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CAPITULO XIII Neil percebeu o apelo inconsciente dos lábios entreabertos de ronSha e inclinou-se para beijá-la. Seus lábios quentes e macios se apos saram dos dela com paixão. — Ah... meu amor! Se soubesse quantas vezes eu quis beijá-la assim! — ele disse com um tom de voz sensual. — Mesmo quando estava tão séria, de uniforme, lá na enfermaria. — Mas... mas você nunca demonstrou... Não entendo. Sempre pensei que você tivesse antipatia por mim, que me achasse uma incapaz tola, de ler até placas de trânsito! Você foi muito rude comigonaquele dia do acidente. Eu sei que... — Eu fiquei com raiva de mim por ter perdido o controle,é mas que já estava de mau humor. Tinha acabado de pagar uma conta enorme na oficina mecânica pelo conserto do carro de Jonathan...Entretanto você não me saiu mais da cabeça. Não conseguia esquecer sua imagem, ali, parada ao lado do seu carro amassado, com aquele ar de desamparo total! E quando nadamos juntos, naquela noite, euepensei que você fosse se afogar... percebi o quanto era importante para mim... tive certeza de que amava você! — Você... você me ama? — disse Sharon. — Não posso acreditar. Neil então beijou-a de novo. Um beijo prolongado e intensoprovar para o que dissera. — E você? — perguntou ele ansioso. — Será que me ama bém? tamNão posso acreditar... Sharon ficou na ponta dos pés e ou os braços em volta do pescoço dele. — Se eu posso acreditar em você, você também tem que acreditar em mim. Eu só descobri há pouco tempo, mas acho que esse amor foi crescendo dentro de mim aos poucos, em silêncio, desde aquele dia. Hoje na festa... quando dançamos... — Mas e o enfermeiro que está sempre com você? Pensei que se seu fosnamorado e... — Somos velhos amigos — ela interrompeu. — Nós nos cemos conhe desde que estávamos no curso secundário e sempre gostamos muito um do outro. — Sharon achou que devia ser sincera. — Terry queria casar comigo, mas eu acho que não sentimos amor um pelo outro. Quer dizer... eu gosto dele como amigo e acho que ele bém. tamSó que está confundindo as coisas. Por isso, achei melhor que não ficássemos noivos e que tivéssemos apenas um período de convivência, como namorados, para termos certeza do que sentíamos. Ainda bem que eu quis esperar! Ainda bem! Eu não poderia perder você, amor! — Ele sorriu. É melhor — contar a ele logo. Coitado... estou com pena. Sharon também estava, embora, no fundo, tivesse quase certeza quede Terry aria Disponibilizado por Keli Cristina
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bem o rompimento. — Acho melhor você não contar para ninguém, por enquanto, Neil, não acha? Com essa história do Jonathan e do homem atrope lado... não me parece justo nos sentirmos felizes, logo agora que está acontecendo tudo isso. — É, acho melhor... embora eu esteja louco para contar todos a e dizer que você é minha. Quando vai ser sua próxima folga, amor? — Sábado— disse ela, e imediatamente lembrou-se de que tinha combinado sair no veleiro com Terry. — Então vamos guardar o segredo até sábado... nem um mais! dia a — Ele ia dizer mais alguma coisa quando, de repente, exclamou chateado: — Ah, chega! Esqueci completamente que sábado terei que ir a Londres para uma conferência médica no Santa Mildred. Só voltarei à noite... muito tarde. Eu quero me encontrar coma sós... você, — Só se for domingo... eu saio às cinco horas do hospital. — Então vai ter que ser a essa hora, não tem outro jeito. Eu posso nãocancelar a conferência... é muito importante. Sharon balançou a cabeça, compreensiva. Sabia que ele sempre colocaria o trabalho em primeiro lugar e precisava aceitar isso. — Agora, preciso ir embora — disse ela, dirigindo-se para com a porta, determinação. Mas Neil a deteve e os dois se abraçaram de novo. Beijaram-se acariciaram-se, e saboreando o prazer da descoberta daquele encontro de sentimentos! — Já é muito tarde para você ficar dirigindo por aí, sozinha disse—Neil, quando estavam no terraço. — Vou pegar meu carro acompanhar e você até sua casa, depois posso ir ver como está Jona than. Assim, os dois carros seguiram juntos até o hospital. Lá raram se sepae Neil foi ver o irmão.
Jonathan já estava na enfermaria, mas o homem atropeladoa estava caminho da sala de cirurgia. Na sala de espera havia uma mulher, com o rosto lívido e ausente. o olhar Neil, que já se informara de tudo o que estava acontecendo, aproximou-se dela, embora a contragosto. — A senhora não prefere ir para casa e esperar lá? Eu posso vá-la, se le quiser. — Quem é você?— ela perguntou, com um olhar inexpres sivo. — Sou o médico-residente — ele hesitou mas acrescentou franqueza com — foi meu irmão quem atropelou seu marido. Eu... muito. sinto 88
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— Sente muito!— ela disse com desprezo. — E de que adianta isso, hein, me diga? Aquele rapaz estava bêbado, o homem da lância ambu me falou. Como é que dirigia um carro nesse estado? Isso não está certo!... — Concordo plenamente com a senhora, mas... — Não adianta querer desculpá-lo. Você sabe que não podedesculpa haver para o que ele fez. E se... se meu Steve morrer, pode estar certo de que vou fazer o possível e o impossível para meter seu queridoirmãozinho na cadeia! As palavras dela atingiram Neil como punhaladas, e ele baixou apenas a cabeça. — Seria melhor deixarmos a Justiça cuidar do caso — foique tudo conseguiu o dizer. Neil subiu até a enfermaria onde estava o irmão e deixou a sozinha, mulher novamente entregue à própria dor. Jonathan já tinha voltado a si, mas estava num estado de grande confusão mental. Nem sabia o que acontecera a ele. — O rapaz provavelmente estará bom amanhã de manhã —a, enfermeira disse da noite a Neil — embora precise ficar hospitalizado até se recuperar totalmente. Ele teve sorte, a pancada não foi muito forte. Neil desceu e saiu do hospital para pegar o carro, sentindo enorme uma revolta. Se não fosse por causa de Jonathan, ele poderiao ser homem mais feliz do mundo essa noite, por ter descoberto queSharon o amava. Jonathan, com a maluquice que fizera, deixara pesoum em seu coração. Contudo, se não fosse pelo acidente, Sharon não teria ido correndo à casa deles, em Maybourne, e eles não teriam revelado seus próprios sentimentos. Talvez demorasse muito ainda para que surgisse a opor tunidade de encontrá-la novamente, já que havia Terry entre Talvez eles. nem surgisse e os dois continuassem amando-se em silêncio, sem nunca realizarem esse amor, por falta de comunicação. Pensando em Terry, Neil franziu o cenho, preocupado. Egostasse se ele de Sharon mais do que ela imaginava? E se ele a amasse verdade? de Poderia, sem dúvida, criar dificuldades. Sharon, por sua vez, também estava pensando em Terry. Jádeitada, estava mas não conseguia dormir. Sentia-se feliz, preocupada, etriste alegre... tudo ao mesmo tempo. Precisava conversar com Terry o quanto antes, assim que o visse de manhã. Afinal, acabou adormecendo. Um sono leve mas recuperador. douAcor sem muita dificuldade, apesar de não ter dormido o suficiente. Logo ficou sabendo que a notícia do acidente já havia se espalhado pelo hospital inteiro. — Ah, meu Deus! Tomara que aquele homem não morra... disse— Maureen, com uma expressão séria no rosto infantil. —sabia Eu que ia acontecer alguma coisa, quando vi Jonathan sair diri gindo feito um louco, daquele jeito! Ele estava furioso porqueque detesta Neil fique 89
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controlando, ele se sente dominado... portanto, a não culpa foi só dele. Sharon não queria discutir com Maureen. — Você gosta muito de Jonathan, não é? — ela perguntou, suavidade. com — Gosto sim... — Maureen hesitou — mas a gente não pode morarnaenquanto ele não amadurecer e criar juízo. Além disso quero me formar antes de ficar noiva... — Ela olhou para Sharon, com ansiedade. — Você acha que vou conseguir? Tenho feito tinho. tudo direi Estou estudando e não sou mais desleixada. Será que consigo me formar? — É claro que consegue. Você melhorou muito! Sharon olhou-se no espelho antes de sair do vestiário e não deixar pôdede notar que seus olhos brilhavam como duas estrelas. Acidade feli estava estampada em seu rosto... achou que todos iriam notar, principalmente Terry. Mas ninguém notou diferença nenhuma nela e Sharon procurou o mais ficardistante possível de Terry, e também de Neil. Bastourápido um olhar para ele, quando Neil entrou na enfermaria, para saber que estava amargurado e aborrecido. Na hora do almoço, Sharon foi até a outra enfermaria paracomo saberestava a vítima do atropelamento. Quando soube que ele ainda estava em perigo, sentiu até remorso por estar tão feliz, pareciaum egoísmo enorme de sua parte estar naquele mundo de sonho amor. Mais e tarde, quando encontrou Terry, decidiu resolver logo situação. a — Você está ocupado agora? — ela perguntou bruscamente. Porque — se não estiver... eu quero ter uma conversa com você. Ele a olhou desconfiado, por alguns instantes, mas depois falou tom em natural: — Puxa, como você está solene! Vamos pro meu carro, adágente uma volta por aí. — Prefiro andar a pé. A noite estava fria e ventava, por isso os dois resolveramgar se abri numa construção vazia ali perto. Diante deles, o mar se estendia a perder de vista, a praia estava deserta a não ser pela presençade um pescador. O som das ondas era confortador, mas Sharon não se sentia umnem pouco assim. Seus nervos estavam tensos e à flor da pele e quando Terry chegou perto dela e tentou abraçá-la, ela reagiu com violência — Não!... Por favor. — O que há, amorzinho? — Ele retirou o braço e olhou-a olhos. nos — É melhor explicar logo. Eu não sou nenhum idiota, você está sabendo... assim que me disse que queria ter uma conversa co migo, eu deduzi que era alguma coisa importante. Os dois sentaram-se no chão e ele se preparou para ouvirlêncio, em si inclinado para a frente, com os cotovelos apoiados nos joelhos, olhando para baixo. Sharon podia ter dito apenas 90
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uma frase: "Euamo Neil e ele me ama", mas achava que Terry merecia mais que do isso, uma explicação detalhada de como acontecera a descoberta, por isso começou a contar desde o momento em que decidiu ircasa à de Neil para dar a notícia do acidente. — Neil estava chateado com o que Jonathan tinha feitobém e tam preocupado com o irmão. Eu fiquei com pena dele, entendi queo estava sentindo e quis ser solidária... bem, acho que nós doisestávamos muito emotivos e sensíveis naquele momento, daí... — Daí você se comoveu e resolveu consolá-lo. Não consigo ginarima Neil numa situação dessas! — Ele fez uma pausa, depois impaciente: disse — Bom, e daí? Continue! — Não tenho muita coisa mais pra dizer... a única coisa naquele é que momento descobrimos que nos amávamos. — M as, e Maria? — Não havia nada de sério entre eles, a não ser atração.que Acho era assim como o que acontece entre nós... Terry, que permanecia na mesma posição até aquele momento, gueu oerolhar e disse indignado. — Isso é a sua opinião! Por acaso já me perguntou o que euComo sinto? é que se atreve a reduzir meu sentimento a simples atração, a algo que não é sério? Ora, você deve estar maluca se pensa que... — Ah, Terry... — Desolada, Sharon colocou a mão no dele. braço— Sinceramente, eu nunca pensei que seu sentimento por mim fosse profundo... não pensei que me amasse de verdade... pela sua atitude... — Talvez eu não seja do tipo que demonstra os sentimentos, nheço recoque eu sou meio seco, não sei fazer declarações românticas, nem sou de grandes arroubos de paixão, mas eu gosto muito de você,Sharon! E acho que isso é o mais importante num casamento... compreensão, a a amizade... — Acontece que eu quero mais do que isso — exclamou ela, veemência, com num tom de voz mais alto. — Será que não entende? tipo Essede relacionamento que você descreve não me satisfaz. Existe coisa melhor e eu sei disso porque sinto! Ele apenas encolheu os ombros. Os dois ficaram sentados lado a lado, em silêncio, olhando um navio iluminado, que ava longe bem no mar escuro, até que sumiu de vista. Então Terry quebrou o silêncio. — Gostaria de saber desde quando você começou a sentir isso, dizer, querquando achou que estava apaixonada por Neil? Foi naquela noite, no banho de mar? — Se foi, eu não percebi. Eu não sabia que o amava, quernão dizer, tinha consciência disso até o momento em que dançamos juntos na festa de Maria... foi então que descobri... 91
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— Ah... a grande revelação! Que romântico! Pensei que coisas essas só acontecessem em fotonovelas. — Não me venha com sarcasmo, por favor! — A voz dela ligeiramente. tremia — Isso para mim é uma coisa muito séria. Significa muito! — É, estou vendo mesmo. Vocês vão se casar? — Ainda não tivemos tempo para falar nisso. Depois, nãorece me correto pa tratar desse assunto com aquele homem lá na Terapia Intensiva, morre-não-morre, e toda essa preocupação com a encrenca em que Jonathan se meteu... — Quer dizer que, em outras palavras, não existe ainda nenhum compromisso, não é? Não me parece uma situação satisfatória... Sharon enrubesceu. — Eu sei que devo ter magoado você e sinto muito por isso, nãomas acho que seja motivo para você começar com cinismos e de falarNeil desse jeito, como se ele fosse um homem sem caráter! — E acrescentou: — Tenho certeza de que ele quer se casar comigo. — Puxa, sua boa fé é comovente!— Terry fez uma pausa emeio sorriusem jeito. — Desculpe, mas não posso evitar, você deve enten der como estou me sentindo... Eu já estava certo de que íamos nos casar... estava fazendo planos para nosso futuro! Agora eude preciso algum tempo para me acostumar com a idéia de que issoacabou. tudo — Gostaria que continuássem os bons amigos. Terry fez um trejeito que mais pareceu uma careta e nãodeu, respon e só depois de alguns instantes falou de novo. — Aposto com o você não vai querer mais ear de veleiro migo, não co é? É pena... logo agora que estava pegando o jeito. Você aprendeu direitinho. Bem, sábado vou ter de sair sozinho... Vousentir sua falta no barco. — Subitamente ocorreu-lhe umaele idéia se virou e para ela, com ansiedade: — Seria maravilhoso sepudesse você ir, seria uma espécie de viagem de despedida... mas acho que Neil não vai deixar, é claro. — Ele vai ter que ir a Londres, no sábado, para uma conferência. — Sharon ficou indecisa por instantes, afinal, não podia recusar assim um últim o pedido de Terry. — Acho que ele não se im portaria seeu fosse com você. — Em todo caso é melhor você falar com ele antes. Terry parecia menos triste quando saíram da construçãonham onde seti abrigado e com eçaram a caminhar pela calçada. Quanto Sharon a parecia ter tirado um enorme peso de sua consciência. Não pre cisava mais se sentir culpada de amar outro homem em segredo. queSabia se envolvera demais com Terry, influenciada pela amizade sentia quepela família dele. Gostava muito de todos e se sentia bemcasa na dele, mas isso não era motivo para que se casasse. 92
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Estava louca para contar a Neil a conversa que tivera commas Terry. parecia que o destino estava interferindo para separá-los. Durante toda a semana, os dois não tiveram uma oportunidade sequer de ficar a sós e de conversarem assuntos particulares. Houve vários cas graves que obrigaram Neil a ficar no hospital enquanto Sharon de estava folga e de outras vezes foi ela quem precisou fazer plantões extras. Só se encontravam, rapidam ente, nos cantos dos corredores, ou no estacionamento e trocavam beijos rápidos, carícias apressadas,prestando sempre atenção para que ninguém os visse. Mal tinham tempo de conversar direito. Ou falavam d coisas gerais ou apenas tocavam superficialmente nos assuntos mais sérios. Neil só ficou sabendo que Terry já estava a par da situação e Sharon só sabia que Jonathan tinha recebido já alta e estava convalescendo em casa, num estadoprofunda de depressão. — Vão tomar a carta dele, sem dúvida — comentou—Neil e para Jonathan, ficar sem dirigir é a pior coisa que pode acontecer. E assim os dias foram ando e Sharon acabou não tendonidade oportude contar a Neil sobre o eio de barco que faria com Terry no sábado. A vítima do atropelamento continuava em estadopericlitante, absorvendo quase toda a atenção do médico e Sharon começou a se arrepender de não ter falado mais coisas naquele domingo, de não ter definido um pouco melhor sua situação com Neil e de ter sugerido que mantivessem o relacionamento em segredo. Elapensou que seria apenas por um ou dois dias, mas já arauma quase semana e ela começava a se sentir perdida, sem saber como agir. Aqueles dias pareciam uma eternidade! Na sexta-feira, à tarde, já estava começando a ficar deprimida. tava Es de folga, em casa, quando a chamaram ao telefone. — Estou de saída para pegar o trem — disse Neil — , mas podia nãoviajar sem... — Ué, mas eu pensei que a conferência fosse no sábado! — rompeu inter Sharon. — E é, mas começa às nove horas da manhã, por isso preciso para irLondres hoje mesmo. — Ele falava com pressa. — Eu só queria me despedir de você, amor, e dizer que nós não podemos continuar assim... — Eu também acho. Não o mais esta situação — eladecepcionada. disse — Foi uma semana horrível! — Pois é, e eu pretendia que fosse bem diferente! Mas eu posso nãofalar sobre isso agora... estou atrasado e essa é uma conversa para se ter com calma. Até logo, amor... e cuide-se bem, até euvoltar. Vou ficar com saudades. Quando desligou o telefone, Sharon percebeu que não tinhadoconta a ele o que iria fazer no sábado. Ela suspirou e deu de ombros. Agora, era irremediável, não tinha mais jeito. Em todo caso tinhacerteza de que Neil entenderia seus motivos para aceitar o convite de Terry e não ficaria chateado com isso.
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Sábado o tempo amanheceu bom, embora o céu estivesse encoberto e havia uma brisa agradável. Quando chegaram ao clube para pegar o barco o movimento estava grande e Terry disse, satisfeito, que final mente fizera um dia bom e propício para velejar. Ele parecia normal, como se nada houvesse mudado. Não triste parecia nem chateado e Sharon ficou contente de vê-lo assim. E quando o barco começou a ganhar velocidade ele se mostrou tão entusiasmado que não parecia alguém que estivesse sofrendo de amor não correspondido. — Será que esse barco não vai virar, não? — ela perguntou pouco umnervosa, quando uma rajada de vento mais forte fez comoque veleiro se inclinasse como ela nunca tinha visto antes. — Se virar, não tem perigo. Nós dois estamos usando os salva-vidas coletes e eu aprendi a desvirar o barco em questão de segundos. É facílimo! — Ainda bem, porque eu não saberia o que fazer — elapara olhou o mar cinzaesverdeado, ligeiramente ondulado, e sentiucalafrio. um Tinha horror de pensar que poderia ficar presa no barco embaixo d'água e rezou para que o veleiro não virasse.
O vento, esse dia, estava diferente e tinha outra direção, soprava longoaoda costa, por isso Terry sugeriu que fizessem um percurso diferente até a enseada. Assim poderiam também desfruta mais do prazerde velejar, em vez de nadar. — Está bem, você é o comandante — disse Sharon, sorrindo. Não — vamos parar em lugar nenhum para fazermos piquenique, hoje? — Ah, claro que sim, e podemos nadar também. Parecesolque vaiosair... quem sabe mais tarde.
O vento estava forte e era bem mais difícil manobrar o barco com aquela velocidade, para entrarem numa enseada e irem até praia. a Mas Terry conseguiu sair-se muito bem. Realmente o sol saiu de trás das nuvens e eles puderam se aquecer na areia terem depois de nadado. Aos poucos, depois do vento frio que tinham ado aparte maior da manhã, o calor do sol foi transmitindo ao corpo de Sharon uma sensação agradável de sonolência. Ficaram ali na areia, deitadoslado a lado, de olhos fechados, em silêncio, desfrutando odo prazer momento até que uma súbita rajada de vento frio fez comSharon que abrisse os olhos. O sol tinha desaparecido atrás de enormes nuvens pretas e oestava ventoforte e frio, mesmo ali no abrigo daquela enseada. Sharon estremeceu e sacudiu Terry, segurando-o pelo ombro. — Ei, acorde! Acho melhor voltarmos. Ele também estava com frio e os dois colocaram os agasalhos. — Você vai se encontrar com Neil, hoje à noite? Não precisa preocupar, se não vai 94
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demorar nada para voltarmos. — Não sei. Ele vai ficar em Londres até tarde. Terry não disse mais nada, pois estava com a atenção toda centrada con no barco. Estavam a uma velocidade incrível e começou espirrar a água dentro da embarcação. Num instante Sharon percebeuque tinha ficado encharcada, porém a sensação da corrida era empolgante tão que ela nem pensou mais nisso. No começo ficara com um pouco de medo, mas depois a empolgação tomou conta delacomeçou e a participar da euforia de Terry. Às vezes os dois precisavamse inclinar para fora para controlar o barco. Estavam com sapatos ciaisespe para não escorregarem. De repente Terry gritou para que ela ouvisse, por causa do barulho que o vento e o mar faziam: — Não vamos conseguir entrar no canal de chegada porVamos aqui. ter que ir mais longe para fazer a curva. Portanto, tomedado cui que pode ser um pouco perigoso! Tudo aconteceu muito de repente. Sharon olhava para Terry,siva, apreen esperando instruções sobre o que fazer, quando ouviu um estalido. forte Foi um dos cabos do mastro principal que se rompeu fazen do com que ele oscilasse, caindo com vela e tudo. No mesmo instante o barco parou, inclinou e, inevitavelmente, emborcou.
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CAPÍTULO XIV Neil não achou a conferência tão interessante quanto tinha ginado. ima O orador, embora fosse um médico experiente e de grande inteligência, não sabia se comunicar bem. E ainda por cima Neil não conseguia se concentrar, estava no mundo da lua. Nuncatado tinha es apaixonado e a novidade desse sentimento deixava-o cego todo para o resto. Antes da conferência acabar, ele já havia decidido que logo o orador que terminasse de falar iria embora correndo, e voltaria para Southaven, em vez de ficar para jantar com os amigos, como tinhaplanejado. Se tivesse sorte, ainda conseguiria chegar a tempo deuma arou duas horas com Sharon. E foi o que fez. Pegou o trem das seis horas e quarenta minutos e chegou em Southaven uma hora depois. O carro dele estava cionado esta ao lado da estação e de lá foi direto para o hospital parasaber sobre o acidentado. A enfermeira de plantão recebeu-o com um sorriso que o encheu de esperança. — Finalmente, boas notícias, doutor! O Sr. Steve Johnson começou a apresentar sinais de melhora hoje de manhã. À tarde o diagnóstico se confirmou e ele já foi retirado da Terapia Intensiva. Acho que agora vai se recuperar totalmente. — Graças a Deus! Nem preciso dizer que isso é um alívio todos paranós, não é? E meu Irmão? Já está sabendo disso? — Eu sabia que você estava em Londres por isso telefonei ele para pessoalmente. — Foi muita gentileza sua — disse Neil, com gratidão. viveu — Elenum verdadeiro inferno durante esta semana, imaginando-se processado por homicídio, pensando que poderia ter ocasionado morte a de um homem... — Posso im aginar!
Neil agradeceu-a de novo, saiu da enfermaria e desceu as escadas correndo como um colegial e foi direto para Clifftop. Não havia mais necessidade de manter segredo de sua felicidade, mesmo porque, antes de saber disso, ele e Sharon já haviam concor dado que não avam mais viver assim escondendo o que sentiam. Contudo, ficou meio sem jeito quando entrou no saguão do alojamentodas enfermeiras e olhou em redor à procura. A noite estavaventava fria e muito, portanto era bem provável que Sharon estivessecasa, em mas ele não sabia como fazer para descobrir isso. Não sabia qual era o apartamento dela e não viu ninguém por ali que pudesse informá-lo.
Subitamente descobriu um quadro na parede assinalando quem tava em es casa e quem estava fora, como o que havia no hospital, que indicava os enfermeiros que estavam de plantão Disponibilizado por Keli Cristina
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Bastou um rápido olhar para ele descobrir que ela estava fora. Desapontado,virou ele separa sair quando viu Maureen entrar correndo. — Neil! Ué, mas o que é que você está fazendo por aqui? ouviuJáa boa notícia sobre o homem do acidente? é maravilho so, não é?! — Maravilhoso! — Ele olhou para M aureen meio indeciso, acabou mas falando. — Por acaso você sabe onde está Sharon? Ela arregalou os olhos espantada e teve vontade de fazer perguntas para satisfazer a curiosidade, mas se conteve e limitou-se a responder: — Ela saiu no veleiro com Terry. Eu estava de folga hoje manhã de e vi quando os dois saíram. Neil ficou perplexo olhando para ela, mas procuroular-se. contro — Mas com esse tempo?! Acho que foi imprudência sair barco numpequeno! — À tarde fez sol e o vento não estava tão forte... Será elesque tiveram problemas para voltar quando o vento aumentou? — É bem possível — disse Neil, desolado. Maureen olhou para ele de novo, estranhando-o, depoislicença pediu dizendo que ia tomar banho e despediu-se. Antes de afastar-se, acrescentou ainda: — Dê lembranças a Jonathan e diga que estou contente por se livrar ele da cadeia. Qualquer hora a gente se vê. Neil mal ouviu. Saiu do prédio e ficou no estacionamento, parado, olhando para o carro, totalmente desconsolado. Não conseguia tender! en Na sua cabeça havia um turbilhão de pensamentos que se chocavam. Por que Sharon não tinha contado que ia sair comhoje? Terry Será que ela pensou que ele acharia ruim? Ou será quependera se arre de desmanchar o namoro com Terry? Talvez tivesse mudado de idéia... e não quisesse mais terminar o namoro... De onde estava podia ver o mar revolto, cheio de ondas e vento ouvir oassobiar. De repente esqueceu o ciúme e começou a ficar eaflito preocupado. O mar não estava bom para um pequeno veleiro...Terry devia ser maluco para não ter voltado para casa antes condições que as tivessem piorado assim! Subitamente percebeu que não podia ficar ali parado semnada. fazer Entrou no carro dirigiu depressa até o clube dos veleiros. Quan do chegou lá, percebeu que a movimentação era grande. Muita gentejá havia ancorado seus barcos e outros ainda estavam guardando galpão noos barcos menores. Havia muitas pessoas ali, andando de cá para lá, atarefadas, outrase apenas conversando. Neil aproximou-se do primeiro grupo que viu.
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— Por acaso vocês conhecem o barco de Terry W hitehead?perguntou. — ele Uma das garotas respondeu imediatamente: — É um veleiro e se chama "Sereia do M ar". — Ele ainda não voltou do mar? — É... ele ainda não voltou, não — disse a garota, depois refletir de um instante. — Puxa, ele deve estar com dificuldade de entrar ali no canal de chegada... com o mar desse jeito! Neil seguiu a direção do olhar dela e disse desolado: — Eu não conheço o barco, não saberia distingui-lo... — É fácil — explicou a garota gentilmente. — É pequeno evela temazul, a cor de anil. Como todos os outros já voltaram, se encontrar você uma mancha azul no mar é ele. Neil agradeceu e foi mais para perto da praia. Estava frioainda e elevestia o terno que tinha usado em Londres, enquanto todos por ali usavam roupas de malha, esportivas, e estavam bem agasalhados. Por isso, quando encontrou um cliente, seu conhecido, o convidou que para tomar algo no bar do clube, ele aceitou. O bar estava cheio e foi com dificuldade que eles arranjaram lugarum perto da janela, pois Neil queria ficar vigiando o mar. Mal prestava atenção ao que o outro falava. Estava com o olhar fixo fora, no mar. Estava tão concentrado em encontrar uma vela azul que percebeu nem o barco escuro, sem vela e com um possante motor, vinha que chegando. Foi seu companheiro de mesa que percebeu isso pri meiro e interrompeu o que estava falando. — Parece que alguém está em dificuldades! — Onde? — Perguntou Neil, aflito, virando a cabeça.
— Ali, atrás daquele barco de pesca — disse o outro apontando. — Estão rebocando um veleiro. — Ele se ergueu e pegou oculo binóque estava a tiracolo. — É... é isso mesmo... é um veleiro,mas está sem o mastro. O que será que aconteceu com as pessoas que estavam nele?
— Deixe-me olhar! — Neil, em pânico, quase arrancou o binóculo da mão do homem, que ficou espantado.
As mãos de Neil tremiam tanto que foi difícil focalizar e custou um pouco para localizar o barco de pesca e depois o outro. Quando, afinal, conseguiu sentiu um alívio profundo e deu graças a Deus. O veleiro estava vazio, sim, mas na lancha que o rebocavaduas haviapessoas embrulhadas com mantas. Um rapaz e uma m oça. estava Ele com o braço nos ombros dela e a moça descansava a cabeça no peito dele. Não foi difícil identificar, através do binóculo,e Terry Sharon. 98
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O barco já estava bem próximo e as pessoas que estavam noobservando clube já podiam até distinguir os rostos dos ageiros.então Foi que Sharon ergueu o rosto e olhou para Terry. Ele disse algoque a fez sorrir depois abraçou-a, puxou-a para si e beijou-a paixão. com Neil ficou olhando a cena, consternado. Então tudo aquilo que imaginado, tinha torturado pelo ciúme, era verdade! Sharon não tinha conseguido terminar o namoro com Terry e, se não tinha, era porque o amava de verdade! Afastou-se da janela e ficou de costas, mas não conseguia da afastar mente a imagem nítida de Sharon com o rosto erguido, olhando para Terry e depois o beijo. A dor que sentia era tão grande que era difícil escondê-la. — Mais uma rodada, Neil? — perguntou o cliente, olhando como desconfiasse se de alguma coisa. — Está bem . — Com muito esforço ele se controlou. — Meu aspago. esta Neil estava em pé perto do balcão do bar, quando Terry eentrou, olhou para ele assustado, como se não esperasse vê-lo por ali. Nesse momento Neil pegou os copos e voltou para a mesa perto janela. daSerá que ele estava ali quando o "Sereia do Mar" chegou rebocado? Terry ficou parado lá, tecendo considerações. Se ele estava perto da janela o tempo todo devia ter visto a cena da chegada! Mas então por que não se dirigira a ele para tomar satisfações parapelo saber menos o que tinha acontecido? irado, Terry pegou a pequena garrafa de vermute que imaginado tinha buscar e voltou para onde estava Sharon. Ela ficara no carro dele, pálida e trêmula e parecia ainda chocada tão com o acidente que ele resolveu não dizer que vira Neil lá no bar. Várias pessoas do clube o ajudaram a guardar o barco e num tante ins tudo estava terminado. Pouco depois, os dois estavam a caminho de Clifftop e Sharon disse que pretendia fazer um café para eles assim que tivesse tomado um banho quente e trocado de roupa. — Ainda bem que você tem roupas secas aqui no porta-malas ela disse. — — Só que eu não vou deixar você ir se trocar no meutamento, apar caso contrário, já viu a fofoca, não é? Terry sorriu constrangido: — Ora, não se preocupe, eu me ajeito aqui no carro mesmo. nadaPor deste mundo eu poria em risco sua reputação! Dez minutos depois, Sharon já estava pronta, já tinha feitoeoentrava café no salão do prédio com duas xícaras fumegantes na mão. Terry despejou um pouco de vermute em cada uma delas, esperou que Sharon bebesse e só depois é que contou ter visto Neil noclube. bar do Ela o ouviu horrorizada. 99
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— Mas ele me disse que só ia voltar muito tarde! O que será ele estava que fazendo lá no clube dos veleiros? — Provavelm ente foi procurar você. Sharon arregalou os olhos, desolada. — Eu não contei nada a ele... não disse que ia sair decom barcovocê... Eu bem que queria, mas nós mal tivemos temponos de encontrar e conversarmos com calma, durante essa semana! Não deu jeito de falar! Ah... meu Deus! Se eu tivesse contadoagora a ele,não teria problema... ele deve estar furioso comigo, pensando que eu o enganei... quer dizer, se ele viu a gente, como você estápensando que ele viu. — Só pode ter visto, caso contrário não teria me olhado daquele jeito! — Terry olhou para o rosto preocupado de Sharon. — Achei que devia contar isso a você assim... bem... você já fica prevenida. Ela estava chateada e preocupada demais para responder.em Ficou silêncio e pouco depois Terry foi embora. Sharon despediu-secomo dele um autômato e assim que ele saiu ficou pensando o que poderia fazer e resolveu telefonar para a casa de Neil. Talvez ele já tivesse chegado... Mas foi a mãe dele quem atendeu e disse que o filho estava Londres. em Pediu para deixar recado mas Sharon não soube o que dizer, apenas agradeceu e desligou. Duas horas depois, Sharon ainda estava angustiada, esperando ele aparecesse que ou telefonasse, e afinal acabou decidindo ir para cama. a Sentia-se a mulher mais infeliz do mundo.
O dia seguinte amanheceu bonito e ensolarado o que diminuía pouco uma depressão e Sharon foi trabalhar acalentando a esperança encontrar de Neil aquela noite, conforme haviam combinado. Sabia que ele não iria à enfermaria durante o dia, pois não havia nenhum cientepaem estado grave. Concentrou-se o máximo em seu trabalho e isso ajudou-a a não pensar em seu infortúnio. Às cinco horas ela terminou o plantão e foi para casa, esperando encontrar algum recado de Neil na portaria, m as não havia A nada. rrum ou-se e ficou sentada no salão esperando por ele, am argurada, m as N eil não apareceu nem telefonou. O fato dele não ter ido ao encontro m arcado e nem ternicado se comcom u ela era prova m ais do que suficiente de que Terry tinha razão ao achar que N eil vira a chegada dele clube. M as Sharon não podia ar a idéia de não ter certeza do que estava cendo. aconte Não conseguia mais agüentar aquele suspense, por isso veuresol telefonar de novo. — A lô, aqui é N eil — atendeu ele. — Sou eu... Sharon. Tentei falar com você ontem àmnoite... as você não estava em 100
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casa. — Estava no clube dos veleiros — ele disse ríspido. — É, eu sei... é por isso que estou telefonando. Você disse só ia que voltar muito tarde de Londres... — Resolvi voltar antes e tom ei o trem m ais cedo — ele semdisse, acrescentar que tinha feito isso por estar com saudade dela m orrendo e de vontade de vê-la. — A h, sei. — Sharon fez um a pausa, m as logo resolveunovo. falarNão de podia deixar as coisas sem explicação. Só que era difícil com eçar. — Você sabia que eu tinha saído de barco? — N ão. Só fiquei sabendo quando cheguei aí e M aureen tou. m Realm e con ente, foi um a surpresa desagradável, porque você nãomtinha e dito nada. N ão sei por que escondeu isso de m im !
— Eu não escondi, N eil. Eu queria contar... juro que queria, m as bem ... não hou oportunidade, nós m al pudemos conversar durante a sem ana. Você deve estar pensando que eu quis enganá-lo, que fiz de propósito... — Fiquei m uito chateado quando soube, m as depois quando quepercebi o tem po estava ruim para sair de barco aí fiquei preocupado você, comcom o perigo que estava correndo. Até então Neil se mantivera controlado, falando num tom friodee voz im pessoal, m as de repente ele m udou e deixou que as emtom oções assem conta dele.
— O lha aqui, Sharon, agora eu já entendi. É claro que o que entrehouve nós há uma semana não significou nada para você! Você desistiu de dar o fora em Terry! Ou será que vai qu ficar com nós dois ao mesmo tempo, hein? Se for esse o caso, pode ficar sabendo não vou que tolerar essa situação. É melhor dar por encerrado o quecom houve a gente e esquecermos. — Neil!... Por favor, você sabe que eu jamais pensaria em uma fazer coisa dessas! — Ela estava chocada e com a voz trêmula como se fosse chorar. — Eu disse que amava você e é verdade. Juro que é verdade! Eu amo você, Neil... por favor, ah, por favor, compreender... tente — Ser compreensivo é uma coisa, mas eu não sou idiota!retrucou, — Ele furioso. — O que você está pensando? Então vocême nãodiz nada, a o dia todo com um homem de quem você já disse que gostava, depois abraça-o e beija-o diante do clube inteiro... e ainda e... quer que eu compreenda e acredite que você me ama?!Qual Ora!é. hein? Não gosto de bancar o idiota! — M as, Neil, eu... — ela começou, mas interrompeu assim ele bateu que o telefone encerrando bruscamente a conversa. Será que era melhor ligar de novo? Não tinha coragem... Quando virou para trás viu que havia uma pequena fila de três enfermeiras esperando a vez para telefonar. Ela saiu correndo para não chorarna frente delas e quando chegou no apartamento atirou-se na soluçando. cama 101
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Esta deveria ser a noite mais feliz de sua vida e em vezestava dissosendo a pior, a mais infeliz e mais difícil de ar. Lá estava ela, sozinha, vendo ruir seus mais belos sonhos e esperanças. Ficou deitada umas duas horas e chorou até não poder mais. olhosOsficaram inchados e vermelhos e ela resolveu lavá-los comfria água para melhorar um pouco. Depois achou que seria melhor andar para espairecer a mente e saiu sem fazer alarde. A calçada estava cheia de gente alegre, eando, e ouvia-se o som de música vinha que de algum bar, mas ela parecia ignorar tudo isso. Apenas andou até se cansar.
Quando voltou ao alojamento das enfermeiras, estava maise calma já havia tomado uma decisão, embora sentisse o coração partido. Assim que a srta. Anderson voltasse de férias, Sharon iria falar com ela e pediria a transferência de volta para o Santa Mildred. Seria inventar fácil a desculpa de que preferia morar em Londres e, embora demorasse um pouco, sabia que seria atendida. Enquanto isso, precisava ser forte para enfrentar da melhorpossível forma os dias terríveis que teria pela frente, porque a dor era quase inável. Neil mal falava com ela, só quando era extremamentenecessário, e mesm o assim nunca olhava para ela. Para os outros não havia diferença nenhuma na atitude dele, ninguém sabia nada. de Só Sharon sabia que ele a estava tratando com indiferençaisso e quase a matava de desgosto. Era terrível pensar que nunca elemais olharia para ela com aquele brilho no olhar como já fizera vez... umanunca mais a beijaria com o ardor daquela noite, jamais sentiria ela de novo aqueles lábios quentes e macios que ela tanto amava, nem as carícias daquelas mãos firmes e delicadas sobre suaAh! pele... Era um tormento infernal vê-lo ali tão perto, tão querido, senti-lo e inível perdido para sempre! Não havia uma leve esperança sequer que lhe desse alento. Terry começou a se preocupar com o com portam ento retraído solitárioe de Sharon, com o ar abatido e as olheiras dela, maspodia não fazer nada para ajudar. Por ele ter sido o motivo da briga com Neil, Sharon não podia mais ar a companhia delesaíam e nãomais juntos quando estavam de folga. Ela se esquivava Terry de o máximo possível. — Deixe-me ir falar com Neil... posso explicar tudo a disse ele —Terry, preocupado, um dia em que estavam no refeitório,mesma na mesa. — Eu digo a ele que a culpa foi minha... que euconvenci você a não contar a ele sobre nosso eio de barco... — Não adianta, Terry, ele não vai acreditar em você. Em caso, todo obrigada, por querer ajudar... — Posso explicar a ele como o barco virou, como ficamos água lá na um tempão até que nos achassem, o mar revolto, o vento, nervosismo o que amos... a tensão... e depois, quem sabe, eleentenda que aquele beijo que trocamos, e que ele viu, não foi um beijo de amor, foi uma coisa que aconteceu simplesmente porque estávamos emocionados por termos sido salvos e demos graças Deus a por estarmos vivos quando vimos que o clube já estava perto! — Sharon balançou a cabeça, desanimada. 102
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— É inútil... ele sabe que você e eu temos um relacionamento antigo, que nos conhecemos desde crianças, e ele acredita plenamente que eu amo você mais do que imagino. Eu contei a ele tudo sobre nós. Terry ergueu a sobrancelha com ar interrogativo e esperançoso. — E por acaso isso não seria verdade? — Infelizmente, não. — Ela sorriu com tristeza. — Sinto muito... — Tudo bem, eu sobreviverei! — ele brincou tentando alegrá-la. Pobre Terry, ele também estava sofrendo, magoado por ter abandonado. sido Mas superaria logo, e depois que ela tivesse voltadoLondres para Terry a esqueceria e acabaria encontrando outra garota que o fizesse feliz e que o amasse de verdade. Enquanto esperava a srta. Anderson voltar das férias, parasuapedir transferência, Sharon procurava não pensar no futuro nem lembrar o ado. Adquiriu o hábito de fazer longos eios solitários, apé, para fugir dos amigos, até mesmo de Lesley. Procuravadespercebida ar entre os bandos de veranistas. Um dia, depois de um desses eios, estava voltando para no casa fim da tarde, quando percebeu um agrupamento de pessoas em volta de um homem estirado num dos banco perto da praia. Imedia tamente ela se aproximou para ver se podia ser útil, afinal era uma enfermeira e podia perfeitamente prestar primeiros-socorros em de casos emergência. — Desculpe, com licença... sou enfermeira... — ela ia dizendo, enquanto abria caminho entre o amontoado de pessoas. Quando afinal conseguiu ar por todos, parou num sobressalto e quase gritou horrorizada. No banco estava um homem de meia-idade, com cabelos castanhos grisalhos. Ele estava respirando com grande dificuldade, a pele estava acinzentada e os lábios arroxeados, tudo indicava se tratar de umataque cardíaco. Apesar das feições distorcidas pelo sofrimentoelafísico, o reconheceu imediatamente. — Papai! — Sharon correu para ele e segurou-lhe o pulso. Não — sabia que você estava em Southaven... por que não me avisou que viria? — Ela parou de falar e começou a contar a pulsação. — Ele caiu na calçada — disse uma mulher, com jeito maternal que estava ali perto. — Não podíamos deixá-lo caído no chão... não seria melhor alguém telefonar, chamando uma ambulância? — Ê sim, por favor. Digam que é urgente — pediu ela, terminando de contar a pulsação. Pareceu demorar uma eternidade até que a ambulância chegou, embora tivesse levado 103
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apenas alguns minutos. Enquanto isso, Sharon ficou sentada, amparando o pai que parecia meio inconsciente, e não conseguia respirar direito. Ela nem sabia dizer se ele percebia aque própria era filha que estava ao seu lado. Porém, mais tarde, quando chegaram à unidade cardiológica e Sharon notou que ele estava segu rando a mão dela, achou que devia estar sabendo quem ela era. Então, subitamente, lembrou-se que estava na hora de seu eplantão ainda nem tinha vestido o uniforme. Em poucas palavras explicou a situação para uma das enfermeiras daquela ala. — Logo seu pai estará na sua enfermaria, se recuperando. fiqueNão aflita — ela sorriu, solidária. Realmente, pouco depois de Sharon ter iniciado o plantão, delao pai foi levado para lá. Já estava bem melhor, embora ainda estivesse um pouco pálido e atordoado. M as estava consciente e falou com filha a em voz baixa, como se estivesse cansado. Explicou que pretendia fazer uma surpresa a ela, por isso não a tinha avisado de sua chegada. — Puxa, e que surpresa, papai! Espero que nunca mais meoutra invente desse tipo... nunca mais, ouviu? — ela disse carinhosa cupada. e preo Estava em pé, ao lado da cama do pai, quando ouviu aenfermeira-chefe voz da que vinha entrando. — Pronto, aqui está o médico para examiná-lo... Neil! Era ele! Que bom ele ter vindo tão depressa. Sharon esperando, ficou aflita e emocionada, enquanto ele examinava seu pai.como Neil, sempre, estava calmo e gentil. Ele inspirava confiança só pelo jeito de tratar o paciente. Sharon não ergueu a cabeça enquanto não Neil terminou o exam e. Então seus olhares se encontraram,expressão mas a do olhar dele era inescrutável e ela não entendeu odizia. que Sharon precisava saber qual era o diagnóstico... Não podiapara esperar perguntar depois à enfermeira-chefe! Por isso, quando Neil embora foi saiu atrás dele, mesmo sem pedir permissão à superiora alcançou-o e no topo da escada. — Por favor... — a voz dela fez com que ele parasse e sese — viras por favor, diga-me a verdade sobre meu pai. O estado dele grave? é O coração dele está muito mal? — Não. Foi m ais um am eaço do que um ataque grave, mservir as deve de aviso para que ele se trate. Se fizer um tratamento adequado, e seguir as indicações médicas, não terá mais problemas e poderá viver normalmente. Aliás, se ele tivesse procurado um médicotempo, há mais isso nem teria acontecido. Não será preciso ficar muitonotempo hospital, logo poderá sair e aproveitar as férias como pretendia... mas sem excessos! — Ele fez uma pausa e depois acrescentou num tom mais suave e nada profissional: — Está satisfeita? — Ah. claro que sim ... — e Sharon, que andava muito suscetível ultimamente, não pôde evitar as lágrimas que lhe inundaram os olhos. — Oh, obrigada, Neil... eu lhe agradeço muito... 104
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Os dois ficaram parados no topo da escada, olhando-se nostotalmente olhos, esquecidos do mundo ao redor, por alguns instantes. pois DeNeil olhou para os lados. Não havia ninguém no corredor... Paraespanto de Sharon ele segurou-a pelas mãos e levou-a para um canto escondido atrás de um armário ali perto. Em seguida puxou-asi para e estreitou-a num abraço cheio de calor. — Ah... Sharon querida... não posso ver você chorar! —apertou Ele a de leve contra seu corpo. — Seu pai vai ficar bom... estou falando a verdade, acredite em mim. — Não estou chorando por causa de papai. — Ela ergueu banhado o rosto de lágrimas e olhou para ele. — Será que você não entende, Neil? É por causa da gente... nós... você e eu! Ah... estou tão infeliz e... e... — ela soluçou baixinho e encostou o rosto nodele. peito— Ah, meu Deus, estou molhando toda a gola do seu avental...
— Ora, o avental não tem a menor importância agora! Sharon, por favor... eu preciso saber a verdade. Pensei que você estivesse cheia de mim com esse meu gênio horrível e essa falta de jeito... pensei até que tivesse voltado para Terry. E comecei a acreditar que o que houve entre nós aquela noite tinha sido uma loucura demento. mo — Para mim não foi — ela disse com voz calma e firme. —fui Nunca tão sincera em toda minha vida como naquela noite!... e espero que você também tenha sido. — Mas é claro que fui! Tudo o que fiz e disse foi de coração. Realmente, estava sentindo aquilo tudo... e ainda sinto! — Então, por que não aceitou m inha explicação sobre o eu fatoterdesaído de barco com Terry e não ter dito nada a você antes? Você nem me deixou explicar o que houve... — Porque eu sou um imbecil... eu perco a calm a quando tecem aconcoisas assim, não consigo me controlar! Estava morrendociúmes. de Ah, Sharon, meu amor... será que pode me perdoar? Vocêquer mesmo casar comigo? Será que está preparada para aturar meuesse gênio desgraçado, o meu trabalho sem horário e... e Jonathan, e tudo o mais? Sharon sorriu, e os olhos que há pouco estavam cheios de lágrimas, agora estavam límpidos, brilhando de felicidade. — Isso é o que eu mais quero neste mundo, Neil... ter quevocê aturartodos os dias!— Ela riu de felicidade. E ali, naquele cantinho escondido do corredor, os dois finalmente apagaram as mágoas e ressentimentos ados, prometendo começar tudo de novo, sem mal-entendidos e com total compreensão mútua. Depois selaram a promessa e as juras de amor com um longo beijo que deu a eles a certeza de que tinham mesmo nascido um para o outro. FIM 128
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BIANCA 7 O PODER DA RENÚNCIA Dorothy Cork Após o rompimento com Paul, agora envolvido com sua prima Jan, Ellis reformulou os seus planos de vida: deixou a casa do tio, onde morava, e foi trabalhar para Steve Gascoyne, ex-noivo de Jan, um fazendeiro que vivia na Austrália. Já que ambos enfrentavam uma separação, Ellis imaginou que eles poderiam se ajudar mutuamente. Os trabalhos na fazenda aproximaram os dois e Ellis se surpreendeu um dia apaixonada, por Steve. Mas ele, entretanto, não era fácil, pois não só desconfiava das mulheres como aprendera a despreza-las. Que chances poderia ter Ellis de se casar e ser feliz?
Disponibilizado por Keli Cristina
Digitalizado e Revisado por: Nξlm∆
Um romance espetacular nesta edição:
BIANCA 8
ENTRE DOIS AMORES
Juliet Shore
Cristina partiu para Kampili, na África, para se casar com seu noivo, Martim. Mas foi forçada a interromper a viagem e se hospedar na casa de Dominic, médico de Ugadu, durante os três meses que duram as chuvas torrenciais na África Equatorial. Nesse meio tempo, ela, que também era médica, ficou ajudando Dominic no hospital e a convivência com aquele homem tão sedutor fez com que Cristina sentisse uma forte atração sexual por ele. Foi aí que um verdadeiro inferno começou para a moça pois não sabia se decidir entre seus dois amores. Qual deles seria o homem que satisfaria os seus desejos mais secretos?
Disponibilizado por Keli Cristina
Digitalizado e Revisado por: Nξlm∆