ESTUDO DAS CURVAS TTT Profa. Fernanda Bordin MAM 0413
Os diagramas de fase são representativos das condições ideais de resfriamento, ou seja, de equilíbrio termodinâmico. Entretanto, na prática a condição ideal de equilíbrio do resfriamento lento, que determina a formação da microestrutura, nem sempre é mantida. Por razões econômicas, na prática existe pressa em realizar o resfriamento, e ao mesmo tempo garantir o tipo de microestrutura desejado. O tempo então se torna um importante fator. A relação entre a temperatura e o tempo (história) do resfriamento para obter determinada microestrutura é o que se denomina tratamento térmico. A base para o estudo dos tratamentos térmicos é a cinética. Introduz-se uma importante variável, o tempo, que permitirá a construção de um novo tipo de diagrama, denominado TTT (Temperatura, Tempo, Transformação). O diagrama TTT é similar ao diagrama de fase, e permite mapear transformações de difusão de estado sólido (dependentes de tempo) e transformações rápidas, que ocorrem por outros mecanismos (independentes de tempo). O gráfico representativo do diagrama TTT é também conhecido como diagrama de transformação isotérmico. Esta denominação deve-se ao tipo de resfriamento que o mesmo representa:A partir da temperatura eutetoide, resfria-se rapidamente o material até uma determinada temperatura e mantem-se esta constante até que ocorra a transformação da austenita (como visto nos diagramas de equilíbrio, a austenita é instável abaixo da temperatura eutetoide). Assim a transformação da austenita ocorre isotermicamente. A figura abaixo mostra que a evolução da transformação pode ser representada por uma família de curvas, que indicam o percentual de transformação ao longo do tempo.
A seguir mostram-se as transformações difusionais e as transformações sem difusão, muito importantes para os aços, já que inferem diretamente sobre a microestrutura resultante. Transformações Difusionais Referem-se às transformações com mudança de estrutura devidas à migração de átomos por grandes percursos. O diagrama TTT para uma composição específica (Fe com 0,07% de peso em C) é mostrado na figura a seguir: a perlita não é a única estrutura resultante do esfriamento da austenita. A morfologia da perlita é diferente dependendo da temperatura de transformação. Resfriamentos próximos à temperatura eutetoide (de austenitização) levam à formação de perlita de maior tamanho de grão e com lamelas (das fases ferrita e cementita) de maior espessura (perlita grossa). Quanto menor é a temperatura de transformação, menor é o tamanho de grão da perlita e menor é a espessura de lamela. A razão para tal é que são verificadas baixas taxas de nucleação e altas taxas de difusão próximas a temperatura eutetoide, o que resulta em estruturas relativamente grosseiras. Ao reduzir-se a temperatura de transformação, aumenta-se gradativamente a taxa de nucleação e reduz-se a taxa de difusão, resultando em estruturas mais refinadas.
Veja as morfologias e correspondentes temperaturas na figura.
Microestrutura da Perlita Grossa (esquerda) e Fina (centro) Microestrutura da Bainita contendo finíssimas agulhas das fases do Fe( a direita) Portanto: Quando baixamos a temperatura abaixo da temperatura crítica de um aço eutetóide que estava completamente austenítico há maior velocidade de formação da perlita (1o momento) Austenita acima da T crítica estável. Mas com um Rápido resfriamento austenita torna-se instável. Esta austenita possui energia adicional que deve ser liberada através da formação de produtos mais estáveis, como a ferrita e cementita (perlita). Na verdade,a alotropia do ferro é que comanda esta transformação. Transformação difusão é necessária, a qual depende do tempo e temperatura! TS próximas ao ponto eutetóide menor velocidade de transformação. Existe uma Força motriz para a transformação, ou seja uma quantidade de energia livre, a qual é função da diferença de temperatura entre a T eutetóide (T de estabilidade da austenita) e a T de transformação. Isto representa o quanto a austenita está instável! Agora (2o momento) quando a temperatura for muito baixa, a difusão será menos intensa e a velocidade de transformação irá diminuir! Formação do cotovelo da curva. T de transformação baixa mais núcleos sendo formados, mas não crescem muito porque a difusão não é muito intensa. Como resultado, teremos um menor espaçamento entre as lamelas da perlita e ela será considerada perlita fina estruturas mais finas são mais resistentes e tenazes. (Compare o processo de fundição em areia e em coquilha). T de transformação alta perlita grosseira. Nesta situação, poucos núcleos surgem, mas crescem com grande velocidade porque a difusão é alta. Na figua a velocidade de crescimento da perlita em função da temperatura de reação em uma liga ferro-carbono de composição eutetóide.
Reação bainítica: O que acontece quando a T de transformação está abaixo de 500 oC.? Nestas temperaturas, a difusão é bem menos intensa.Esta reação também depende da difusão de átomos de carbono, de forma que é dependente da T e do tempo de transformação.Visto que a temperaturas abaixo de 500 oC a difusão é baixa, a difusão dos átomos de C fica prejudicada, de forma que não forma-se uma rede contínua de cementita. A bainita é, portanto, possui uma microestrutura composta de carbonetos e ferro finamente dispersos sobre uma matriz praticamente isenta de carbono que é a ferrita. Cada placa de bainita é composta por um certo volume de ferrita onde estão incrustadas partículas de carboneto.
Diferença entre os mecanismos de formação da perlita e da bainita. A dificuldade de difusão do carbono faz com que os carbonetos fiquem dispersos na bainita. Bainita superior Bainita inferior
~ 450oC o carboneto é a cementita (ortorrômbico com 6,7% C)> ~250oC o carboneto é o Epsilon (hexagonal com 8,4%C). Esta bainita é mais dura!
Transformações sem difusão (martensíticas) A transformação perlítica descrita acima é de natureza difusional. O diagrama TTT mostrado não dá nenhuma informação abaixo de 250 ºC. Na figura abaixo pode-se ver que ocorre um processo diferente em baixas temperaturas.
Duas linhas horizontais foram adicionadas para representar a ocorrência de um processo sem difusão, conhecido como transformação martensítica. O termo se refere a uma família ampla de transformações sem difusão em metais e não metais. É sempre possível evitar a difusão através do resfriamento rápido da austenita. O preço desta operação é que a austenita permanece instável permitindo a formação de martensita, num processo que gera uma característica fragilidade ao produto final.
Microestrutura da Martensita mostrando estrutura de agulhas
Transformações mistas O diagrama TTT indica ainda uma nova fase: bainita. Na faixa de temperaturas onde ocorre, a difusão do carbono (intersticial) é significativa, no entanto a difusão do ferro (substitucional) é praticamente nula. Tem-se assim uma transformação mista – difusional quanto ao carbono e martensítica quanto ao ferro. O resultado é uma microestrutura de aspecto bastante similar ao da martensita, porém sem a fragilização inerente a esta. Agora para temperaturas próximas a 200oC resfriamento rápido não há tempo para a difusão do carbono e este permanece em solução sólida. - O parâmetro de rede (a) da estrutura CFC é maior - Diâmetro dos maiores interstícios:CFC – 0,104nm; CCC – 0,072nm, Diâmetro do C – 0,154nm Rápido resfriamento Supersaturação em carbono distorção do reticulado cristalino formação da estrutura cristalina tetragonal de corpo centrado grande aumento de resistência mecânica. - O aumento de dureza ocorre porque a estrutura está com muitas tensões internas e supersaturada em carbono, impedindo o movimento de discordâncias. A dureza depende do teor de carbono. Aços com baixo carbono não poderão ser endurecidos por transformação martensíticas (mínimo=0,3% e dureza máxima ocorre para 0,6%). A reação martensítica é adifusional.
Transformação martensítica.
Estrutura martensítica. Agulhas bem delineadas sobre um fundo de austenita retida. Diagrama Isotérmico: A Figura 5 apresenta o diagrama isotérmico completo de um aço eutetóide.
Figura 1 - Diagrama completo de transformação isotérmica para um aço eutetóide. O diagrama Isotérmico descreve as reações que ocorrem nas temperaturas em que a austenita está instável. As curvas indicadas na Figura 5 representam o início e o final de trasformação. Características do digrama: - Formação de um joelho ou cotovelo na temperatura de aproximadamente 500 oC.
Próximo a 200oC existe uma isoterma que representa o início de transformação martensítica (M S). Para a transformação martensítica, não existe difusão de forma que esta só depende da temperatura (transformação adifusional). Resfriamento do aço e manutenção a uma temperatura fixa: A Figura 6 mostra o diagrama Isotérmico de um aço eutetóide que foi completamente austenitizado e resfriado até a temperatura em que se deseja estudar a transformação. -
Trajetórias arbitrárias temperatura-tempo sobre o diagrama de transformação isotérmica. Rápido resfriamento até 160oC e manutenção da T por 10s. Nesta T, apenas metade da austenita transforma-se em martensita. Microestrutura final é composta por 50% de martensita e 50% de austenita. b. Curva 2 Resfriamento rápido até 250oC e manutenção da T por 100s, com subseqüente resfriamento até a T ambiente. Microestrutura final é composta por 100% de martensita. c. Curva 3 Resfriamento rápido até 300oC e manutenção da T por 500s, com subseqüente resfriamento até a T ambiente. Microestrutura final é composta por 50% de bainita e 50% de martensita. d. Curva 4 Resfriamento rápido até 600oC e manutenção da T por 10.000s, com subseqüente resfriamento até a T ambiente. Microestrutura final é composta por perlita. O resfriamento subseqüente não mudará nada, independente da velocidade de resfriamento adotada. Diagrama de resfriamento contínuo: Os diagramas isotérmicos foram construídos a partir de um rápido resfriamento seguido de uma estabilização da T por um tempo que permitisse a completa transformação do aço. Observa-se a formação de microestruturas homogêneas, isto é, 100 de uma determinada microestrutura para toda a seção do corpo de prova. Contudo, para a maioria das situações, a transformação do aço não ocorre a uma T constante, mas sim através de uma variação contínua da T. A T decresce continuamente desde a T de austenitização até a T ambiente.Assim, precisamos dos Diagramas de resfriamento contínuo. As transformações nestes diagramas são semelhantes àquelas que ocorrem nos digramas TTT, mas existem algumas modificações pelo fato da T estar variando continuamente a. Curva 1
Influência do tamanho de grão e dos elementos de liga nos diagramas isotérmicos (temperabilidade): Quanto Maior o grão mais para a direita está o cotovelo (maior tempo para o início da transformação).Isto ocorre porque quanto maior é o grão, menor a área de contorno de grão e, portanto, menor a área de sítios preferenciais de nucleação de novas fases, atrasando as transformações. Elementos de liga: Todos os elementos, menos o cobalto, dificultam a difusão dos átomos, deslocando para a direita o cotovelo das curvas de transformação. Assim, as reações são retardadas e as temperaturas de transformação decrescem, inclusive MS. O carbono é o principal elemento, podendo colocar M S abaixo da temperatura ambiente (formação de austenita retida). Temperabilidade:Susceptibilidade de endurecimento por um rápido resfriamento. Capacidade de um aço transformar-se total ou parcialmente de austenita para martensita. Quando se avalia a temperabilidade de um aço, investiga-se a possibilidade do aço eliminar as reações que são dependentes de difusão como a reação perlítica (eutetóide) e bainítica. Dureza formação de martensita é dependente do diâmetro que afeta a velocidade de resfriamento. Elementos de liga efeito deseja-se ter dureza para componentes de grandes seções. Assim, estes elementos aumentam o tempo para a decomposição da austenita. Na temperabilidade, deve-se também observar-se a variação de dureza ao longo da peça, bem como ao longo de seções idênticas fabricadas com aços de diferentes composições. Fatores que afetam a distribuição de dureza: Experimento Várias barras de diâmetros diferentes são austenitizados e resfriados rapidamente, fazendo-se medições de dureza ao longo do diâmetro das barras figuras 1 e 2 a seguir. A adição dos elementos de liga retardam a difusão e, portanto, as reações que dependem desta. Assim, a temperabilidade do material é maior (menor variação de dureza), ou seja, mais tempo para o material se transformar em martensita. Lembrar também do efeito do meio de resfriamento, o qual afeta a velocidade de resfriamento.
Aços 1045 e 6140 (0,6-0,95%Cr, 0,1-0,15%V, 0,4%C).
Figura 2 - Perfis de dureza em barras de aço Figura 3 - Perfis de dureza em barras de aço SAE 1045 SAE 1045 e 6140 temperadas em água. e 6140 temperadas em óleo.
Quedas menos acentuadas de dureza, ao longo da seção da barra, para o aço 6140, devido ao efeito dos elementos de lega. Este efeito é importante quando deseja-se manter uma dureza alta-média para barras de grande diâmetro.
Responder: 1. 2. 3. 4. 5.
O que é difusão? Como a difusão afeta a morfologia da perlita? Descreva a formação da bainita. Ela é difusional ou não? Justifique Porque a transformação da martensita é adifusional? Como o diâmetro pode afetar o resfriamento e a temperabilidade de uma peça de determinado material? 6. Como os elementos de liga afetam a posição das curvas TTT e a temperabilidade de um material?